CAN 2025: Nigéria – a radiografia
Estamos a terminar a fase de grupos e a Nigéria fez o pleno: 3 jogos, 3 vitórias, 8 golos marcados e 4 sofridos. Um percurso sólido, competitivo e coerente com o estatuto da seleção na CAN. Os números confirmam eficácia, mas a leitura do jogo exige ir além da estatística.
A Nigéria tem jogado num 4x4x2 em losango, com Victor Osimhen e Ademola Lookman na frente, e neste último jogo com a entrada de Paul Onuachu a juntar-se à estrela nigeriana. Não me parece, contudo, o sistema ideal face às características dos jogadores, sobretudo contra seleções com maior maturidade estratégica. O meio-campo, em muitos momentos, fica despovoado, o que pode criar problemas na gestão do jogo em contextos mais exigentes.
Mas falemos dos jogadores — porque é aí que esta seleção se sustenta.
Começando pela baliza, Stanley Nwabali. Um guarda-redes irreverente, com bom jogo de pés, presença forte na baliza e extraordinariamente eficaz a defender grandes penalidades. Foi um jogador descoberto por nós. O mister José Peseiro deslocou-se sozinho à África do Sul para o observar in loco. Viu treinos, analisou jogos e tomámos a decisão de o convocar. Assim que chegou e o vimos em ação, não saiu mais do onze titular.
Na linha defensiva, Calvin Bassey. Um dos melhores centrais de pé esquerdo da atualidade. Muito humilde, fisicamente poderoso e com uma forma muito própria de gerir a pressão. Extremamente focado. Tenho com ele um acordo pessoal: definimos juntos um objetivo de carreira e tudo é orientado nesse sentido — chegar ao Real Madrid. Hoje está claramente mais perto desse objetivo do que quando o definimos.
No meio-campo, Alex Iwobi. Um craque. Dos melhores jogadores a interpretar espaço, com bola e sem bola. Tem um QI futebolístico ao nível dos melhores do futebol europeu. Sem diminuir o excelente trabalho do Fulham de Marco Silva, é jogador para outros patamares competitivos.
Na frente, Victor Osimhen. O menino que cresceu nas ruas de Lagos, ruas cheias de trânsito, onde crianças tentam vender água, fruta ou qualquer coisa que lhes permita matar a fome. Cresceu nesse ambiente adverso e transformou-o em resiliência pura. Instinto de sobrevivência em estado absoluto.
Ao seu lado, Ademola Lookman. Quando chegámos, tinha apenas duas internacionalizações. Estava ainda a adaptar-se à decisão de representar a seleção nigeriana, tendo em conta a dupla nacionalidade e a possibilidade de jogar pela Inglaterra. Tem futebol para isso. Mas o contexto externo influencia a performance, e foi na seleção — e na mudança para o Atalanta — que começou verdadeiramente a voar. Com ele, o mote é simples: deixar o futebol fluir.
Há muitos outros jogadores que são expressão do futebol nigeriano. Mas esses ficam para outro artigo.
Para já, a Nigéria segue em frente com confiança, soluções e ambição. O verdadeiro teste começa agora, no mata-mata. E aí, mais do que sistemas, decidem os homens e as decisões