As memórias de um ex-FC Porto: «Benfica e Bissau? Esse nome não entra aqui...»
Dois anos no FC Porto permitiram a Adramane Cassamá encher o livro de memórias. Atualmente na Finlândia, onde representa o AC Oulu, o lateral-esquerdo de 21 anos jogou de dragão ao peito entre 2022 e 2024. Chegou ao Olival para reforçar os juniores, proveniente do Bissau e Benfica, da Guiné natal, e foi recebido com um batismo de... fogo, ou não tivesse a proveniência o nome do rival dos azuis e brancos.
«No meu primeiro treino no FC Porto, perguntaram-me de onde é que vinha. Disse que jogava no Benfica da Guiné e levei logo resposta: 'Não, esse nome aqui não entra'», começou por contar o defesa a A BOLA. Uma brincadeira de bom gosto, que evoluiu para uma experiência globalmente positiva. «Foi incrível. Vim da Guiné-Bissau, onde o futebol é completamente diferente do que experimentei em Portugal. Consegui enquadrar-me rapidamente. Foi muito importante para a minha carreira», recorda.
Na galeria dos momentos que Adramane guarda com mais carinho estão os treinos partilhados na equipa B com nomes que, agora, são peças importantes no plantel principal. «Foi uma grande experiência. Treinei com o Mora, o Martim Fernandes... Nos treinos via-se que o Mora era especial. Com 16 anos já enfrentava os mais velhos, que já tinham mais de 18 anos. Tem técnica e, acima de tudo, coragem. Quando tem a bola, não tem medo de nada. É só usar a magia dele e nisso é muito bom. Quando o Mora tem a bola, tens de posicionar-te melhor do que ele… E mesmo assim é complicado», afirma Cassamá, entre risos. O lateral aponta o extremo Gonçalo Sousa como outro talento da formação que «pode dar cartas» na equipa principal e fala com especial carinho sobre outra pérola do Olival que, neste momento, ganha rodagem no Moreirense: Vasco Sousa. «É uma pessoa muito boa, super tranquila. Gosto muito do Vasco, da forma de jogar dele e fora de campo também», enaltece.
No final de 2024, Adramane Cassamá rescidiu o contrato que o ligava ao FC Porto. Fora das contas azuis e brancas, decidiu dar novo rumo à carreira, abraçando aventura exótica no norte da Europa. «Senti que naquele momento era importante poder jogar. Eu não sabia se ia ter logo minutos no Oulu, mas senti que era preciso mudar. Nem no plano do treinador estava e, quando apareceu a proposta da Finlândia, pensei que era melhor ir embora e tentar mostrar o que sabia fazer. Quando um jogador tem 20 ou 21 anos, é mais importante acumular minutos do que estar num grande. No FC Porto, faltou estrear-me pela equipa principal», remata.
Muito frio, um sprint a 36 km/h e estreia na seleção
O «muito frio» que se faz sentir em território finlandês é, de forma quase inevitável, o «maior choque cultural» que Adramane Cassamá enfretou aquando da mudança para o AC Oulu, do principal escalão do país setentrional. «Em Portugal também faz frio no inverno, mas nada a ver com o que sentimos aqui. De resto, sinto que a vida não muda assim tanto. É tudo bastante tranquilo», relata o lateral, de 21 anos.
A temperatura, porém, não parece incomodar Adramane dentro de campo: o jovem jogador deu nas vistas com um sprint a 36 quilómetros por hora num jogo da liga da Finlândia. «Na minha posição tenho de ser rápido. Isso conta muito para atacar e para ajudar os meus colegas no momento de defender», analisa o ex-FC Porto.
Com 25 jogos realizados na primeira época ao serviço do Oulu, Cassamá cumpriu, a 8 de setembro último, outro sonho: estrear-se pela seleção principal da Guiné-Bissau. «Não esperava que acontecesse aos 21 anos. É o resultado do meu trabalho e só posso agradecer a quem apostou em mim. Se tivesse ficado no FC Porto, onde fiquei sem jogar na reta final, provavelmente não teria chegado à seleção», admite Adramane.