Jéssica Silva tentou fazer-se da velocidade, mas esteve muito desapoiada na frente
Jéssica Silva tentou fazer-se da velocidade, mas esteve muito desapoiada na frente (IMAGO)

Europeu feminino: goleada foi outro golpe duro (crónica)

Portugal nunca conseguiu soltar-se das amarras e não fez um único remate enquadrado à baliza. Classe de Putellas, irreverência de Vicky López e instinto matador de González marcaram jogo de sentido único

O dia foi pesaroso, é certo, com a notícia da trágica morte de Diogo Jota e do irmão André Silva, num acidente de viação. No Estádio Wankdorf foi cumprido um minuto de silêncio em memória dos dois, os adeptos de Portugal e Espanha com semblantes fechados, ainda se ouviram palmas e o nome do malogrado jogador entoado alto e bom som e todas as jogadoras com fumos negos nos braços.

E se além de querer homenagear o antigo internacional português com uma boa exibição, a Seleção Nacional tinha intenção de limpar a imagem deixada na Liga das Nações — duas pesadas derrotas com Espanha, por 2-4 e 1-7 —, os primeiros sete minutos de jogo deitaram essa intenção por terra. Portugal sofreu dois golos de rajada — nunca uma equipa chegou a uma vantagem de dois golos tão cedo em europeus — e o desnorte foi por demais evidente, permitindo às espanholas apresentar um jogo tricotado à moda antiga: classe de Putellas, irreverência da jovem Vicky López (18 anos) e o instinto matador de Esther González (nos últimos oito jogos de Espanha marcou nove golos) fizeram a diferença.

Numa linha defensiva de cinco, com três a meio-campo, Portugal nunca conseguiu soltar-se das amarras e saiu para o intervalo a perder por quatro, mas mais do que os golos que sofreu há a realçar o facto de não ter conseguido criar uma única oportunidade de golo, o que espelha bem a inércia no processo ofensivo, num jogo que teve sentido único: a baliza à guarda de Inês Pereira.

Francisco Neto mexeu logo no reatamento, lançando Ana Borges (a mulher da máscara) e Ana Seiça, mantendo bloco médio/baixo, sem conseguir avançar no terreno e as tentativas de lançar a bola em profundidade não passaram disso mesmo, intenção.

A ganhar por 4-0 a Espanha em nada baixou o seu plano de ataque, com uma agressividade desmedida na busca de mais e mais, até um pouco à margem da lei, como foram exemplo o lance, aos 51 minutos, em que a central Aleixandri varreu literalmente Jéssica Silva, tendo sido admoestada com amarelo, e no minuto seguinte, numa bola batida por Ana Borges para a área, Fátima Pinto foi derrubada pela guardiã Nanclares a socar a cabeça da portuguesa, que ficou estendida no relvado e teve de receber assistência médica.

De Portugal um lance digno de registo, aos 63', numa boa saída da pressão, virando o jogo da esquerda para a direita, onde Catarina Amado ganhou espaço para progredir, mas... falhou o remate.

Mas, uma equipa que, perante 29.520 espectadores, em 90 não consegue fazer um remate enquadrado à baliza e apenas um canto conquistado, precisa de rever os trabalhos de casa, mesmo quando estamos a falar de um jogo contra a campeã do Mundo, que tem nas suas fileiras jogadores de topo e sangue na guelra — até Aitana, após internamento, teve direito a uns minutinhos de jogo.