Boas notícias de Leiria

Mais que a queda de um elefante branco é a prova de que o futebol não tem de ser ‘monogâmico’

UMA das melhores notícias do futebol português nos últimos tempos foi a regeneração do UD Leiria e de um estádio construído para o Euro-2004 durante anos relegado à condição de elefante branco. Um clube que apresenta assistências de 15 mil pessoas na Liga 3 e mais de 22 mil num jogo que decide a subida aos campeonatos profissionais merece a devida vénia e impõe uma reflexão sobre o que de mal está a ser feito noutros locais e competições do país.

É preciso dizer que a afluência em massa ao Estádio Municipal Dr. Magalhães Pessoa foi uma constante durante as duas últimas temporadas e não apenas um acontecimento isolado, o que merece ser analisado não apenas do ponto de vista desportivo, mas também numa perspetiva social. 

É sabido, com base em vários estudos, que Benfica, FC Porto e Sporting concentram mais de 90 por cento do mercado português. Não acredito, portanto, que estes milhares de adeptos que de 15 em 15 dias vão assistir um jogo de futebol sejam apenas fãs da equipa do Lis. Mas o clube conseguiu algo que não alcançou no passado e que a esmagadora maioria dos outros emblemas tenta (alguns nem tentam, na verdade), mas não alcançam: criar um sentimento recorrente de pertença.

Daqui resulta que a condição de benfiquista, portista ou sportinguista não tem de representar uma monogamia clubística; há espaço, tempo e oportunidade para criar novas relações. De entre as várias iniciativas levadas a cabo pelos novos donos do clube não posso deixar de destacar a mais importante e aquela que nos faz lembrar a essência deste desporto: o futebol é para os adeptos.

A política de bilhetes gratuitos para instituições escolares e outras forças vivas durante meses a fio mostrou que é possível ter multidões nas bancadas e dinheiro em caixa, porque o que não se ganha em bilhética vai buscar-se em novos patrocínios, desde o pequeno negócio local à média/grande empresa que tem orçamento de marketing para investir em projetos diferenciados que trazem retorno.

Ainda é cedo para dizer se todo este entusiasmo em Leiria é para continuar, mas daqui tem de se extrair qualquer coisa que sirva de exemplo para muitos clubes da Liga que dependem dos jogos com os grandes para chegar ao final da época com uma média de espectadores a fugir ao irrisório, mas enganadora, porque inflacionada por três jogos em 17.