João Ribeiro e Messias Baptista voltaram a subir ao pódio no 50.º Mundial de velocidade em Milão Fotografia FPC

Canoagem: «Não podemos estar tristes com a prata»

João Ribeiro e Messias Baptista queriam repetir o ouro de Duisburgo-2023 no K2 500m, mas terminam com duas das três medalhas de Portugal no Mundial. Fernando Pimenta terminou em 4.º lugar no K1 500m e em 6.º na regata de K1 5000m

«Não podemos ficar tristes em ser vice-campeões do mundo, mas não escondemos a vontade que tínhamos de levar dois títulos mundiais para casa este ano. Não foi possível. Durante épocas andámos sempre a bater na trave, no poste … éramos quartos, quintos, quartos, quintos. E nos Jogos de Paris-2024 não conseguimos atingir a medalha que queríamos. Não podemos ficar tristes com esta prata», reforçou João Ribeiro à agência Lusa depois de, juntamente com Messias Batista (1.28,44m), no Mundial de Milão-2025 não terem conseguido repetir o ouro de K1 500 conquistado em Duisburgo-2023, na Alemanha.

Com mais esta conquista, mas sem que nesta derradeira jornada no Campo de Regatas Idroscalo Fernando Pimenta tenha conseguido dobrar os pódios de há dois anos no K1 500 (bronze) e K1 5000 (prata), Portugal concluiu o campeonato com três medalhas. Todas em distâncias olímpicas. Na véspera, Pimenta garantira o bronze em K1 1000. Recorde-se que em Duisburgo-2023 o saldo havia sido de quatro pódios (2+1+1).

Mas, voltando ao êxito de João Ribeiro e Messias Baptista, no último dia do Campeonato do Mundo de velocidade, a dupla nacional, que já havia estado na conquista do título de K4 500, juntamente com Gustavo Gonçalves e Pedro Casinha, largou bem e manteve-se na frente quase toda a regata.

No entanto, acabou por ser superada sobre a linha de chegada em 16 centésimos pela embarcação húngara de Levente Kurucz e Bence Nádas (1.28,28m), ficando o bronze para os alemães Jacob Schopf e Max Lemke (1.28,94).

João não escondeu mesmo alguma surpresa face ao desfecho, já que os húngaros, que em Milão apenas atuaram no K1 500, estavam na pista 9. «Impossível de controlar», segundo o português que largou na 6 e sabendo que quase só se pode usar a visão periférica numa prova de velocidade tão curta, razão pela qual até chegou a colocar a hipótese que aquilo fosse um barco da organização a filmar.

«Saímos muito bem, conseguimos gerir o esforço na parte intermédia, e no fim foi dar tudo. Ali nos últimos 50 metros já vínhamos muito cansados… Demos tudo o que tínhamos dentro de água. Os húngaros foram melhores e há que lhes dar os parabéns», reconhece o olímpico luso, de 36 anos, que, a par de Fernando Pimenta, é o último sobrevivente da geração de então jovens canoístas nacionais que espantou a Europa pela sua qualidade no Festival Olímpico da Juventude de Lignano Sabbiadoro-2005, em Itália.

Messias está 99 por cento feliz

Quanto a Messias Baptista, de 26 anos, estava 99 por cento feliz com a prata ao peito, a que a juntar ao ouro no K4 500 e outras tantas nos Europeus de Racine-2025 (ouro K4 500 e prata K1 200), garante estar a viver a «melhor época de sempre». Só a performance nos Jogos Olímpicos, 6.º na final de K2 500, ainda lhe está atravessada.

«O resultado em Paris-2024 ficou um pouco aquém das nossas expectativas. Ainda me magoa pensar nisso, ainda não fiz o luto a 100 por cento, mas há-de ser feito. Claro que não estou 100 por cento feliz, estou 99 por cento. Faltou um bocadinho. Acreditei mesmo que o íamos conseguir. 16 centésimos nem dá para perceber», revelou.

Mas agora é «terminar como orgulho no feito de sair dos mundiais com duas medalhas em distâncias olímpicas», diz.

«Só temos de estar orgulhosos desse feito promissor quando é o primeiro ano de ciclo olímpico e ainda temos os nossos dois putos no K4 que certamente ainda vão evoluir mais e vamos ver o que o futuro nos reserva», acrescentou recordando a inédita conquista em Mundiais e que também acontecera, em junho, no Euro na Republica Checa.

Fernando Pimenta Fotografia Imago

Pimenta: «Estou de consciência tranquila»

Expectativa de outra medalha no derradeiro dia, se bem que o próprio antes de começar o Mundial avisara que não prometia nada, muito menos chegar às duas, Fernando Pimenta, de 36 anos, não logrou repetir os pódios de Duisburgo-2023, onde havia sido bronze em K1 500 e prata em K1 5000.

Desta feita, ficou à beira do pódio em K1 500 (1.39,71m), regata ganha pelo checo Josef Dostal (1.38,43), seguido do húngaro Adám Varga (1.38,52) e do espanhol Alex Graneri (1.39,05).

«Dei tudo aquilo que tinha e mais alguma coisa. Ficou mais do que 100 por cento dentro da água. Infelizmente, hoje, esses 100 por cento não foi o suficiente para conseguir bater os meus três adversários que ficaram à frente. É um quarto lugar, aquele que ninguém quer, ficar à porta das medalhas…», contou sobre o que sentia à agência Lusa. «Mas é assim, é o desporto. Estou de consciência tranquila, pois dei o meu melhor numa distância que não é a minha especialidade. Não consegui ser mais rápido que os três adversários que foram à minha frente», disse, resignado, enquanto se preparava para, cerca de quatro horas depois, competir em K1 5000.

Também aí as coisas não correram pelo melhor ao ser 6.º (21.41,60), muito longe dos três mais rápidos: o dinamarquês Mads Pedersen (20.53,89), o sul-africano Hamish Lovemore (21.13,36) e o húngaro Ádám Varga (21.24.09), mas, pior, tendo ficado a pouco e pouco afastado da frente demasiado cedo depois de ter sido apertado por um adversário junto a uma boia. Teve dificuldade em prosseguir e nunca mais acompanhou os homens da frente.

Terminado o Mundial, ainda assim fez um balanço positivo, olhando igualmente para toda a Seleção. «Faço também um balanço positivo por causa da prestação dos meus colegas que conseguiram ser campeões do mundo no K4 500, com o João Ribeiro e o Messias Baptista a conseguirem ainda ser vice-campeões do mundo em K2 500. Isso, sem dúvida, que faz de nós uma das potências da canoagem mundial», analisa.

«Aquilo que ganhámos não foram só as medalhas, foi o espírito de equipa. Um espírito de felicidade, união e entreajuda. Claro que temos as nossas rivalidades internas, porque queremos todos ser melhores em termos individuais, mas isso também se transpõe para a água quando trabalhamos em barcos de equipa nos quais conseguimos excelentes resultados», completou.