A rotação do Sol e da Terra

Se me chamasse Rúben ou Jorge, diria o mesmo: ‘nim’. 24 continua a ser maior do que 20, certo? E Élis, o planeta anão, com o Sol à sua volta

P EDIR a Rúben Amorim que assuma a candidatura ao título é o mesmo que pedir à Terra que assuma que gira à volta do Sol. Não faz sentido. É óbvio. Todos sabem que a Terra anda à volta do Sol e todos sabem que, com 42 pontos por disputar e 10, 12 ou 13 de vantagem sobre o FC Porto (depende do jogo de hoje), o Sporting é candidato ao título. Aliás, o treinador leonino, embora de forma não explícita, já o disse, quando afirmou que, se perder este campeonato, ficará na história do futebol português pelas piores razões. Perguntar a Rúben Amorim por que não assume a candidatura ao título é o mesmo que perguntar a Jorge Jesus por que não assume já a não candidatura ao título. Pode o Sporting não ser campeão? Pode. Pode o Benfica ainda ser campeão? Pode. Mas são hipóteses que, a 22 de fevereiro, parecem bem improváveis. Deve Rúben Amorim assumir, de forma clara, que é candidato ao título? No lugar dele, faria o mesmo: nim. Deve Jorge Jesus assumir que já não é candidato ao título? No lugar dele, faria o mesmo: nim.  

D IZER-SE que as defesas ganham campeonatos e os ataques ganham jogos é tão falso como dizer-se que o Sol anda à volta da Terra. É um mito urbano, que de tanto repetido acaba por quase ser verdade. Mas não é. Houve 33 campeões com a melhor defesa e o melhor ataque. Houve 24 só com o melhor ataque e 20 só com a melhor defesa. E nove sem uma coisa nem outra. Ou seja, se o que aprendi na Escola Primária ainda está válido, 24 é maior do que 20. Logo, tem sido mais importante ter o melhor ataque do que a melhor defesa para que uma equipa vença um campeonato. Basta, aliás, olhar para os 20 campeões deste século. Dezasseis foram-no com o melhor ataque e 14 com a melhor defesa. Podem, pois, continuar a dizer que o Sol anda a cortejar a Terra, rodando sobre ela. Mas não é verdade.

A NDEI enganado de setembro a dezembro de 2020. Pensei que a Terra passara a andar à volta do Sol, como entre 2003 e 2015. A 13 de dezembro de 2020, o Tottenham de José Mourinho liderava a Premier League com 25 pontos em 12 jornadas. Acreditei que estava de volta o treinador furacão que dominou o futebol europeu durante 12 anos. Afinal, em apenas dois meses, os spurs pareceram balão furado: caíram a pique. Nos últimos 12 jogos da liga, ganharam três, empataram dois e perderam sete. Estão agora no 9.º lugar, a 23 pontos (!) do líder Man. City. É a pior entrada em cena do treinador português: apenas 81 pontos nos primeiros 50 jogos na liga por um clube. Ou o Sol deixou de ser Sol ou temos de nos habituar a vê-lo em rotação à volta de Mercúrio, Terra, Vénus, Júpiter, Saturno, Urano, Marte e até de Élis, planeta anão.