FC Porto: Pavão, 50 anos sobre a morte
O fatídico minuto 13 da jornada 13, o anúncio nos altifalantes do estádio, o choque
Eram 15 horas em ponto da tarde de 16 de dezembro de 1973, dia cinzentão e a prenunciar chuva, quando Porém Luís, árbitro de Leiria, juntou ao capitães de FC Porto e V. Setúbal no círculo central do Estádio das Antas para dar início ao jogo da 13.ª jornada de 1973/1974. De um lado, Fernando Pascoal Neves, aka Pavão, com a braçadeira de capitão; do outro Carlos Cardoso.
Os adeptos do FC Porto andavam desconsolados, pois, apesar do regresso do feiticeiro Béla Guttmann, treinador bicampeão europeu pelo Benfica em 1961 e 1962 e que levara os azuis e brancos, em 1958/1959, ao seu último título de campeões nacionais, a equipa perdera já contacto com os dois velhos rivais, Benfica e Sporting, mas também do V. Setúbal, líder do campeonato à entrada para essa fatídica 13.ª ronda.
Porém, com a contratação do peruano Teófilo Cubillas, uma das maiores figuras do Mundial-1970, projetada para janeiro de 1974 e com a perspetiva de, ganhando ao V. Setúbal, diminuir para três os pontos de atraso para a liderança da prova, os portistas quase esgotaram as bancadas das Antas.
O onze do FC Porto era composto porTibi; Rodolfo, Ronaldo, Rolando e Guedes; Oliveira, Pavão e Bené; Abel, Marco Aurélio e Nóbrega. O do V. Setúbal, orientado por José Maria Pedroto, tinha Joaquim Torres; Rebelo, Mendes, Cardoso e Lino; Matine, Octávio e José Maria; Câmpora, Duda e Jacinto João, o famoso JJ.
Treze minutos depois do primeiro apito de Porém Luís, Pavão recebeu a bola, fez um passe na direção do jovem Oliveira, gritou-lhe palavras de incentivo e caiu.Caiu de bruços na relva molhada pela chuva miudinha e não mais se ergueu, fulminado por problema cardíaco. Pavão, aos 26 anos, tombara nas Antas, morrendo em combate ao minuto 13 da jornada 13 de 1973/1974, mas não mais sairia do coração dos adeptos portistas e também do daqueles que, não o sendo, olhavam para o capitão do FC Porto como uma figura de referência do futebol português e também já da Seleção Nacional.
Pavão foi assistido em pleno relvado pela equipa médica do FCPorto, a qual desde logo percebeu, tal como todos os jogadores das duas equipas, que algo gravíssimo se passara e que muito dificilmente Pavão voltaria a ser Pavão. Foi ainda transportado para o Hospital de São João numa ambulância da Cruz Vermelha, local onde o óbito foi confirmado, mas não divulgado de pronto.
16 dezembro 2023, 10:13
Pavão, 50 anos da morte: «Fez-me um passe longo, gritou ‘vai miúdo’ e caiu»
Ainda hoje, passados 50 anos, António Oliveira tem bem gravadas na memória as últimas palavras de Pavão antes de cair inanimado. Uma viagem ao mundo de Fernando Pascoal das Neves pela voz de quem com ele conviveu de perto, na qual não faltam elogios ao jogador e, sobretudo, ao homem.
O jogo continuou, com Vieira Nunes no lugar de Pavão. Continuou, mas era como se não tivesse continuado. O FC Porto venceria por 2-0, golos de Abel Miglietti e Marco Aurélio, mas quase não houve festejos, antes já o velar do corpo de um jogador que não era um qualquer — era o capitão do FC Porto: Fernando Pascoal Neves, aka Pavão. Após o apito final de Porém Luís, alguém anunciou pelos altifalantes do Estádio das Antas o já esperado: «Morreu Pavão!» O FC Porto ganhara, mas todos estavam destroçados.
«Que triste notícia, meus Deus, que triste notícia se segue a esta tão grande vitória», exclamou Guedes. José Maria Pedroto falava do «dia mais triste» da sua vida e Béla Guttmann perguntava como era possível «alguém tão bom e só com 26 anos morrer assim?».
A tragédia abalou o futebol português e, de algum modo, o país inteiro. Insinuou-se muita coisa em redor da morte de Pavão, mas a autópsia ao corpo revelou um problema congénito: estenoseaórtica, soube- se em janeiro de 1974, processo degenerativo que enrijece e calcifica a válvula aórtica do coração. Foi há exato meio século. Às 15.13 horas em ponto. Morreu Fernando Pascoal Neves, o filho, o marido e o pai; morreu Pavão, ídolo de milhares e milhares de portistas. Faleceu há 50 anos, mas a memória do craque da camisola 6 continua eterna no coração dos adeptos. Não só dos do FC Porto.