Conselhos de pai, «beijo da rainha» e um documentário: a história do reforço do FC Porto
Homem da confiança de Francesco Farioli, Pablo Rosario é reforço do FC Porto. O médio-defensivo, natural de Amesterdão, mas internacional pela República Dominicana, aterrou na quarta-feira na cidade Invicta, assinou um contrato de quatro épocas pelos dragões e, quinta-feira pela fresquinha, foi oficializado. Uma nova etapa na carreira de um futebolista que, em tempos e como qualquer outro miúdo carregado de sonhos, aspirava subir ao topo do Mundo a partir dos relvados.
Filho de pais dominicanos divorciados, Rosario desde cedo foi guiado pelos conselhos do pai, que não quis ver Pablito enveredar pelo caminho que, anos antes, ele próprio havia seguido. Um caminho de mulheres, álcool e ligações duvidosas a gangues. «Há mulheres muito bonitas que podem pôr a tua cabeça a andar à roda», afirma o pai de Rosario, no documentário De Prijs van de Hemel (O Preço do Céu, em português), lançado em 2012 e que acompanha, precisamente, os primórdios da carreira do agora reforço portista.
Um excerto do documentário 'De Prijs van de Hemel':
Nos relvados, Pablo foi deixando marca desde muito cedo. A qualidade que evidenciou em tenra idade rapidamente levantou comparações com Ronaldo — o Fenómeno —, até porque jogava mais adiantado no campo, e a passagem pelo clube amador DWS, então com 13 anos e um farto rabo de cavalo, despertou atenções ao mais alto nível: Ajax, PSV Eindhoven e Feyenoord, precisamente os três grandes dos Países Baixos, tentaram levá-lo para as respetivas formações. No caso do emblema de Roterdão, seria uma segunda vez, pois o aspirante a futebolista já lá tinha passado pelas escolas.
O treinador de Pablo no DWS chegou a dizer que o menino podia «ser melhor do que Ruud Gullit». O pai, por sua vez, não tinha dúvidas. «Ele vai jogar pela seleção neerlandesa, tenho a certeza», afirma, no referido documentário. E sonha ainda mais alto. «Um dia, quando os Países Baixos forem campeões do Mundo, vais receber um beijo e um colar da rainha», vaticina, em conversa com o filho.
Rosario não tardou a decidir. Pouco tempo depois, optou pelas escolas do Ajax, onde viria a crescer até aos juniores. Pelo caminho, algumas lesões foram funcionando como travão. Em 2015/16, porém, destacou-se na equipa principal do Almere City, então na segunda divisão neerlandesa. Seguiu-se o salto para o PSV, onde começou na equipa B, mas rapidamente foi requisitado por Philipp Cocu, então ao leme dos de Eindhoven, para a formação principal.
O resto, como se costuma dizer, é história. Pablito cresceu, afirmou-se e passou a indiscutível com Mark van Bommel a treinador. Pelo meio, sonho do pai concretizou-se... parcialmente: Rosario foi chamado à seleção principal dos Países Baixos, estreando-se num jogo de preparação em 2018, pela mão de Ronald Koeman e frente à Bélgica de... Roberto Martínez.
Contudo, em maio deste ano e após um longo período arredado das opções da Laranja Mecânica, Rosario passou, devidamente autorizado pela FIFA, a representar a seleção da República Dominicana, numa homenagem às suas origens.
No arranque de 2021/22, sem contar para um tal de Roger Schmidt no PSV, mudou-se para França, para representar o Nice, onde, duas épocas mais tarde, conheceria Farioli. Com o treinador italiano, somou 34 jogos no emblema de Côte d'Azur, mas o homem do leme azul e branco não será a única cara conhecida que Pablo encontrou no Dragão, uma vez que, no PSV, chegou a partilhar o balneário com Luuk de Jong. O FC Porto será a nova etapa de um percurso que começou apontado ao topo, mas que foi sendo trilhado com boas doses de realidade.