A história do título fantasma atribuído ao Rosario Central de Di María
A 20 de novembro de 2025, Di María recebeu o primeiro troféu da carreira no futebol argentino numa reunião nos escritórios da Associação de Futebol Argentina (AFA). Ao lado de dirigentes do clube Rosario e do capitão Jorge Broun, o ex-Benfica recebeu a taça de Campeão da Liga, porque o clube foi a equipa que ganhou mais pontos no conjunto dos Torneios Apertura e Clausura. «É a melhor equipa do ano na Argentina», explicou a AFA.
A polémica começou imediatamente com este anúncio. O troféu só foi criado no final desta temporada de 2025, após a conclusão do Apertura e antes da fase a eliminar do Clausura. Não se sabia que ele estava em jogo ao longo de todo o campeonato.
Aumento da confusão
O campeonato argentino mudou de formato em 2025, ao adotar o mesmo modelo de outros países da América Latina: a dos torneios Clausura e Apertura. 30 equipas dividem-se em dois minicampeonatos, chamados de zonas. Os oito primeiros classificados de cada zona avançam para um play-off, onde se decide o vencedor de cada torneio.
Por fim, o campeão argentino é definido numa final entre o vencedor do Apertura e o do Clausura. Por isso é que este título fantasma que o Rosario Central ganhou causou tanta polémica, porque não estava previsto nos modelos competitivos do campeonato.
Destinado a premiar a equipa que fez mais pontos no conjunto dos torneios Apertura e Clausura, o troféu é equivalente à Supporters Shield da MLS, ganho pela equipa com mais pontos na fase regular. A MLS não lhe atribui a mesma importância do título de campeão, definido sim nos play-offs da prova.
Ainda assim, note-se que este título não apareceu do nada. Há uns anos, River Plate e Boca Juniors já tinham proposto a criação de um troféu para a melhor equipa do campeonato na fase de regular (a pontos corridos). Mas a proposta nunca se materializou.
Campeão sem títulos
Até que a AFA decidiu torná-lo realidade e atribuí-lo com enorme rapidez, antes do início do play-off do Clausura. E no primeiro jogo a seguir a ser coroado o Campeão da Liga, o Rosario Central foi eliminado nos oitavos de final desse torneio.
Ou seja, a equipa vai acabar 2025 sem ganhar qualquer troféu (pelo menos daqueles que estavam previstos no início da época). Perdeu com o Hurácan nos quartos de final do Torneio Apertura, foi eliminado pelo Unión nos 16 avos de final da Taça e, na última semana, caiu nos oitavos do Torneio Clausura perante o Estudiantes. Não ganha o campeonato, nem a Taça, mas foi considerada «a melhor equipa do ano da Argentina» pela AFA. E pelo momento em que essa distinção surgiu é que nasceu toda a polémica, agravada com a guarda de desonra do Estudiantes.
Castigos e acusações
Instruídos a receberem o Campeão da Liga, os jogadores do Estudiantes voltaram as costas a Di María e companhia. Resultado: o onze titular foi suspenso dos próximos dois jogos (quartos de final e, eventualmente, meia-final do Clausura), e o presidente Juan Sebástian Verón foi suspenso por seis meses de qualquer atividade desportiva.
Câmaras captaram jogadores dos Estudiantes a darem os parabéns a Di María no túnel de acesso ao estádio e Verón garantiu que a ação não foi contra o Rosario Central, mas sim contra a própria AFA.
E as novidades deste título podem não ficar por aqui, já que a AFA pondera entregá-lo de forma… retroativa. Está-se a discutir a opção de atribuir este troféu às equipas que tiveram mais pontos acumulados em anos anteriores, tais como o Vélez Sarsfield e River Plate.
Polémicas anteriores
O futebol argentino não é estranho a decisões controversas. Em 2024, com o campeonato a meio, a AFA realizou uma Assembleia-Geral a 17 de outubro onde cancelou qualquer descida de divisão no final dessa época. O objetivo era aumentar a prova de 28 para 30 equipas.
Com esse aumento, o formato também mudou, ao acabar-se com um formato de pontos corridos entre todas as equipas para se dividir a prova entre os torneios Apertura e Clausura.
O método de decidir as duas equipas que descem de divisão também é invulgar: uma delas é a que terminar a época com menos pontos ganhos no total, entre o Apertura e o Clausura; a outra equipa que desce é a que tiver a média de pontos por jogo mais baixa ao longo das três épocas anteriores.
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