A piada com Ronaldo, o plano anti-Yamal e a ausência de ansiedade: tudo o que disse Martínez
– É este o jogo mais especial da sua carreira de treinador? Porque não só é uma final e pode ganhar um título internacional, mas também porque é diante da Espanha. Como é que está a divisão entre o coração e o cérebro na preparação deste jogo?
– Eu acho que, claramente, há um aspeto sentimental. Eu sou espanhol, mas isso é para, em 10 ou 15 anos, yer uma conversa com os netos. Agora, o foco é ganhar a final. E adorei a atitude e o espírito durante o treino de ontem [sexta-feira]. Agora, temos mais um hoje [sábado]. É isso, naturalidade, normalidade, trabalhar bem e preparar uma final, que é muito especial, a quarta na história de Portugal. Acho que essa responsabilidade faz com que possamos dar o melhor de nós.
– Quais as chances de Portugal para este jogo? Já mais do que uma vez, nestes jogos contra seleções de países maiores que Portugal, com população maior do que Portugal, Roberto Martínez aponta um bocado para esses dados, quase como justificação para o porquê de Portugal não ser tão competitivo. Mas eu pergunto se sente, olhando para o plantel de Portugal, que muitos consideram o melhor de sempre, se ele fica a dever alguma coisa ao da Espanha e se, por isso, está abaixo de um 50-50 neste jogo?
– Não, não. Eu diria que o foco é no que nós podemos fazer. Se o nosso desempenho for o mesmo que tivemos na meia-final… Eu acredito muito nos nossos jogadores e no que nós podemos fazer. O adversário é um grande adversário, é o campeão da Europa, campeão da Liga das Nações, mas eu acho que não é um jogo para o aspecto técnico e táctico, é um jogo para mostrar a resiliência e a personalidade que já mostramos contra a Alemanha. Então, agora, acho que nós estamos preparados para ganhar a final. Antes da meia-final, era um jogo difícil, porque precisávamos de mostrar a nossa confiança, de poder jogar olhos nos olhos contra equipas de um nível da Alemanha, de poder fazer isso fora de casa, contra uma equipa com muito bons números em casa, os resultados, os seus desempenhos. Fazer isso à frente dos seus adeptos, depois de 25 anos sem uma vitória, e mais ainda depois de sofrer o primeiro golo… Agora, se pudermos utilizar a mesma personalidade, a mesma resiliência, aquilo que são qualidades intrínsecas do povo português, o esforço, a entrega, a luta e a resiliência, o aspecto técnico e táctico, estamos preparados para ganhar a final.
– Há uma tendência no futebol para avaliar, neste caso, treinadores pelos troféus que ganham ou que não ganham. Isso aconteceu durante muitos anos consigo, na seleção da Bélgica, na geração de ouro, etc. Agora, antes de uma final por Portugal, magoa-o ou deixa-o desiludido que se avalie apenas pelos troféus? Acha que são só os troféus que devem avaliar o trabalho de um selecionador?
– Eu acho que faz sentido. No futebol, estamos para ganhar, e um aspecto para avaliar isso são os troféus. Outro aspecto no futebol de seleções é o ranking. O ranking mundial dá uma mostra da consistência do trabalho. A Bélgica ficou quatro anos consecutivos como número um do Mundo. Mas o futebol precisa de mais: vitórias, número de golos, número de pontos, aspectos mais em detalhe, o que a equipa faz; o chegar ao último terço, número de oportunidades, o espírito, gerir um grupo. Há muitos aspectos onde um treinador, um selecionador, pode ser avaliado. Mas concordo: eu tenho um orgulho muito grande de ser o terceiro selecionador em Portugal a poder preparar uma final. E é nisso que estou focado agora, e vou dar tudo para que os nossos adeptos fiquem muito contentes depois do jogo.
– No jogo com a Alemanha, só com a entrada de Vitinha, Francisco Conceição e Nélson Semedo a equipa melhorou. Vão ser titulares com Espanha?
– Eu acho que não é uma avaliação correta. Acho que o onze inicial fez um jogo fantástico. Controlou o jogo, fez o que nós queríamos fazer durante a primeira hora de jogo. E depois os três jogadores que entram dão aquilo que nós queríamos. Chegar mais no último terço, controlar a bola no campo da Alemanha. Então, a sua avaliação, eu acho que não é correta. Nós fizemos um jogo muito, muito bom, do minuto zero ao último minuto. Mas diferente. Na primeira parte, mais de controlo, defender bem. Parámos totalmente o que a Alemanha faz normalmente, com o jogo interior, com tentar ter seis jogadores dentro da área. Defendemos isso muito bem. Tivemos a oportunidade de criar superioridade numérica com o João Neves na zona interior. Tivemos opções tácticas muito boas. Chegar na baliza foi mais na segunda parte, com a entrada do Chico [Conceição], com o Vitinha, com o Semedo. E é isso que nós estamos a trabalhar durante estes dois anos e meio: ter jogadores com valências diferentes, criar ligações que podem fazer a diferença durante o jogo. E é aqui que afinal é totalmente diferente. A Espanha não é a Alemanha. Eu acho que a Espanha tem aspectos em que é a melhor equipa do mundo. Mas equipa perfeita não existe. Então nós precisamos de trabalhar bem e preparar a final bem e utilizar os jogadores do onze inicial e também os jogadores que terminam o jogo.
– O que tem a dizer dos elogios que Cristiano Ronaldo acabou de fazer-lhe aí mesmo nessa mesa?
– Eu acho que o capitão quer jogar amanhã [risos]. Não, estou a brincar. O Cristiano é um jogador que está a jogar a sua quarta final pela Seleção. É incrível, é um exemplo. E eu adoro a sua fome. É um jogador que ganhou tudo e no dia a seguir começa de zero. E é isso que o Rodrigo... O Rodrigo Mora, o Quenda, o João Neves chegarem à Seleção e poderem trabalhar com o Cristiano é uma aprenda. E espero que amanhã [domingo] seja uma memória para as nossas carreiras. A defesa já... Eu acho que o trabalho da equipa é o que acontece no balneário.
– Como está o ambiente no balneário?
– Nós precisamos de ajudar os jogadores para poderem desfrutar do jogo, para poderem fazer a diferença, para ganharem aos adversários, para enfrentarem os adversários da melhor forma possível. E, em dois anos e meio, o nosso compromisso, o nosso trabalho dentro do balneário foi mútuo. Não só da equipa técnica, mas também dos jogadores. Então, para que os nossos adeptos fiquem tranquilos, as pessoas no balneário estão com o compromisso total e unidas. É um balneário solidário, é um balneário que gosta da responsabilidade de vestir a camisola de Portugal. E amanhã [este domingo] vamos dar tudo para fazer o povo português um povo muito feliz.
– Pode dizer que Portugal tem um padrão de jogo distinto que permite o aproveitamento das grandes virtudes dos jogadores ao dia de hoje, na véspera da final?
– Posso, posso. Eu acho que o trabalho no futebol de seleções é isso. É um processo longo, porque precisamos de procurar as melhores ligações, os melhores conceitos. O que posso dizer hoje é que Portugal não vai mudar amanhã para nada do que não somos para ganhar a final. E é nisso que acreditamos muito. Acreditamos nos conceitos, na qualidade que nós temos, o que podemos fazer. Sem dúvida, estamos a falar de Espanha que tem, provavelmente, o jogo de penetração por fora melhor do mundo, com jogadores que têm capacidade de manter a bola, de abrir espaços por dentro, mas também ataques rápidos. Eu acho que é um aspeto diferente do futebol espanhol utilizar os contra-ataques como eles fazem. Então, nós precisamos defender isso bem, mas depois a chave para Portugal ganhar é que nós precisamos de ser perfeitos no que não somos tão bons. E não tentar ser pragmáticos, ou tentar mudar a nossa ideia, ou dar a bola a Espanha, porque seria o melhor para eles.
– Já falou da questão sentimental, mas imagino, porque eu estive lá e vi os seus amigos e a sua família, como é que vai viver Belaguer o dia de amanhã? E para si pessoalmente vai olhar para o céu e saber que alguém está lá em cima a olhar para si…
– Sim. Eu diria que os amigos são fáceis. Os amigos não podem perder. Ganhe quem ganhar, será uma vitória para eles. Adoram a sua seleção e agora adoram Portugal. Então, é um jogo em que não há uma equipa perdedora. E eu estou aqui porque o meu pai foi uma grande influência e acho que isso é mais forte.
– Duvido que alguém tenha acertado no onze inicial para o jogo com a Alemanha. Foi um pouco surpreendente para todos. Está a preparar, assim, mais alguma surpresa?
– Eu acho que vocês já conhecem como gosto de trabalhar. E a decisão do onze é feita depois do último treino [n.d.r.: foi após a conferência]. O que nós trabalhamos, como os jogadores se sentem nesse momento… há muito a decidir, a avaliar e a sentir durante o último treino. Mas o que eu posso dizer é que acredito em todos os jogadores e isso é uma vantagem, porque não há um 11. Há uma ideia de jogo. E é importante que amanhã [este domingo] a nossa reação à perda seja perfeita, porque se deixamos a Espanha utilizar os contra-ataques, utilizar as ações rápidas… É a melhor seleção do mundo. Mas precisamos de fazer tudo aquilo em que nós somos muito bons. Já mostrámos contra a Alemanha que podemos manter a bola, podemos defender com bola, podemos controlar o jogo com bola, fora de casa, na Alemanha e à frente de um estádio cheio de adeptos alemães. Então é isso que nós precisamos de fazer. A mesma personalidade, ser muito, muito bons naquilo que nós podemos fazer e depois reagir rápido e defender bem, frente a uma equipa que tem uma qualidade no jogo de ataque excepcional.
– Estamos a horas da final. Como é que lida o Roberto Martínez e os jogadores? Como é que lida com a tal ansiedade que é normal aparecer nesta altura?
– Não há ansiedade. É o contrário. Nós temos uma oportunidade de fazer história. Ansiedade é quando há uma situação em que podemos perder qualquer coisa. Aqui, estamos onde queremos estar. É o décimo jogo numa competição que, como já disse, é o formato mais exigente do futebol mundial, porque jogar dez jogos durante dez meses não é só um torneio. É uma liga dentro do futebol de seleções. Então agora estamos onde queremos estar. O espírito no hotel é muito bom. E agora temos mais um membro da família da Seleção. Parabéns para o Gonçalo Ramos e para a Margarida. Ontem tivemos a chegada do Bernardo [Gonçalo Ramos foi ontem pai e só hoje se juntou de novo à Seleção]. Então estamos muito felizes, tranquilos, focados. E temos mais um treino para nos divertirmos e nos prepararmos bem para a final.
– A Espanha no Europeu foi praticamente inalcançável. Mas este ano já teve uma eliminatória, por exemplo, nos quartos de final contra os Países Baixos, que acabou 5-5. E, na meia-final das Nações, 5-4 com França. Acha que a Portugal tem benefício desse jogo que a Espanha impõe, quase de futebol de rua, até porque disse que a Espanha não é perfeita?
– Não, não, não. O que eu disse era a valorizar Espanha, não era uma crítica em nada. Eu acho que a seleção espanhola, sem dúvida, é uma das melhores. Eu diria que é a melhor seleção do mundo… em certos aspetos. Claro, o importante é que no jogo possamos fazer uso dos outros aspectos. Mas isso não é com Espanha, é com todas as equipas do Mundo. A equipa perfeita, que se fecha bem, que defende à zona, que contra-ataca, que tem qualidade no jogo interior, que tem qualidade para o jogo de fora, que é boa no ar, que é boa na bola parada, isso não existe. O que temos é uma seleção que ganhou, que é campeã da Europa, que é campeã da Liga das Nações, e na qual o Luis de la Fuente criou um espírito no vestuário que parece um clube, mais do que uma seleção, e isso faz com que, quando os jogos se tornam difíceis, porque não há jogos fáceis, a equipa tem a capacidade de ser competitiva. Então, você está a falar que não vejo aspectos negativos na seleção. Vejo o que existe no futebol, que todos as equipas têm pontos fortes e pontos menos fortes, depende do que aconteça dentro do jogo, e o que aconteça nos momentos chave das partidas e que podem ter um significado no resultado final.
– Como tem visto o trabalho de De la Fuente como selecionador de Espanha? E, há dois anos e meio, teve alguma conversa com Espanha para ser o selecionador depois da saída de Luís Enrique?
– Vou responder já à segunda, que é mais fácil: não, não tive. Depois, falar do Luis de la Fuente enche-me de orgulho, porque era um treinador que segui muito bem, o que ele fez com os sub-21 de Espanha. Naquela época, eu era selecionador da Bélgica e estava a seguir o campeonato sub-21, e o que fez o Luis de la Fuente naquele torneio e já se via a capacidade que ele tem de liderar, a capacidade que ele tem de gerar confiança e dar aspetos positivos aos jogadores e criar equipas ganhadoras. Então, para mim, não foi uma surpresa. Todos os selecionadores estão na mesma lupa. É ter de ganhar, mas eu acho que as suas vitórias não falam por ele sozinhas: ele criou uma equipa contra a qual é agora mais difícil de jogar, porque é um equipa que pode pausar o jogo e ser muito boa e que pode acelerar o jogo, o ritmo, e ser muito boa.
– Como tem visto a explosão de Yamal? Tem só 18 anos…
– O mais incrível, sendo um extremo, é a capacidade para ser consistente. Eu acho que há posições no campo de jogo em que é fácil ser consistente. Mas a de extremo é a mais difícil para ter consistência. Como vem a consistência? Muitas vezes com experiência, com saber o que esperar. Estamos a falar de uma situação que é única no futebol. É um jogador estelar, um jogador que marca a diferença, porque ter a consistência como extremo ao nível de exigência que tem no clube e na seleção é de um jogador único. Da nossa parte, focarmo-nos em tentar travá-lo seria um erro. Um erro pensar que a seleção espanhola é só um jogador. Nesta final, sem bola, temos de ser muito solidários e defender muito bem em equipa. E, depois, com a bola, também fazer o que nós podemos fazer.
– Elogiou muito Luís de la Fuente. Gostava de estender mais a lista, incluindo-o e a colegas seus como Luís Enrique, Guardiola, falar de tudo o que está a fazer também o futebol espanhol em categorias inferiores, na categoria feminina. Somos, junto a vocês, a Portugal, co-organizadores de um Mundial. Poderia dizer, para não falar só de equipas, que o futebol espanhol está no momento mais importante da sua história?
– Eu diria o futebol ibérico. Primeiro, encantar-me-ia ter muito tempo para explicar o que é Portugal no aspecto de formação. Estamos a falar de um país com pouco mais de 10 milhões de habitantes e onde a estrutura de formação é, sem dúvida, para mim, a melhor da Europa, à vista do tamanho do país, do número de jogadores que se está a formar e ao nível a que se está a formar. E, depois, mencionou um grupo de treinadores que eu acho que tem um nome comum, que é Johan Cruyff. Acho que hoje é um dia muito bonito para lembrá-lo e agradecer-lhe por nos dar esta luz, por entender o jogo de uma maneira muito diferente e fazê-lo de uma maneira que seja atrativa para aquele que gosta do futebol, não apenas a seleção ou o clube que acompanha. Então, estou totalmente de acordo que espero que os próximos anos o futebol ibérico, e agora com o Mundial-2030, sejam anos em que podemos crescer juntos e que a final de amanhã… ganhe Portugal, mas que sempre tenhamos a Espanha como referência.
– Esta final é a da Liga das Nações. Mas podemos imaginar final igual no Mundial-2026?
– Quando começas a olhar o que é a Liga das Nações, o formato, que está a crescer, estamos a falar agora das melhores seleções da Europa, sem dúvida, e ter uns quartos de final, que há um nível muito, muito, muito parecido, os detalhes fazem de ti uma seleção melhor, porque ter de ganhar nos penaltis, ter de ganhar em momentos-chave… Os jogos são tão difíceis que te preparam como seleção para seres melhor. Eu acho que quando adicionas Argentina e Brasil então estás a falar do maior nível de futebol de seleções do mundo, sem dúvida. Claro, competições como a Liga das Nações ajudam muito a preparar Mundiais. No futebol de seleções não tens muito tempo para treinar, não tens muito tempo com os contatos para a sincronização dos conceitos tácticos no treino, então os jogos, o nível dos jogos, o nível das competições ajudam muito a ver onde podemos chegar. Para nós, sempre desde o dia que cheguei, o objetivo global era o Mundial 2026 e tentar fazer o que nunca se havia feito em Portugal, que é ganhar um Mundial. Então, eu acho que o Europeu, em que fizemos uma qualificação de 10 vitórias, fizemos coisas que são diferentes, que nunca se fizeram e isso ajuda muito ao grupo, se queremos ganhar um Mundial. E a final de amanhã faz parte desse processo.
– João Palhinha não teve uma época tão boa e mesmo assim está aqui no grupo de Portugal. O que lhe traz ele e já agora também ao Bayern?
– João Palhinha é um daqueles jogadores que se vê pouco e sua influência é total. E quando falo de influência total, não é apenas no dia do jogo, é nos treinos: tem uma intensidade, uma exigência. Ele é um jogador que não temos muitos desse perfil em Portugal. Um jogador muito inteligente taticamente, um jogador que pode defender muito perto dos centrais, é um jogador que pode ter uma capacidade de utilizar o passe longo, o passe curto, que abre muito o jogo. E foi um ano difícil para ele, a nível pessoal, e eu falei muito com o seu treinador, com o Vincent Company, e nós dois temos a mesma opinião, que foi um ano muito difícil e que ele nunca baixou os braços, e ele sempre está para ajudar. E é um dos jogadores em que sempre se pode confiar em qualquer papel ou momento que seja, e é por isso que é um jogador essencial para nós. Com mais minutos, com menos minutos, a competência no meio-campo de Portugal é máxima, mas eu espero o melhor de Joao Palhinha para a próxima temporada, que ele tenha uma boa pré-temporada, e que, agora, no Mundial de Clubes, que o Vincent Company possa tirar o melhor de Joao Palhinha.
– Portugal perdeu o primeiro jogo contra a Dinamarca, e no final chegou às meias-finais. Com a Alemanha, sofreu o primeiro golo, mas no final ganhou... Qual o segredo?
– Podemos dizer que talvez os jogadores gostem de mostrar essa vontade de ganhar, e talvez nós possamos dizer que é bom. Mas arrancar mal não é tão bom. É muito interessante, porque nós tivemos um período em que nos qualificamos para o Euro, com 10 vitórias, e faltava-nos ter um jogo em que sofressemos o primeiro golo ou que perdessemos para testar a reação. Hoje, eles acreditam muito, estão muito felizes em entrar em uma posição difícil, para reagir e retornar ao jogo. Talvez a mensagem agora seja diferente. Mas vamos voltar aos tempos antigos, vamos fazer isso porque será muito mais fácil [risos]. Uma equipa vencedora precisa ser resiliente, precisa de enfrentar esses momentos difíceis durante os jogos, e esses momentos difíceis podem ser um golo sofrido e nascido de uma má decisão dum jogador, uma oportunidade falhada de baliza aberta. E o que eu adoro no jogo com a Alemanha é que nós tivemos reação e, depois, o apoio que mostrámos para cada um e foram esses momentos que nos permitiram vencer o jogo.
– Falou sobre o futebol ibérico. Vê alguma diferença entre como o futebol é ensinado em Portugal e como é ensinado em Espanha?
– Sim, eu acho que... (Quanto tempo temos, Chico?) Não acho que haja tempo suficiente para entrar nessas conversas, mas é diferente, e é muito similar ao mesmo tempo. O jogador espanhol e o português compartilham algo, que é amarem a informação tática, ao mesmo tempo que gostam de ser competitivos. Então, não é um ou o outro, eles amam ambos. E isso é difícil de encontrar noutros balneários. Normalmente, há o jogador criativo, o que tem a intuição, o que quer informação tática, e depois há o competitivo. Eu acho que no futebol ibérico, o que temos é uma mistura. O jogador cresce com muita informação, mas ele quer ser competitivo e precisa de vencer para sobreviver, para se tornar um jogador profissional. O processo é muito demorado. Então essas são as similaridades. Em Espanha, é um país maior, tem diferentes estilos. O norte não é o mesmo que o sul. Provavelmente diferentes escolas, diferentes treinos e formas de pensar o jogo. Em Portugal, é similar. O norte e o sul são diferentes, mas é um país mais próximo. Há muitos, muitos aspectos que são muito diferentes. Mas a similaridade é que o tipo de jogador combina os dois grandes aspectos.