José Mourinho e as contas na Champions com o Benfica à procura da primeira vitória

Insónias e parvoíces, Grimaldo e Fábio Veríssimo: Mourinho na íntegra

Treinador do Benfica fez viagem completa pela atualidade antes do jogo da UEFA Champions League com o Leverkusen desta quarta-feira, na Luz

— Que análise faz o treinador do Benfica ao Leverkusen, tendo em conta a equipa que foi campeã da Alemanha há duas temporadas?

— Parecido, do ponto de vista tático, muito parecido nos desenhos que põe em campo do ponto de vista da organização ofensiva, com alguns jogadores que são diferentes mas que foram substituídos por jogadores de perfil muito, muito, muito semelhante. É uma equipa que defende a 5, mas depois do ponto de vista da organização ofensiva constrói a 3, constrói a 4, com muita rotação dos jogadores. E um atacante físico, mas rápido, depois muita gente a aparecer no jogo interior entre linhas. É uma equipa difícil, é uma equipa que teve um início de época complicado, depois muda de treinador, depois este treinador também demora algum tempo a encontrar-se e encontraram-se. Este último resultado com o Bayern é um bocadinho descontextualizado, porque primeiro é o Bayern que neste momento é uma das equipas mais fortes na Europa, segundo porque eles vinham de um jogo da Taça e repousaram alguns jogadores. Por exemplo o Grimaldo não joga contra o Bayern. E depois olhando para a Champions e olhando para a tabela são duas equipas a precisar de pontos, não somos só nós, eles também, portanto espera-se um jogo de dificuldade alta para nós e dificuldade alta para eles. O estádio [da Luz] pode estar cheio de gente que vai ver o jogo, ou o estádio pode estar cheio de gente que quer jogar o jogo, se eles quiserem jogar, acho que vamos ganhar. 

— É mais fácil trabalhar nesta fase de vitórias?

— Não consigo dizer se é mais fácil trabalhar sobre vitória ou sobre derrota, às vezes as coisas variam, às vezes o momento de vitórias traz relaxamento, às vezes o momento negativo traz uma vontade grande de voltar a ganhar e de modificar o estado das coisas, nós já passámos pelo momento negativo da derrota em Newcastle e a reação foi muito boa, conseguimos ganhar 3 jogos seguidos. Espero que amanhã essas 3 vitórias — os golos que marcámos, os golos que não sofremos, a maneira como dominámos e controlámos todos estes jogos, sabendo que obviamente a Champions é um contexto diferente e o nível do adversário é completamente diferente —, tragam uma equipa confiante, a sentir maior empatia com o estádio e eventualmente menos pressão e eu acho que os jogadores vão estar à altura, acho que as coisas vão correr bem. 

— Como vê a tentativa de condicionamento por parte do Futebol Clube do Porto, adversário direto do Benfica no campeonato, ao árbitro Fábio Veríssimo?

— Neste momento não faço nenhum tipo de comentário, mas não nego que vou esperar com interesse. Diria mesmo com alguma expectativa, mas neste momento aquilo que eu li foram notícias, eu não li o relatório de Fábio Veríssimo, sei pouca coisa. Comentários não faço, mas estou expectante relativamente àquilo que aconteceu e àquilo que eventualmente poderá acontecer se houver um processo a desenrolar-se.

— Tem passado muitas horas no Seixal e inclusivamente dormido no centro de estágio. O Leverkusen provoca-lhe insónias?

— Insónias? Só ontem, porque os meninos fizeram um bocado de barulho, já eram umas 11 e tal da noite, ainda estavam na brincadeira, ainda estavam a ouvir música, só eles é que me causaram insónias. Insónias não, mas muito trabalho, sim, muita análise ao adversário também. E tentar chegar a conclusões relativamente à minha equipa, que o leque de opções vai-se alargando com a confiança que eles me dão. Por exemplo, o jogo de Schjelderup e Barreiro em Guimarães, o mais do que provável regresso do Dedic, uma equipa que vinha jogando e que vinha jogando bem, jogadores que vinham jogando bem. O aumento das opções não dá insónias, mas dá muito tempo que pensar para tentar encontrar o puzzle correto e a equipa correta. 

— Porque é que diz que vai esperar com interesse? 

— Não sou comentador. Sou treinador do Benfica. E, além disso, ainda que alguns não o interpretem assim, sou uma das pessoas mais importantes do futebol português, não posso fazer comentários gratuitos, pode ser eventualmente uma situação grave. O que sei foi o que li, que não foi mais que ‘o árbitro diz que’. Não li o relatório do árbitro nem dos delegados. Gente irresponsável sem equilíbrio pode fazer qualquer comentário sobre uma situação que pode ser grave. Mas pode não ser. Como treinador do Benfica e pessoa importante não posso fazer comentários que me coloquem numa situação ridícula, se for caso disso. Por isso espero.

— Este jogo com o Leverkusen é de tudo ou nada?

— A situação é muito óbvia: quando o jogo acabar amanhã, ainda estarão 12 pontos em disputa. Mesmo que tenhamos 0 pontos, podemos fazer 12. E com 12 qualificamos-nos. Agora, se olharmos para 4 jogos, 0 pontos, temos de ser muito, muito, muito otimistas para dizer: ‘olhem, em 4 jogos fiz 0 pontos, mas agora vou fazer 12 e vou-me qualificar. É um jogo importante. Se nós ganharmos estamos completamente no meio da luta, estamos completamente no meio das equipas que vão lutar pela qualificação. Se não ganharmos, a situação fica mais difícil para nós. Mas acho que tem que ser um jogo jogado com a alma de quem quer muito ganhar e ao mesmo tempo sem ter receio desse tipo de responsabilidade. Se o estádio esteve connosco num jogo de Taça da Liga, e eu já percebi que neste país as pessoas dão muito pouca importância à Taça da Liga, posso imaginar que eles amanhã estarão para jogar também.

Grimaldo é o melhor marcador do Leverkusen e é especialista em livres. Algum cuidado extra para não fazer faltas em zona perigosa?

— Obviamente que o Grimaldo é exímio nessa situação muito específica, mas praticamente em todos os jogos há esse alerta, não cometer faltas gratuitas. Mas há faltas que têm de ser inevitavelmente cometidas. Eles são fortes também em lances de bola parada, cruzamentos laterais, pontapés de canto. Têm quatro jogadores acima de 1,90 metros, nós não somos propriamente uma equipa de gigantes, eles são perigosos nos cantos. Grimaldo não é só importante por isso, é um jogador que na dinâmica ofensiva deles é muito importante. Muitas vezes joga aberto, outras vezes vem dentro e joga como médio para tentar mais jogo interior e para tentar ter superioridade no centro do campo. É um jogador excelente e temos de ter a maior atenção. 

— Como tem visto a reação de António Silva depois de perder a titularidade para Tomás Araújo?

— Eu, com três centrais daquela qualidade, não quero cometer a parvoíce de fazer com que um se sinta o terceiro ou que algum sinta que perdeu algum tipo de corrida. No próximo domingo o Otamendi não joga e em situação normal jogará o António e jogará o Tomás. Na semana passada aconteceu a mesma coisa, não jogou o Otamendi e jogaram os outros dois. Em Guimarães jogaram Tomás e Otamendi. No outro dia em casa ficou o Tomás de fora e jogou o António. Tenho três centrais de uma qualidade extrema. Há outras posições onde eu posso ter mais dificuldades, ali é uma garantia fantástica. Eles trabalham todos muito bem, são personalidades diferentes. No treino o António é mais exuberante do que o Tomás, mas são jogadores fantásticos. São jogadores de uma grande qualidade e os dois ainda jovens. Acho que para eles é um privilégio terem o Nico ao lado e poderem aprender dele. E por aí não é problema nenhum.

— A importância crescente de Leandro Barreiro é um alerta para Sudakov?

— O Barreiro tem jogado bem, fez um bom jogo quando começou e depois em Guimarães entrou e esteve bem. Mas eu não considero Barreiro ou Sudakov, um ou outro. Porque podem perfeitamente jogar os dois e até pode acontecer que não jogue nenhum dos dois. Mas são jogadores diferentes. Às vezes há jogadores que ocupam posições parecidas em campo e depois ao nível das funções são jogadores com perfis diferentes. A minha alegria neste momento é que quando eu cheguei foquei-me num grupo mais reduzido de jogadores. E o leque tem vindo progressivamente a ficar maior. Eu começo a olhar para alguns jogadores de maneira diferente. Com olhos mais positivos. E isso ajuda-me. Algum tipo de dúvida pode surgir relativamente a quem faço jogar, mas são problemas bons. E fico realmente contente porque o meu plantel tem vindo a aumentar. Tem vindo a aumentar em opções. 

— Dedic está pronto para ser titular ou tem minutos contados?

Neste momento os jogadores não sabem quem joga e amanhã temos treino de manhã. Relativamente ao Dedic amanhã eu também posso ter um bocadinho mais de dados. Ele entregou-se muito bem à recuperação e o departamento médico fez um trabalho extraordinário com ele. Apareceu em treino pela primeira vez connosco e sem qualquer tipo de limitação. Mas daqui a um par de horas já me poderão dar mais alguns dados, a minha sensação é que ele está para jogar.

— O diretor-geral tem sido um tópico muito discutido nas eleições. Mário Branco ou Pedro Ferreira, proposto por Noronha Lopes. E o José Mourinho não confirmou se está disposto a trabalhar com toda a gente.

— É uma pergunta à qual eu responderei na conferência de imprensa posterior às eleições de domingo. Com toda a honestidade. E prometo-vos que responderei independentemente de o presidente ser o presidente Rui Costa ou o doutor Noronha Lopes.