Gyokeres levou banho de realidade
97 golos em 102 jogos no Sporting são muita fruta e fizeram de Viktor Einar Gyokeres um autêntico Deus em Alvalade. Merecidamente. Perante a rocambolesca novela que foi o processo da saída do sueco para o Arsenal, no último mercado de verão, muitos anteviram as passas do Algarve para Rui Borges sem o supergoleador que andou com a equipa às costas nas últimas duas temporadas.
Neste mesmo espaço, a 18 de agosto último, tinha Gyokeres chegado a Londres há poucas semanas, escrevi, após um Man. United-Arsenal, que Gyokeres teria de ser muito mais do que potência muscular para sobressair na Premier League. Se em Portugal isso era o principal fator diferenciador e os defesas quase tombavam pelo chão só com o seu arranque, em Inglaterra avançados corpulentos são o pão nosso de cada dia. Esse jogo de Gyo foi para esquecer e estes primeiros meses nos gunners, com exceções aqui e ali, têm sido uma desilusão para quem esperava ver um rendimento semelhante ao que o avançado tinha mostrado por cá.
Não foi assim há tanto tempo que, por ocasião de um Sporting-Manchester City, na Liga dos Campeões, foram muitas as comparações de Gyokeres com Haaland. Essa noite mágica de Alvalade correu, de facto, muito bem ao então jogador dos leões no duelo nórdico de avançados, já que foi dele o hat trick que ajudou o leão a destruir (4-1) a turma de Pep Guardiola. Era a lua de mel de Gyokeres com o Sporting e os seus adeptos, numa relação que acabaria por terminar muito mal e de costas voltadas meses depois.
Olhando aos números, e eles estão longe de nos dizer tudo o que se passa num campo de futebol, Haaland tem, ao dia de hoje, entre clube e seleção, 36 golos em 27 jogos em 2025/26; Gyokeres, com uma lesão pelo meio que lhe retirou a titularidade no Arsenal, tem 6 golos em 23 aparições... A diferença é avassaladora e já obrigou, inclusivamente, Mikel Arteta a deixar os primeiros recados em público. «Fisicamente está muito bem, mas tem de começar a converter as ocasiões de golo que tem», disse recentemente o treinador.
A vida é feita de escolhas e, se calhar, o estilo de jogo refinado e de toque do Arsenal não será aquele que melhor se encaixa com a verticalidade e potência de Gyokeres, até aqui um peixe fora de água no xadrez de Arteta. Quem soube fazer-se à vida sem o homem da máscara foi Rui Borges, que tornou o Sporting mais imprevisível e versátil ofensivamente. Um jogador não faz uma equipa, mas uma equipa pode fazer muito de um jogador...