FC Porto: Pavão, 50 anos sobre a morte
Pavão, jogador do FC Porto (ASF)

FC Porto: Pavão, 50 anos sobre a morte

FUTEBOL16.12.202310:09

O fatídico minuto 13 da jornada 13, o anúncio nos altifalantes do estádio, o choque

Eram 15 horas em ponto da tarde de 16 de dezembro de 1973, dia cinzentão e a prenunciar chuva, quando Porém Luís, árbitro de Leiria, juntou ao capitães de FC Porto e V. Setúbal no círculo central do Estádio das Antas para dar início ao jogo da 13.ª jornada de 1973/1974. De um lado, Fernando Pascoal Neves, aka Pavão, com a braçadeira de capitão; do outro Carlos Cardoso. 

Os adeptos do FC Porto andavam desconsolados, pois, apesar do regresso do feiticeiro Béla Guttmann, treinador bicampeão europeu pelo Benfica em 1961 e 1962 e que levara os azuis e brancos, em 1958/1959, ao seu último título de campeões nacionais, a equipa perdera já contacto com os dois velhos rivais, Benfica e Sporting, mas também do V. Setúbal, líder do campeonato à entrada para essa fatídica 13.ª ronda. 

Porém, com a contratação do peruano Teófilo Cubillas, uma das maiores figuras do Mundial-1970, projetada para janeiro de 1974 e com a perspetiva de, ganhando ao V. Setúbal, diminuir para três os pontos de atraso para a liderança da prova, os portistas quase esgotaram as bancadas das Antas. 

O onze do FC Porto era composto porTibi; Rodolfo, Ronaldo, Rolando e Guedes; Oliveira, Pavão e Bené; Abel, Marco Aurélio e Nóbrega. O do V. Setúbal, orientado por José Maria Pedroto, tinha Joaquim Torres; Rebelo, Mendes, Cardoso e Lino; Matine, Octávio e José Maria; Câmpora, Duda e Jacinto João, o famoso JJ. 

Treze minutos depois do primeiro apito de Porém Luís, Pavão recebeu a bola, fez um passe na direção do jovem Oliveira, gritou-lhe palavras de incentivo e caiu.Caiu de bruços na relva molhada pela chuva miudinha e não mais se ergueu, fulminado por problema cardíaco. Pavão, aos 26 anos, tombara nas Antas, morrendo em combate ao minuto 13 da jornada 13 de 1973/1974, mas não mais sairia do coração dos adeptos portistas e também do daqueles que, não o sendo, olhavam para o capitão do FC Porto como uma figura de referência do futebol português e também já da Seleção Nacional. 

Pavão foi assistido em pleno relvado pela equipa médica do FCPorto, a qual desde logo percebeu, tal como todos os jogadores das duas equipas, que algo gravíssimo se passara e que muito dificilmente Pavão voltaria a ser Pavão. Foi ainda transportado para o Hospital de São João numa ambulância da Cruz Vermelha, local onde o óbito foi confirmado, mas não divulgado de pronto. 

O jogo continuou, com Vieira Nunes no lugar de Pavão. Continuou, mas era como se não tivesse continuado. O FC Porto venceria por 2-0, golos de Abel Miglietti e Marco Aurélio, mas quase não houve festejos, antes já o velar do corpo de um jogador que não era um qualquer — era o capitão do FC Porto: Fernando Pascoal Neves, aka Pavão. Após o apito final de Porém Luís, alguém anunciou pelos altifalantes do Estádio das Antas o já esperado: «Morreu Pavão!» O FC Porto ganhara, mas todos estavam destroçados. 

«Que triste notícia, meus Deus, que triste notícia se segue a esta tão grande vitória», exclamou Guedes. José Maria Pedroto falava do «dia mais triste» da sua vida e Béla Guttmann perguntava como era possível «alguém tão bom e só com 26 anos morrer assim?». 

A tragédia abalou o futebol português e, de algum modo, o país inteiro. Insinuou-se muita coisa em redor da morte de Pavão, mas a autópsia ao corpo revelou um problema congénito: estenoseaórtica, soube- se em janeiro de 1974, processo degenerativo que enrijece e calcifica a válvula aórtica do coração. Foi há exato meio século. Às 15.13 horas em ponto. Morreu Fernando Pascoal Neves, o filho, o marido e o pai; morreu Pavão, ídolo de milhares e milhares de portistas. Faleceu há 50 anos, mas a memória do craque da camisola 6 continua eterna no coração dos adeptos. Não só dos do FC Porto.