Um futebol de saldo e em fim de estação (crónica)
Felippe Cardoso comete falta sobre Pepe ao tentar chegar à bola (Foto: Carlos Barroso/LUSA)

Casa Pia-FC Porto, 1-2 Um futebol de saldo e em fim de estação (crónica)

NACIONAL21.04.202422:05

As equipas grandes têm responsabilidade de evitar a vulgaridade no futebol português;uUm núcleo portista estranhamente cansado

Um espetáculo menor, uma vitória portista justa, apesar de um aparente duelo de desinteressados; típico jogo de fim de estação, com futebol de saldo.

Talvez haja quem aceite e tolere um jogo assim, pelas circunstâncias. O Casa Pia apenas quer cumprir o objetivo de não cair em zonas perigosas de descida; o FC Porto já não pode ser campeão, muito dificilmente pode esperar ser segundo e mesmo que não seja propriamente irrelevante ficar em terceiro ou quarto, a verdade é que não existem outros benefícios desportivos que não sejam os da dignidade e da honra do nome.

Sabe, porém, o FC Porto, que esta época já não se ganha no campeonato. Poderá ainda ter a esperança de não ser uma época totalmente falhada, se vencer a final da Taça e se, na próxima jornada, no Dragão, vencer o Sporting, mais do que provável campeão. Um género de prémio de consolação para adeptos desconsolados.

Enfim, o jogo em Rio Maior não era especialmente apelativo. E, no entanto, nós devemos zelar pelas virtudes do futebol e ser suficientemente exigentes para não aprovar e promover a vulgaridade. O futebol português precisa é de maior competitividade e de motivos de interesse, seja em que jogo for. Principalmente, os chamados grandes têm uma responsabilidade maior e não podem ficar satisfeitos com vitórias mornas em águas paradas.

O FC Porto foi melhor equipa - mal seria que não fosse - em largos períodos do jogo, mas chegou a arriscar a vitória em momentos de desconcentração e não disfarçou, sequer, uma fadiga precoce que, em alguns casos, chegou a parecer preocupante.

À espera de Evanilson

Um princípio de jogo hesitante, dos portistas, que podia ter causado dano. Não causou e rapidamente a equipa se impôs, corrigiu posições, marcou o ritmo e fez fluir o seu futebol no habitual desequilíbrio que consegue nas alas - Francisco Conceição, pela direita e Galeno, pela esquerda. Precisava de um ponta de lança de maior rendimento. Não podia ter Evanilson, teve de jogar com Taremi, que continua a anos luz do grande Taremi de outras eras. A notícia boa é que o FC_Porto não vai precisar de esperar muito pelo brasileiro, que jogará fresquinho e ambicioso o próximo grande clássico. E só isso poderá fazer toda a diferença na qualidade de ataque dos dragões.

Grande golo fez diferença

Ao intervalo, um estranho empate no resultado. Tinha havido, apesar de tudo, mais Porto e a verdade é que o Casa Pia foi cometendo erros sobre erros nas desvairadas tentativas de sair a jogar com bola. O FC Porto poderia ter resolvido, de vez, o jogo, mas adiou a solução e numa fase de maior adormecimento, os casapianos aproveitaram para ter momentos de maior posse e acabaram, mesmo, por chegar ao empate e, depois, ameaçar seriamente a baliza de Cláudio Ramos. Para o FC Porto foi um final de primeira parte de inesperado sofrimento.

Sérgio Conceição considerou o risco e obrigou a equipa a ter outra intensidade, mais pressão sobre o adversário e mais velocidade com bola. Não precisou de muito tempo para voltar à vantagem. Um soberbo golo de Nico Gonzalez resolveu o problema e acabaria por fazer toda a diferença.

À medida que o jogo se foi arrastando num futebol casamenteiro, o Casa Pia percebeu que até podia fazer uma surpresa e ganhar mais um pontinho na sua luta pela continuidade na casa dos grandes. Gonçalo Santos mexeu na equipa tentando dar-lhe mais vida e poder de ataque. Não foi especialmente feliz nas mudanças. O novo trio de ataque esteve longe de se mostrar melhor do que a trilogia criada por Yuki, Felippe e Nuno. Mas o FC Porto não deixou de continuar a correr riscos. Alguns dos seus jogadores nucleares começaram a exibir uma fadiga pouco expectável e nada habitual, e Sérgio foi tardio a mudar. Talvez pela consciência de que não tinha um banco de luxo onde ir buscar trunfos para jogar. Não salvou a exibição, mas salvou a vitória.