Alma até Almeida
Os mais novos não se podem queixar. É certo que não viram Eusébio, Rosa Mota, Carlos Lopes ou Joaquim Agostinho, mas podem afirmar de peito aberto que são contemporâneos de Cristiano Ronaldo, viram Portugal sagrar-se campeão europeu e assistiram à evolução de uma série de desportistas de elite capazes de fazer história nas mais variadas modalidades, do judo à canoagem passando pela natação e terminando nesse exemplo de excelência que tem sido a seleção de andebol.
Claro que tudo isto ainda é pouco para a dimensão geográfica e demográfica do País. Afinal, Portugal está no meio da tabela a nível europeu em dimensão e população e vemos constantemente equipas do mesmo campeonato (ou abaixo de escalão) a apresentarem melhores resultados e mais protagonistas nos principais palcos. Consequência de uma cultura desportiva que se reflete nas respetivas políticas nacionais e locais.
Ainda assim, hoje podemos com facilidade identificar-nos com vários heróis dos tempos modernos, muitos deles em ação neste sábado, quase em simultâneo, desde a seleção de futebol, que começa na Arménia a qualificação para o Mundial na condição de vencedora da Liga das Nações, a um Portugal que raramente anda nestas andanças do basquetebol, influenciado por Neemias Queta, o primeiro português a jogar na NBA (e certamente imune aos internautas que destilam veneno a partir das cavernas de onde nunca sairão) e obviamente a João Almeida, figura cada vez maior do ciclismo mundial, que depois de vencer uma etapa no Giro e ter andado com a camisola rosa durante quase duas semanas é capaz de chegar-se à frente na Vuelta e assumir uma candidatura à vitória final.
Ninguém sabe se tal acontecerá, mas a exibição e a vitória do corredor de A-dos-Francos, ontem, numa montanha asturiana que parece querer beijar o céu faz-nos acreditar de que não só pode ganhá-la como poderia já estar no comando da classificação se, na ausência do extraterrestre Tadej Pogaçar, toda a sua equipa tivesse começado a trabalhar para ele desde o início da prova.
Se heróis como Cristiano Ronaldo já estão na curva descendente (mas ainda a tempo de uma última alegria no Mundial-2026), a boa notícia é que toda esta nova formada de gente talentosa (ao que se junta Diogo Ribeiro) tem muito tempo pela frente e o País certamente vai habituar-se a celebrar com maior regularidade. Porque o resto tem de sobra, como diz o ditado: tem alma até Almeida.