A razão das listas negras nos postes das balizas da final do Mundial de 1978
Na final do Campeonato do Mundo de 1978, entre Argentina e Países Baixos, realizada no Estádio Monumental, em Buenos Aires, a base dos postes das balizas apareceu pintada de preto.
Embora nunca tenha sido dada uma explicação oficial, o gesto terá sido uma forma de protesto silencioso contra a ditadura militar de Jorge Rafael Videla, que governava o país na altura. A imagem simbolizava «fumos negros» em memória das inúmeras vítimas causadas pelo regime.
📅 #OTD 45 years ago, the 1978 World Cup kicked off in Argentina. Just 2 years prior, following a coup, a military junta had been established.
— Rhys Richards (@RhysWRichards) June 1, 2023
De facto president Jorge Videla used the opening ceremony to promote a 'World Cup of peace' to unite the fractured country. pic.twitter.com/3uVTQ9doR4
O Mundial de 1978 foi amplamente instrumentalizado por Videla como ferramenta de propaganda, numa altura em que a Argentina vivia sob repressão, censura e desaparecimentos forçados, durante o período conhecido como «Guerra Suja».
'Argentina: The Terrorist Government' — British design (1978) showing Argentine dictator Rafael Videla with Augusto Pinochet, playing table football. pic.twitter.com/z9G5a7KvWy
— Propagandopolis (@propagandopolis) September 22, 2024
De acordo com o jornalista e historiador Ezequiel Fernández Moores, em declarações ao jornal Página/12, pequenos gestos de dissidência simbólica, como este, surgiram nos bastidores do torneio, embora de forma discreta. A referência à pintura preta na base dos postes também é mencionada na obra Fútbol y dictadura, de Gustavo Veiga, que analisa o uso político do desporto durante o regime.
A FIFA nunca comentou oficialmente o episódio e, de certa forma, o então presidente João Havelange até participou no limpar de imagem da ditadura, ainda antes da organização do torneio, numa das habituais visitas de inspeção do organismo, com declarações que caíram mal no seio do povo argentino.
Hoy falleció Luis Menotti, el entrenador de la selección argentina en 1978 que ganó el mundial durante la dictadura de Videla que usó como propaganda.
— Julián Macías Tovar (@JulianMaciasT) May 5, 2024
Poca gente sabe que Menotti refugió durante un mes en su casa a una joven buscada por la Juna Militar a la que ayudó a exiliarse. pic.twitter.com/BUnhs6avNT
O gesto — ainda que subtil e levado a cabo pelos tratadores da relva — tem sido interpretado ao longo das décadas como um símbolo de luto e resistência, contrastando com a euforia futebolística promovida pelo governo militar. Para que levassem a sua avante, foi fornecida aos generais uma explicação que ligava a iniciativa à inspiração em valores tradicionais do futebol do país, exatamente a mesma forma que o esquerdista César Luís Menotti encontrou para vender a sua versão de estilo ofensivo e romântico para carregar a seleção da casa até ao título.
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