Viktor Gyokeres e Kokçu abraçam-se no final do último dérbi
Viktor Gyokeres e Kokçu abraçam-se no final do último dérbi da Liga - Foto: IMAGO

Campeão 24/25? Tudo pode acontecer...

Campeão? Foi a pergunta que mais me fizeram esta semana. E a resposta foi sempre a mesma: tudo pode acontecer. Ninguém ganha - nem perde - antes do apito inicial. E é isso que torna o futebol tão fascinante. Neste sábado, na última jornada do campeonato, tudo está em aberto. O Sporting parte em vantagem, sim. Está em primeiro, joga em casa, com a equipa ultra motivada, com o estádio esgotado e os seus adeptos em euforia. Só depende de si. Mas... tudo pode acontecer. E eu já vi de tudo no futebol

O Benfica ainda acredita - como deve acreditar. Vai defrontar o SC Braga, com a obrigação de vencer. Um empate até pode chegar, mas só se o Sporting perder frente ao Vitória Sport Clube. A matemática é simples, mas o futebol raramente é. Há emoção no ar, ansiedade nos corações e um país inteiro a adivinhar futuros que só o apito final do árbitro poderá confirmar.

O Sporting tem tudo para ser campeão. Melhor ainda, bicampeão, algo que não acontece desde 1950. Mas o tudo não significa garantido. Porque este desporto tem uma forma curiosa e peculiar de nos lembrar que nada está escrito até ser jogado. Vejamos a história.

Em Portugal, recuamos a 1954/55. O Belenenses liderava à entrada da última jornada, com um ponto de avanço sobre o Benfica. Empatou 2-2 com o Sporting, com um golo sofrido aos 86 minutos, permitiu ao Benfica ultrapassar e sagrar-se campeão. O futebol foi cruel para os do Restelo.

Lá fora, os exemplos são muitos. O Real Madrid perdeu dois campeonatos seguidos na última jornada, em 1992 e 1993, ambos às mãos do Tenerife e com o Barcelona a aproveitar. A Juventus, em 2000, tropeçou em Perugia sob chuva intensa e entregou o título à Lazio. O Bayer Leverkusen, no mesmo ano, caiu diante do modesto Unterhaching, permitindo ao Bayern de Munique celebrar. E mais recentemente, em 2023, à entrada da última jornada da Bundesliga, o Borussia Dortmund liderava o campeonato com dois pontos de vantagem sobre o Bayern de Munique. Bastava-lhe vencer para se sagrar campeão - algo que não acontecia desde 2012. Na 34.ª e derradeira jornada, o Dortmund empatou 2-2 com o Mainz 05, em pleno Signal Iduna Park, num jogo marcado pela tensão, desperdício e frustração. A festa estava montada, os adeptos prontos para celebrar, mas cedo perceberam que o desfecho não seria o esperado. Ainda na primeira parte, Hanche-Olsen e Onisiwo colocaram o Mainz a vencer por 2-0, silenciando o estádio. Haller ainda desperdiçou uma grande penalidade que poderia ter mudado o rumo do jogo. Na segunda parte, o português Raphaël Guerreiro reduziu e, já nos descontos, Süle fez o empate. Mas era tarde demais. Apesar de mais de 30 remates à baliza, a bola teimou em não entrar mais vezes. Ao mesmo tempo, o Bayern vencia o Colónia por 2-1, com o golo decisivo de Musiala a ser marcado nos minutos finais. Com este resultado, igualou os 71 pontos do Dortmund, mas beneficiou de um saldo de golos superior (mais 15) e conquistou o 11.º título consecutivo.

Tudo isto para dizer: não há campeões antes de o jogo ser jogado. Não há vitórias asseguradas por favoritismo ou por estatística. Há 90 minutos por cumprir. Há nervos, há pressão, há emoção. E o futebol, esse caprichoso, gosta de escrever argumentos que ninguém prevê.

Agora, não me interpretem mal. O Sporting merece estar onde está. Fez uma época sólida, tem jogadores em grande forma, um avançado que me enche as medidas - Viktor Gyokeres – a lutar pela bota de ouro europeia e a jogar os últimos minutos de verde e branco, um treinador consciente do que tem de ser feito e um público apaixonado que chegou a pernoitar em Alvalade para ter acesso aos ingressos. Tem tudo a seu favor. Mas que ninguém se atreva a dizer que já ganhou. Porque de Guimarães chega uma equipa a Alvalade com a participação nas competições europeias, de 2025-26, por garantir – e isso, por vezes, é o mais perigoso. E porque o Benfica vai jogar, em Braga, com esperança e urgência. E isso, por vezes, é o mais motivador.

O futebol é um jogo de emoções e imprevisibilidade, onde tudo muda em minutos, só uma coisa é certa: até ao fim, tudo é possível. No futebol, como na vida, as certezas são muitas... até começarem os imprevistos.  Por isso, este sábado, o país vai parar. Não só para ver quem levanta o troféu, mas para lembrar que este jogo, tão imprevisível quanto bonito, ainda sabe surpreender-nos.

Se me perguntarem quem vai ser campeão, digo: não sei. Mas sei que vai ser um sábado eletrizante, impróprio para cardíacos, emocionante, com golos e até ao último segundo... tudo pode acontecer.

Vença o Sporting ou o Benfica, tenho naturalmente a minha preferência – como todos os adeptos apaixonados pelo jogo –, mas isso não retira mérito ao desfecho. Quem vencer, será um justo campeão. No futebol não há espaço para os ses.  No fim, o que fica é quem foi mais competente nos momentos certos. Porque o futebol decide-se em factos, não em hipóteses. E, nesta época cheia de emoção, quem erguer o troféu no sábado será, com justiça, o campeão nacional de 2024-25.

Parabéns ao Campeão.

«Liderar no Jogo» é a coluna de opinião em abola.pt de Tiago Guadalupe, autor dos livros «Liderator - a Excelência no Desporto», «Maniche 18», «SER Treinador, a conceção de Joel Rocha no futsal», «To be a Coach» e «Organizar para Ganhar» e ainda speaker.