«Se vir ou tiver conhecimento de ilegalidades não vou aceitar os resultados»
— Em Portugal, na política ou no desporto, há por vezes resistência em escolher o que é novo e as pessoas tendem a confiar mais nos cabelos brancos ou na continuidade do que propriamente na mudança. Os seus 43 anos são um problema para si nestas eleições?
— Não, de todo. Os meus 43 anos revelam 18 anos de experiência relacionada com o setor desportivo ao mais alto nível, seja em representação de agentes desportivos isoladamente, como treinadores, empresários, jogadores ou dirigentes e também a nível obviamente colegial, como federações, clubes, sociedades desportivas, a nível nacional e internacional. E também há na minha lista pessoas com essa mesma experiência e até mais acentuada do que a minha, como o nosso vice-presidente para as modalidades, Vítor Pataco, um homem do desporto também, que foi presidente do IPDJ. O nosso responsável pela área financeira para a SAD, Paulo Ferreira, que esteve quase 25 anos como diretor financeiro na Federação Portuguesa de Futebol. Portanto, aquilo que nós trazemos é especialização, é conhecimento, é o know-how daquilo que tem de ser o Benfica dentro do ecossistema desportivo. Sou eu que vou à frente mesmo com os meus 43 anos, com a cara que tenho. Não tenho cabelos brancos, mas também não tenho cabelo.
— Seis candidatos, seis projetos, muitas ideias, muitas promessas e trunfos. Pergunto, pois, se ouviu alguma ideia que o deixasse impressionado e se tem um trunfo para lançar até ao dia 25.
— O nosso trunfo tem sido aglomerar as ideias dos sócios em conjunto com as nossas, mesmo tendo partido, como é óbvio, com a nossa base de ideias, projetos e visão. Quanto a propostas dos outros candidatos — e confesso que não é por ter de defender a nossa candidatura —, mas não vejo nenhuma medida tão profunda como as propostas que trouxemos para cima da mesa. São todas válidas, gosto de todas, porque é Benfica, mas acho que preparámos com muita profundidade a nossa candidatura e aquilo que queremos dar aos sócios do Benfica.
— Muitos benfiquistas acusam as gestões anteriores de se terem aproveitado do Benfica e do dinheiro do Benfica. Estas eleições marcarão uma nova era de transparência, integridade e honestidade ou há razões para continuar a recear?
— Eu acho que vão marcar, porque há um grande passo, o processo de revisão estatutária. Os estatutos estão muito melhores, mas é um caminho ainda a percorrer. Há regulamentos internos que têm de ser criados para vigorar na vida do Benfica e isso também traz mais transparência. Um deles é o regulamento eleitoral, podemos falar de um regulamento geral, também, que se aplica depois ao clube. Ganhando as eleições, nós comprometemo-nos com os sócios do Benfica em trazer ainda mais transparência. Queremos romper com esse estado de conformismo geral que existe no futebol português.
— Tem o apoio de parte do Movimento Servir o Benfica e uma das acusações que têm sido feitas à candidatura tem a ver com o facto de esses sócios dominarem assembleias gerais. É um problema, um calcanhar de Aquiles, ou, por outro lado, deve ser visto como algo positivo o facto de esses sócios marcarem, efetivamente, presença nas assembleias gerais?
— Relativamente ao Movimento Servir o Benfica, têm de perguntar, efetivamente, ao Movimento Servir o Benfica, porque aquilo que eu vejo são sócios do Benfica a apoiar várias candidaturas, não só a nossa. A nossa candidatura é de base associativa, virada para os sócios, e é normal que tenha adesão pela identidade que os sócios encontram em nós. Estive muito tempo ligado ao Benfica, através da BTV e noutro plano, e quando ia às assembleias gerais os benfiquistas já falavam comigo, eu ia à BTV discutir assuntos do futebol, das modalidades. Os sócios que vão às assembleias gerais estão mais presentes nas modalidades, nos pavilhões, no futebol. Portanto, é uma ideia criada ao longo do tempo e que é válida, porque há claramente maior aproximação da nossa candidatura com os sócios do Benfica, mas que não pode ser utilizada de forma perniciosa e negativa. Porque parece que estão a fazer de sócios do Benfica pessoas que não são válidas ou não têm uma palavra a dizer no Benfica. Aquilo que sustenta o Benfica são os sócios e isso é o que desapareceu do Benfica nos últimos 25 anos. Os sócios tornaram-se clientes, já não são sócios do Benfica. As direções do Benfica não conseguem perceber que os sócios têm mais valor do que um cliente que não se identifica com o clube. Não somos infalíveis, mas estamos aqui para aprender com eles e para tentar ir ao encontro deles.
— Do ponto de vista financeiro, tem números na cabeça? Em relação à redução do passivo, que o Rui Costa prometeu diminuir em €100 milhões, ao investimento na equipa ou à verba que poderá ser retirada dos dois anos de direitos televisivos?
— Tenho na cabeça os números dos resultados do último mandato, que é aquilo a que tenho de agarrar-me para poder construir qualquer coisa para o futuro. 18% de aumento de custos operacionais, 25% de aumento do passivo, 40% de aumento da dívida financeira. Quando diz que Rui Costa fala da diminuição do passivo, eu acho que é uma excelente notícia, todos nós o queremos, temos de ter uma gestão sustentável, financeira e desportiva. Mas há aqui um problema. Foi apresentado o Benfica District, para 200 milhões de euros. Como é que ele vai descer o passivo apresentando um projeto como o Benfica District? É contraditório. Há três grandes premissas. Reduzir custos operacionais com BTV e Benfica Estádio, por exemplo. Alocar a dívida financeira a maior maturidade — empréstimos obrigacionistas, entre outros — em função das receitas, daquilo que o Benfica tem a receber, porque só assim se consegue gerir e tornar mais sustentável, e depois há aqui uma coisa evidente, que são as patrocínios. Há coisas que nunca foram exploradas e vamos à tentativa de captação do naming do estádio. Há necessidade de sentar à mesa com os patrocinadores. O Benfica ganha à volta de 24.1 milhões de euros em patrocínios, parece-me curto. E depois há a grande incerteza futura, que é a centralização dos direitos audiovisuais. Para nós, a centralização dos direitos audiovisuais não pode existir sem um alteração dos quadros competitivos, melhorar o produto do futebol em Portugal, ser mais transparente e não só (8:46) ter melhores condições.
— José Mourinho tem contrato com o Benfica e já afirmou que os contratos devem ser honrados. Desafiamo-lo, todavia, a revelar o seu perfil de treinador: português ou estrangeiro, conservador ou de ataque?
— Conservador, de todo, fora de questão. A identidade do Benfica é o futebol ofensivo, dominador. Não obstante, em determinados jogos e em determinadas fases da época tem de jogar com aquilo que é a equipa contra a qual vai jogar, dependendo depois da competição também. Não voltando a acontecer aquilo que aconteceu com Bruno Lage em Munique, ele próprio veio depois reconhecer que foi um erro. Aquilo não é o Benfica. O modelo está mais do que encontrado: um futebol avassalador, é a identidade do Benfica desde a sua fundação. Fundados para ganhar. Depois, a questão do treinador é complexa. As direções têm um projeto e os treinadores e os jogadores encaixam no projeto. Tal como os diretores, técnicos, gerais, desportivos. E o treinador não tem nacionalidade. Posso pensar em treinadores de projeto em Portugal, como Vasco Botelho da Costa, que está no Moreirense, parece-me um treinador de futuro. Se já tem arcaboiço para o Benfica? Não sei. É uma coisa que temos de perceber na altura em que temos de contratar um treinador. José Mourinho foi contratado pelo Benfica, é incontestavelmente um bom treinador, um ótimo treinador, um treinador de excelência, um dos melhores de sempre e a nível internacional. Mas eu também tenho que ter noção de que José Mourinho foi contratado por uma determinada Direção, que não é a nossa, e para um projeto desportivo que não é o nosso. São quatro anos de mandato e cinco treinadores, é um falhanço épico a nível de projeto desportivo. Mourinho é um nome tão pesado, no bom sentido, tão imponente, que veio para resolver o falhanço desportivo desta Direção. É mais do que um treinador. Mourinho é comunicação, é saber tudo o que há para saber de futebol. E também conhece o Benfica. Portanto, há que respeitar isso. O que tenho de fazer com a nossa equipa quando entrarmos? Explicar a José Mourinho o nosso projeto desportivo. E tenho a certeza de que vai aderir ao nosso projeto desportivo. Tenho de gerir o Benfica com aquilo que o Benfica fez nos últimos anos. Na primeira reunião com José Mourinho não vou criar desequilíbrios e entropias, é ao contrário, José Mourinho vai saber que vai contribuir, que vai ganhar muito mais connosco. Vamos defendê-lo, respaldá-lo de coisas com as quais não tem de preocupar-se.
— É advogado, conhece na perfeição as ferramentas da justiça. Aceitará o resultado das eleições, aconteça o que acontecer?
— É uma pergunta muito generalizada. Mas, obviamente, eu não compactuo com a ilegalidade. A partir do momento em que eu vir, assistir ou tiver conhecimento factual de que algo que aconteceu... Vou dar o exemplo de 2020. Se se repetir aquilo que aconteceu em 2020, podem ter a certeza de que eu faço tudo o que for necessário para que isso não volte a acontecer. E eu lamento que o candidato que foi vítima em 2020 [João Noronha Lopes, derrotado nas eleições com Luís Filipe Vieira] desse acontecimento não se tenha imposto até hoje por conta disso. Eu não aceito isso. E isto sou eu a falar enquanto sócio do Benfica. Eu não aceito que o Benfica esteja conotado com ilegalidades, irregularidades, tudo o que for contrário à lei ou aos regulamentos do Benfica. Não vou aceitar.
— Os resultados dos jogos com Newcastle e Arouca, este no dia das eleições, terão peso na decisão dos sócios?
— Não. Os jogos são para ganhar. Todos nós ganhamos quando ganhamos e perdemos quando perdemos. Quando nos colam ao associativismo, é de bom grado que nos colam. E nós provámos durante mais de um ano que fomentamos sempre aquilo que é a união. Já disse isto várias vezes e se calhar até vou fazer disto mote: os benfiquistas têm de estar unidos para voltar a ser temidos.