A segunda vida de Grealish

'Para lá da linha' é uma coluna semanal

Qual é a primeira coisa em que pensamos quando ouvimos o nome de Jack Grealish? Imaginamos uma foto tremida, à porta de um bar, olhos semicerrados, discurso arrastado. Comportamentos que o foram afastando da equipa principal do Manchester City. Mas há algo a mudar.

Aos 30 anos, andou apenas 50 quilómetros mais para a esquerda no mapa de Inglaterra e reencontrou-se por empréstimo no Everton. Teve impacto imediato e foi eleito em agosto, pela primeira vez na carreira, o melhor jogador do mês da Premier League; vem sendo titular em quase todos os jogos.

Está na altura de sermos inundados pelos anúncios e iniciativas de Natal de empresas e clubes. O Everton sabe a gema que tem e colocou Grealish numa escola a surpreender um menino de 8 anos com uma história dura: perdeu o pai em bebé, recentemente uma avó e a mãe foi diagnosticada com cancro.

Jack levou o melhor sorriso e convidou o menino, Georgie, para ser mascote no jogo frente ao Arsenal. «Nem tens de entrar comigo, mas gostava muito», soltou-lhe perante uma sala cheia. «Somos melhores amigos, não vos disse?» Ao fazer Georgie feliz, fez também o avô, a mãe, e todos os que ficaram tocados pela ação. Não custa muito.

Contratado ao Aston Villa logo após o Euro 2020 (disputado no verão de 2021) Grealish chegou logo com rótulo: um investimento de cerca de 117 milhões de euros, recorde de transferências em Inglaterra. Uma etiqueta pesada, que custou a aguentar: 39 jogos e 6 golos, na primeira época, depois 50/5, depois 36/3, por fim 32/3, em ano de fim de linha com Guardiola, números misturados com aquelas tais fotos de garrafa na mão.

O extremo admitiu que o comportamento fora das quatro linhas não lhe trouxe benefícios. «As pessoas dizem: 'ele gosta de sair, gosta de festas', e é verdade. Quero poder divertir-me. Provavelmente não escolhi os momentos certos. No City, houve alturas em que não me ajudei, admito-o, mas também não creio que a culpa tenha sido toda essa», disse à Sky Sports.

Perdeu, entretanto, o comboio da seleção de Inglaterra, mas parece no Everton mais feliz do que nunca, confortável com o treinador David Moyes e unânime nas bancadas do estádio Hill Dickinson.

Já circula o meme ‘nunca te apaixones por um jogador emprestado’, mas talvez seja tarde de mais para os adeptos dos ‘toffees’.