Dérbi da Luz: águia enfraquecida enfrenta rei leão

O dérbi entre Benfica e Sporting, em atraso da 13.ª jornada da 1.ª fase do Campeonato Nacional Andebol 1, no Pavilhão n.º 2 da Luz, opõe equipas em momentos fortes da temporada, mas com realidades bem distintas, num contexto competitivo em que a vitória das águias não deveria ser tida por menos do que uma proeza.

O Sporting apresenta-se claramente como favorito à vitória. Bicampeão nacional e vencedor das quatro últimas edições da Taça de Portugal, tem exercido um domínio esmagador nas lides internas da modalidade, que se espelha no historial recente dos dérbis. Nos últimos 14 jogos entre as duas equipas, os leões venceram 13, incluindo os quatro mais recentes, sendo que o último triunfo encarnado data de 9 de dezembro de 2024 (38-34), também na Luz.

Na atual edição do campeonato, o Sporting lidera a fase regular com um percurso 100% vitorioso: 16 vitórias em 16 jogos e 48 pontos somados. O Benfica segue na perseguição, com 44 pontos, fruto de 13 vitórias, dois empates e apenas uma derrota, estando também atrás do FC Porto, segundo classificado com 48 pontos, mas mais um jogo realizado.

Em casa, o Benfica apresenta um registo irrepreensível nas competições nacionais esta temporada, com oito vitórias em oito jogos na Luz, ainda sem ter recebido FC Porto e Sporting. Contudo, a memória mais recente de um dérbi no pavilhão encarnado não é favorável às águias: em 3 de maio, os leões venceram por 29-37, reforçando a superioridade nos confrontos diretos.

Do lado sportinguista, a solidez interna contrasta apenas com os tropeços fora de Alvalade na Liga dos Campeões, onde soma derrotas frente a Aalborg, Fuchse Berlim e Veszprem. Em Portugal, a única deslocação recente a um rival direto resultou numa vitória expressiva no Dragão Arena, diante do FC Porto, por 36-32, reforçando a confiança com que o grupo orientado por Ricardo Costa se apresenta na Luz.

O treinador do Benfica, Jota González, assume o peso do favoritismo leonino, mas aponta o fator casa como trunfo. «Temos o fator casa, que sempre é importante. Jogamos contra uma equipa que é a mais forte atualmente em Portugal, que tem jogadores incríveis e que tem vencido todos os jogos nas competições nacionais e está a competir muito bem na Champions», afirmou o técnico espanhol aos meios do clube. 

As muitas ausências por lesão condicionam, porém, o plano encarnado. «O nosso maior problema são as muitas baixas, temos muitos jogadores lesionados e não vamos poder imprimir o nosso ritmo de jogo. Por isso, temos de saber controlar, não ter perdas de bola, e que cada jogador dê o máximo. Vai ser difícil, mas nunca se sabe. Tentaremos dar o máximo e ganhar», sublinhou Jota González, realçando a necessidade de rigor e controlo de erro.

Para o capitão do Benfica, Bélone Moreira, as limitações do plantel abrem espaço a novas soluções. «Os jogadores lesionados são oportunidades para outros, como costumo dizer. É um jogo difícil, uma equipa que está a fazer uma boa prestação na Liga dos Campeões», destacou, encarando o dérbi como um palco de afirmação.

O primeiro responsável dentro de campo insiste na importância da disciplina e da preparação. «Preparámos bem este jogo, não vai haver surpresas. Temos de ser bastante disciplinados, fazer o nosso trabalho e naquilo que acreditamos», afirmou Bélone, reforçando a ideia de que a resposta coletiva terá de compensar as ausências e o poderio do adversário.

No lado leonino, Salvador Salvador descreve uma equipa sólida e confiante. O capitão do Sporting não hesita em caracterizar o grupo que lidera como «bastante confiante e forte», sublinhando o trajeto até aqui: «Temos trabalhado muito bem e, felizmente, conseguido cumprir praticamente todos os objetivos. Estamos na posição em que queremos estar», referiu, lembrando o percurso imaculado na prova.

Apesar da invencibilidade e do estatuto de bicampeão, o internacional português recusa qualquer facilitismo. «Só com vitórias nos encontros já realizados na competição, os bicampeões nacionais vão defrontar o terceiro classificado, mas a dificuldade é máxima», avisou, antes de reforçar o contexto de dérbi: «É um dérbi, um jogo sempre bastante disputado. O Benfica tem as suas qualidades, uma equipa bastante aguerrida com juventude e experiência e jogadores diferentes do ano passado. Vai ser um jogo diferente do da primeira volta, quando o Benfica ainda se estava a adaptar aos reforços e às novas tácticas. Temos a total noção de que vai ser complicado, mas sabemos que o nosso trabalho tem sido árduo e, por isso, queremos muito ganhar».

Salvador Salvador recorre ao passado recente para reforçar a necessidade de máxima concentração. O capitão leonino recusa que o domínio nos confrontos diretos sirva de escudo: «Cada jogo tem a sua história e sabemos o que fizemos para ganhar esses jogos, mas também temos noção de que a história, agora, pode ser outra. Estamos alerta para os pontos fortes do Benfica, mas também temos os nossos. A semana tem sido positiva e vamos entrar com as nossas armas para ganhar».

Em sentido inverso, o jogador recorda o único desaire recente em Lisboa como aviso prévio. «No ano passado, perdemos na Luz na primeira fase e isso pode servir de alerta para este jogo. Não há jogos iguais e sabemos o que temos de fazer para ganhar», reforçou, apontando a concentração e a execução do plano de jogo como fatores decisivos.

Em termos competitivos, o encontro poderá ter impacto relevante na luta pelo topo da classificação da fase regular, mesmo com o Sporting numa posição confortável. Um triunfo leonino reforça a liderança e prolonga a série vitoriosa interna; uma vitória do Benfica reabre contas e valida o registo irrepreensível das águias na Luz, oferecendo novo fôlego na perseguição ao primeiro lugar.

Entre o favoritismo sustentado do Sporting e a ambição do Benfica em contrariar a história recente, o dérbi promete intensidade, equilíbrio e um pano de fundo tático marcado pela gestão de baixas, pela resposta emocional das equipas e pela importância dos detalhes num clássico que raramente deixa margem para erros.