Apostar na formação não é lançar jogadores
José Mourinho vai tomando as rédeas do Benfica, dando consistência à equipa à medida que os bons resultados se vão acumulando. O rendimento dos encarnados já é outro, apesar de a qualidade exibicional ainda estar longe da que os adeptos pretendem.
Já aqui escrevi que a tarefa do treinador não é fácil, dado ter apanhado o comboio em andamento e ter herdado um plantel desequilibrado e, principalmente, longe de corresponder à sua ideia de jogo. Um problema que só a reabertura do mercado, em janeiro, poderá corrigir.
Vamos esperar pelos presentes, estando todos conscientes que os cofres da Luz não são inesgotáveis e que no último verão já foram gastos mais de 100 milhões de euros…
Entretanto e até lá, Mourinho tem feito da formação uma bandeira. Em boa hora. A escola do Seixal é desde há um bom par de anos a melhor de Portugal e também está, reconhecidamente, entre as melhores do Mundo.
Os títulos nos escalões jovens amontoam-se e a hegemonia entre os eleitos para as mais variadas seleções nacionais um facto indesmentível. Mas só isso não chega, é preciso formar jogadores para a equipa principal. Esta, sim, tem de ser a prioridade.
José Mourinho em apenas três meses na Luz já estreou na equipa principal cinco jogadores: Banjaqui, José Neto, Tiago Freitas, Rodrigo Rêgo e Ivan Lima. Todos jovens de grande potencial, mas não basta lançar jogadores, a aposta tem de ser com convicção, o mesmo será dizer… continuada. O que não tem sido feito no Benfica nos últimos tempos, diria mesmo após a saída de Roger Schmidt.
O treinador alemão foi o responsável pelo aparecimento de António Silva, pela explosão de João Neves ou pela afirmação de Gonçalo Ramos. Três craques que valeram e vão valer muitos, muitos milhões. Tomás Araújo prometia ser outra herança de Schmidt, já que foi titular em três dos quatro jogos do alemão na época transata.
Depois, já com Bruno Lage, foram muitos os jogadores lançados na equipa principal, mas que até hoje não conseguiram afirmar-se, casos de João Rego, João Veloso, Diogo Prioste, Joshua Wynder, Nuno Félix e Leandro Santos, que continuam na Luz. Isto para já não mencionar quem entretanto saiu, por empréstimo ou em definitivo, como Tiago Gouveia — que jeito daria neste momento, especialmente após a lesão de Lukebakio… —, Bajrami, Hugo Félix, Rafael Luís, Gerson Sousa, Gustavo Varela, Diogo Spencer e Gustavo Marques.
Gonçalo Oliveira ou Gonçalo Moreira podem muito bem ser os próximos e talento não lhes falta. O que falta é um projeto desportivo do Benfica.
Com nove campeões da Europa e do Mundo de sub-17 a baterem à porta, considero que era imperioso o clube decidir rapidamente qual o espaço no plantel principal para tanta pérola antes de começar novamente a investir tudo o que tem em reforços…