Capitão de Espanha atira: «Não quero fascismo, racismo ou xenofobia no meu país»
Unai Simón, guarda-redes de 28 anos e um dos capitães da Seleção Espanhola, é conhecido pela sua frontalidade ao abordar temas do futebol e da atualidade. Numa entrevista ao El Mundo, o guardião do Athletic Bilbao revelou como o seu círculo próximo, sobretudo a mãe, o mantém com «os pés na terra» e criticou a hipocrisia de quem se queixa do calendário, mas não abdica do dinheiro. Além disso, o espanhol falou também sobre a polémica em torno de Yamal e não esqueceu a situação social atual do país.
Os pés bem assentes na terra
Simón partilhou uma história familiar sobre como a mãe o ajudava a manter a humildade: «Em 2021, disse-me que era a sua mãe que, se o ego subia um pouco, lhe dizia: 'Já vens com ares de Bilbao!', quando ia a casa para almoçar». O guarda-redes confessou que, embora já não oiça a frase há muito, é todo o seu círculo — pais, companheira e amigos de infância — que o ajuda a ver a «realidade da vida de um futebolista», que vive num mundo «que não é o real».
Sobre o prazer de jogar, o guardião admitiu que a exigência da alta competição lhe retirou a diversão que tinha em criança, mas recuperou-a através da ligação com o seu clube: «Se eu jogasse numa equipa que não tivesse uns adeptos como os do Athletic, com aquele sentimento, provavelmente não desfrutaria tanto. Ver as pessoas emocionarem-se com as nossas vitórias ou sofrerem com as nossas derrotas é o que me faz desfrutar fora de campo».
A gestão mental e a luta por menos jogos
Simón sublinhou que a chave para desfrutar do futebol é «saber gerir a realidade e os estados mentais». Recordou ter terminado o Mundial do Catar «mentalmente afetado», mas conseguiu superar a situação sem ajuda profissional. No entanto, alertou: «recomendo a todos que, se tiverem dúvidas, procurem ajuda profissional».
Questionado sobre a recente paralisação dos jogos em protesto contra a partida em Miami, o guarda-redes defendeu que «apesar das rivalidades, todos fazemos parte da mesma classe profissional. Se acreditamos que uma ação nos prejudica, devemos manifestar-nos».
O capitão da La Roja criticou a falta de coerência sobre o calendário: «Todos nos queixamos, mas quando há dinheiro envolvido, ninguém o recusa. Eu estaria disposto a ganhar menos dinheiro para jogar menos jogos e evitar lesões. É preciso encontrar um equilíbrio, não ser hipócrita».
A polémica de Lamine Yamal e a política do país
Sobre Lamine Yamal e o «ruído» em torno da sua lesão, Simón mostrou maturidade: «Com os anos, ganhamos experiência e aprendemos como tudo funciona. Haverá sempre algo para se falar. Compreendo que o jornalismo precisa de vender e, muitas vezes, o que mais atrai são as polémicas».
Enquanto capitão, revelou tratar Yamal «como mais um», sublinhando o seu potencial: «Sabemos a qualidade que ele tem e o potencial para ser o melhor do mundo. Tem 18 anos, é preciso dar-lhe normalidade. Aqui, ele é um rapaz trabalhador».
Em relação à política, e voltando a uma declaração polémica no Europeu, Simón defendeu o seu ponto de vista: «O tema político é muito delicado e arriscado, sobretudo porque somos figuras públicas e há muitos jovens que se podem deixar influenciar. Eu posso saber o que é bom para mim, mas isso não tem de ser necessariamente bom para os outros. Por isso, acredito que quem deve falar de política são os políticos, não os futebolistas».
No entanto, Simón fez a ressalva de que há questões que transcendem a política: «Existem situações extremas, como o que aconteceu em França com o Mbappé, e é evidente que não quero fascismo, racismo ou xenofobia no meu país. Isso transcende a política, são questões de lógica, vai além de ser de direita ou de esquerda».