Britânicos deram a volta ao texto e saíram dos Açores em vantagem na eliminatória (Foto: Eduardo Costa/LUSA)
Britânicos deram a volta ao texto e saíram dos Açores em vantagem na eliminatória (Foto: Eduardo Costa/LUSA)

Apenas um luxuoso 'scotch' poderá contrariar anestesia (crónica)

Açorianos foram melhores e não mereceram a derrota. Há, porém, algumas dores de crescimento nos insulares. Na noite de Dublin pode haver... fado luso

O Santa Clara está a ter dores de crescimento. E isso só acontece a quem tem o mérito de já ter conseguido algo e de pensar em alcançar ainda mais. Porque se estão a lutar por entrar, pela primeira vez na sua história, na fase liga da Liga Conferência, então é porque lograram, em primeira instância, selar o 5.º lugar no campeonato da época passada, e, já na presente temporada, ultrapassarem os obstáculos que tiveram pela frente nas duas pré-eliminatórias anteriores - Varazdin (Croácia) e Larne (Irlanda do Norte).

Porém, pelo meio desta caminha europeia, a formação orientada por Vasco Matos tem sentido dificuldades no início da Liga. Duas derrotas em dois jogos - Famalicão (0-3) e Moreirense (0-1) - podem explicar-se pelo excesso de partidas em pouco tempo, com a agravante de estarmos ainda numa fase inicial, mas a verdade é que, por uma ou por outra razão, a equipa parece algo anestesiada.

E este encontro com o Shamrock Rovers foi já o quarto consecutivo sem qualquer triunfo. Antes disso, os insulares haviam sido derrotados por Moreirense e Famalicão (como já sublinhado), mas também tinham empatado (0-0) com o Larne - valeu, neste caso, a vitória (3-0) clara da primeira mão.

Para se ter uma ideia da dimensão que o Santa Clara atingiu com Vasco Matos ao leme, esta é apenas a segunda vez que a equipa está quatro jogos seguidos sem vencer - acontecera o mesmo entre as rondas 22 e 25 da Liga da época passada, diante de Benfica (0-1), Estrela da Amadora (0-0), Boavista (0-1) e Moreirense (1-1). A excelência do trabalho é inegável, mas, por esta altura, é urgente haver uma reação imediata.

Que até parecia ter efeitos práticos nesta primeira mão do play-off. Os encarnados de Ponta Delgada dominaram quase toda a primeira parte e o golo de Vinícius Lopes, na sequência de um remate de Gabriel Silva que McGinty tinha negado, confirmou a supremacia insular. Porém, em cima do intervalo, o balde de água fria caiu em São Miguel, com Daniel Grant a empatar... contra a corrente.

Os britânicos ficaram mais cómodos para a etapa complementar, período em que o Santa Clara carregou em busca de nova vantagem. Que nunca surgiu. E a água foi ainda mais gelada quando Daniel Mandroiu apareceu no interior da área e rematou colocado para o 1-2 (66'). Isto já depois de dois golos (bem) anulados, um para cada lado - João Costa e Nugent.

Responderam os da casa, mas Gabriel Silva (69'), Paulo Victor (72'), Vinícius Lopes (73') e Pedro Ferreira (81') falharam o alvo.

A anestesia das dores de crescimento poderá ser resolvida com um belo scotch na próxima quinta-feira (20 horas), em Dublin. Se vais à Irlanda... sê irlandês. Porque está (mesmo) tudo em aberto.

O melhor em campo: Vinícius Lopes (6)
Ligado à corrente, especialmente na primeira parte, teve o mérito de aparecer no sítio certo para aproveitar uma bola que havia sido superiormente defendida por McGinty, após remate de Gabriel Silva, para, de cabeça, soltar a festa (ainda que de pouca dura) dos adeptos açorianos. Foi perdendo algum fulgor na etapa complementar, mas antes de sair ainda tentou bisar, com o remate a sair ao lado do poste.

As notas dos jogadores do Santa Clara:

As notas dos jogadores do Shamrock Rovers:

McGinty (6), Cleary (5), Roberto Lopes (5), Grace (5), Grant (5), Watts (5), Healy (6), Nuggent (6), Honohan (5), Gaffney (5), Mandroiu (6), Burke (5), O'Neill (5), McEneff (-) e Barrett (-).

Vasco Matos (treinador do Santa Clara):

Estamos no intervalo da eliminatória e a equipa já demonstrou que consegue dar a volta. Esta é a nossa equipa, tem sido a nossa equipa ao longo dos últimos tempos. Vamos à Irlanda à procura de dar a volta ao jogo. Demonstrámos que somos uma equipa muito organizada, fomos muito competentes no jogo. Faltou-nos, se calhar, aquela pontinha de sorte, mas a equipa deu uma grande resposta. Acredito, sinceramente, que podemos ir à Irlanda e dar a volta à eliminatória.

Stephen Bradley (treinador do Shamrock Rovers):

Acho que mostrámos muitas qualidades que são precisas para ganhar jogos fora de casa na Europa. Nós sabíamos que o que produzimos no Kosovo [frente ao Ballkani] não seria suficiente aqui e que tínhamos de elevar os nossos níveis. Acho que fizemos isso, fomos bravos. Algumas posições causaram-nos problemas, mas em posse estivemos muito confortáveis. Sabemos que eles são uma equipa muito perigosa e vão demonstrar isso na próxima semana outra vez. Mas nós também sabemos que, em Dublin, podemos bater qualquer um. Isso será o nosso objetivo. Não vamos jogar com nenhum outro pensamento que não seja o de ganhar o jogo.

Notícia atualizada às 23h14