«O valor do trabalho e o mérito do rigor», a crónica do FC Porto-SC Braga
Francisco Conceição em ação no FC Porto-SC Braga (Foto: Grafislab)

FC Porto-SC Braga, 2-0 «O valor do trabalho e o mérito do rigor», a crónica do FC Porto-SC Braga

NACIONAL14.01.202423:54

Primeira meia hora de luxo dos portistas intimidou o SC Braga; plena dedicação dos jogadores ao plano estabelecido; fácil o que era difícil

É compreensível dizer-se que na viragem de um campeonato ainda existem muitos jogos pela frente e, por isso, muitas oportunidades de tentar afirmar o que está bem e emendar o que está mal. No entanto, portistas e bracarenses sabiam bem o que este jogo significava. Depois das vitórias do Sporting e do Benfica, se o FC Porto perdesse pontos neste jogo, o atraso para os dois rivais de Lisboa tornar-se-ia quase irrecuperável. 

A verdade é que o FC Porto já perdeu 13 pontos nesta primeira metade da prova e na época passada, mesmo ficando em segundo, perdeu, no total, apenas mais quatro. Mas também para o Braga este jogo marcava uma fronteira clara no que diz respeito à luta pelo título, e, assim, a derrota, mais do que justa, sofrida ontem no Dragão deixou a equipa a dez pontos do líder e a nove pontos do segundo. O que significa que o sonho de um título se vai manter como sonho.

Novo e vibrante FC Porto

Sérgio Conceição terá certamente trabalhado muito na construção de um novo Porto sem Taremi e a jogar, agora, num 4x3x3 versátil, apenas com um ponta de lança (Evanilson). E também os jogadores muito trabalharam este novo sistema, para se apresentarem tão irrepreensíveis tanto no desenho como no desempenho. Não é fácil mudar a lógica de jogo de uma equipa, de lhe dar outras linhas de pensamento, outras rotinas, novas formas de ocupação de espaços e, sobretudo, garantir a solidez de um equilíbrio nos momentos com bola e nas situações em que era preciso conquistá-la.

O segredo maior esteve na disciplina e disponibilidade tática de Evanilson, quase sempre a sair da zona dos centrais adversários, tendo uma presença quase constante no jogo e na garantia de uma pressão persistente nas alas, quer por Francisco Conceição, na direita, quer por Galeno, na esquerda.

A verdade é que a novidade portista, executada com rigor e eficácia, perturbou a equipa de Artur Jorge e, de tal forma, que só depois da meia hora o Braga conseguiu, enfim, entrar no jogo.

A destruição do sonho

Demorou tempo o regresso do Braga para a segunda parte. O que pressupõe que Artur Jorge tivesse muito a dizer e a mudar. Fosse o que fosse que o treinador do Braga tivesse dito, por muito que quisesse fazer acreditar no sonho de uma mudança radical no sentido do jogo, a verdade é que esse sonho foi rapidamente destruído com o golo (de penálti) marcado por Evanilson logo no início. 

O desalento de uns tornou-se, como sempre acontece, a força de outros. Aquele segundo golo tornou o jogo ainda mais cómodo para o FC Porto. Porque a equipa se sentiu segura e porque o seu adversário se fez regressar à instabilidade mostrada na primeira meia hora, quando a equipa se sentia ameaçada quando não tinha a bola e demasiado nervosa e até disparatada quando a tinha.

É verdade que a sensação que ficou foi a de que o FC Porto ganhou com facilidade um jogo que se previa difícil. Porém, foi fácil porque os jogadores portistas o tornaram fácil. Eles foram de uma dedicação plena ao plano traçado por Sérgio Conceição. E, por isso, mesmo quando a equipa pareceu não ter outra ambição que não fosse a de controlar o jogo e o resultado, a verdade é que o conseguiu à custa do valor essencial do trabalho, que obrigava, não raras vezes, jogadores como Francisco Conceição ou até mesmo Evanilson a defenderem na sua grande área.

Daí que muitas figuras habitualmente essenciais no Braga se tivessem eclipsado no jogo e que tenha parecido tão insuficiente a criatividade diferenciadora de Djaló. Apenas uma exceção num lance de rara oportunidade, quando Ricardo Horta surgiu a dois passos da baliza a desviar a bola para um previsível golo, negado por Diogo Costa com uma defesa de excelência e reafirmando a tal lenda de que os grandes guarda redes das grandes equipas não são aqueles que defendem muito, mas aqueles que salvam golos que podem mudar a história de um jogo.