O génio, a braçadeira e um chapéu perfeito: a crónica do Benfica-Aves SAD

O génio, a braçadeira e um chapéu perfeito: a crónica do Benfica-Aves SAD

NACIONAL21.12.202323:41

Roger Schmidt começou a ganhar o jogo quando não correu riscos e jogou com todas as estrelas. Oportunidade para pensar no futuro com João Neves, o capitão António Silva e a arte de Tiago Gouveia

O Benfica voltou ao Estádio da Luz depois do dia mais difícil para Roger Schmidt, após o empate com Farense quando, além de ruidosa assobiadela, alguns adeptos arremessaram objetos, como garrafas de água, em direção ao treinador no momento em que tirou João Neves. Daí para cá, andaram os encarnados lá por fora a fazer pela vida: vitória decisiva na Áustria, frente ao RB Salzburgo, que lhe permitiu continuar nas competições da UEFA, mesmo que caindo para a Liga Europa; triunfo ainda mais determinante em Braga, deixando a águia a voar alto, muito perto da liderança da Liga, que pertence ao Sporting. E esta quinta-feira, no penúltimo jogo do ano, garantiu presença na ‘Final Four’ da Taça de Liga com um 4-1 que é castigo demasiado pesado para um Aves SAD que mostrou qualidade e até esteve a ganhar com golo de Mercado.

Roger Schmidt começou a ganhar o jogo com as opções que teve, mostrando que não era jogo para poupanças, que era noite de olhar para o Aves SAD como se fosse a melhor equipa do mundo, como se fosse adversário temível. Entrou, pois, na máxima força, sem correr riscos, com um onze onde estavam todas as estrelas... Di María, Rafa, João Neves, João Mário, Kokçu, Trubin...

O Benfica fez uma única mexida, no centro de defesa, com Tomás Araújo no lugar de Otamendi e apenas porque o argentino não jogará frente ao Famalicão no último jogo de 2023, na próxima jornada da Liga, e por isso era fundamental dar minutos ao jovem central de apenas 21 anos.

Entrou com pressa o Benfica. Pressa de resolver cedo, e se João Mário permitiu defesa a Trigueira logo no primeiro minuto, Kokçu teve um tiro violentíssimo que só foi devolvido pelo poste. Primeiras escolhas, futebol de primeira.

A SURPRESA DE MERCADO

Estava o Benfica a dominar a partida, a conseguir soltar Di María e Rafa, a ter em João Neves e Kokçu dupla particularmente inspirada, quando o Aves SAD mostrou que iria cumprir a promessa de jogar para ganhar: quando João Neves perdeu a bola a meio-campo, a equipa visitante conseguiu libertar John Mercado, que rematou forte, colocado, uma bomba que entrou no ângulo da baliza de Trubin. Que golo! Que surpresa!

A jogar em 4x2x3x1, com Nenê, o homem da frente, a ser servido (e bem...) por um trio de médios competentes — Vasco Lopes, Bernardo Martins e John Mercado —, o Aves SAD colocava à prova a solidez defensiva do Benfica e a sua eficácia ofensiva. E se foi João Neves a falhar no golo do adversário, foi também o menino bonito da Luz a ter momento de génio, tirando três adversários do caminho e oferecendo o golo do empate a Di María. E logo depois veio a reviravolta e com mais um momento de magia, jogada perfeita, com Di María a encontrar Aursnes e o norueguês a oferecer o segundo a João Mário.

GERIR E OLHAR PARA O FUTURO

Lembra-se o leitor da promessa de Marco Leite, adjunto de Jorge Costa — o treinador não esteve no banco porque cumpriu castigo —, de que o Aves SAD não ia passear a Lisboa, que iria querer discutir o jogo e logo no início da segundo parte Nenê colocou a bola no fundo da baliza. Ainda houve ténue festa, mas o fora de jogo não deixou que o empate voltasse ao marcador.

Antes de se chegar à hora de jogo, com a passagem à ‘Final Four’ praticamente garantida — os encarnados poderiam até perder, desde que por apenas um golo —, Roger Schmidt mexeu, tirando Rafa, Tengstedt e João Mário. Lançou Gonçalo Guedes, Arthur Cabral e mais um jovem, Tiago Gouveia

Momento para o treinador pensar o futuro, não no futuro próximo, nas próximas jornadas, mas muito mais à frente: João Mário deu a braçadeira a António Silva e isto de ser capitão do Benfica aos 20 é qualquer coisa de incrível. 

E preparar o futuro também quando lançou Tiago Gouveia bem mais cedo do que é costume e teve como resposta do menino do Seixal um chapéu perfeito, um golo muito bonito. «Sonho com este momento há 22 anos, consegui concretizá-lo esta noite [marcar na Luz], mas não quero ficar por aqui. Com respeito pelo Aves e pela Taça da Liga, um jogador ambiciona sempre jogar mais e em competições melhores», disse. Certamente que não tardará que isso seja o presente.