Aursnes rende o triplo de Bah mas o Benfica não está melhor
Fredrik Aursnes e Alexander Bah em momentos distintos pelo Benfica (Fotos: Rui Raimundo/ASF e Miguel Nunes/ASF)

Aursnes rende o triplo de Bah mas o Benfica não está melhor

NACIONAL17.01.202421:30

Norueguês ganha ao dinamarquês no comparativo individual a lateral-direito, mas os números globais não são melhores; quando Bah voltar, norueguês tem de voltar a jogar a médio, diz Luís Filipe

Fredrik Aursnes soma 15 jogos como lateral-direito nesta época (três deles no esporádico e experimentalista 3x4x3 de Roger Schmidt) e já bateu o recorde de assistências numa temporada em toda a carreira (soma oito, sete delas a partir do lado direito). O internacional norueguês tem vindo a adaptar-se ao lugar e o próprio admitiu, em recente entrevista a A BOLA, sentir-se cada vez confortável na posição, pelo que se coloca a questão: quando Bah voltar de lesão (está para breve), quem deve jogar?

Analisando as médias por jogo de ambos os futebolistas (os 15 jogos de Aursnes em 2023/2024 como lateral e os 42 de Bah em 2022/2023), o norueguês leva vantagem: tem o triplo das assistências e precisa de apenas um terço dos minutos do colega para marcar o mesmo número de golos — fez uma assistência por cada 2,14 jogos e um golo em 15 encontros, ao passo que o dinamarquês faturou o mesmo em 42 partidas e fez um passe para golo a cada sete jogos. 

«Estes números são normais porque no aspeto ofensivo ele é superior. O que ele faz do meio-campo para a frente não é assim tão diferente das rotinas que ele tinha na época passada atuando como médio esquerdo», observa a A BOLA Luís Filipe, antigo lateral-direito do Benfica, tendo também representado o Sporting, SC Braga, Académica, UD Leiria, Marítimo, V. Guimarães, Olhanense e Atlético Madrid B. 

Por muito boa que seja a adaptação, Aursnes nunca será um lateral direito de topo porque não tem características para isso

«Por ser um jogador inteligente, vai melhorando à medida que soma jogos, mas defensivamente não é melhor que Bah», refere. As estatísticas defensivas divulgadas pelo who scored dão-lhe razão. Bah faz mais interceções por jogo (1,3 contra 0,7), mais faltas (sinal de maior agressividade) e é menos vezes driblado. «É normal. Por muito boa que seja a adaptação, Aursnes nunca será um lateral direito de topo porque não tem características para isso, quer do ponto de vista da formação quer pela sua forma de jogar», explica.

Luís Filipe com Di María num treino do Benfica, na época 2007/2008 (Foto: André Alves/ASF)

Um exemplo? «Aursnes não consegue ser um lateral que dê profundidade», aponta Luís Filipe. Voltando às estatísticas: o dinamarquês faz quase o dobro dos cruzamentos por encontro que o norueguês (0,9 contra 0,4). 

«Colocava-o no lugar de João Mário»

Estando Bah em condições, o antigo futebolista das águias não tem dúvidas: Aursnes deveria voltar a subir no terreno. «É um desperdício estar a jogar como lateral. Atuando na posição onde alinhou na época passada a equipa melhora, é ali que ele faz mais falta. É um facto que Bah também nunca virá a ser um lateral de eleição, mas o conjunto fará do Benfica uma equipa mais forte. Aursnes foi um dos melhores jogadores da equipa na época passada, senão mesmo o melhor», sublinha.

Olhando novamente para os indicadores, a tese de Luís Filipe ganha sustentação. Se é verdade que o Benfica ainda não perdeu com Aursnes a atuar como lateral-direito (11 vitórias e quatro empates), globalmente a percentagem de vitórias é inferior à de Alexander Bah (73 por cento para 79 por cento). O mesmo se aplica para as médias de golos: com Bah em campo, as águias fizeram 2,5 golos por partida contra os 2,3 com Aursnes a lateral. E o número de golos sofridos também joga a favor do antigo jogador do Slavia Praga (0,6 contra 0,8).

Mas os jogadores não ganham de forma isolada. A esmagadora maioria dos triunfos e golos festejados por Alexander Bah tiveram como denominador comum a presença de Fredrik Aursnes no meio-campo ofensivo. Traduzindo as palavras de Luís Filipe: a soma Bah lateral+Aursnes médio é superior à de Aursnes lateral+médio sem as características do norueguês.

Sem mais opções para a posição

«A decisão é de Roger Schmidt e poderá depender de cada momento, mas eu colocaria Aursnes no lugar de João Mário», defende Luís Filipe. «O Benfica era muito forte na pressão na época passada por causa de Gonçalo Ramos mas também por causa de Aursnes. Ele fazia muitos desarmes, era muito agressivo como médio esquerdo. João Mário e Di María são dois extremos que deixam os médios centro mais desprotegidos, ficando muito entregues à pressão do adversário, isso é muito visível. João Mário tem outro tipo de características de Aursnes, mas acho que com o norueguês naquela posição a equipa ficaria muito mais sólida.»

Mas é por causa da adaptação feliz de Aursnes a lateral-direito que provavelmente já não virá qualquer jogador para aquela posição no atual mercado de janeiro, nem mesmo Pedro Malheiro, futebolista de 22 anos do Boavista que esteve muito perto de se transferir para a Luz. Ao que tudo aponta, a disputa pelo lugar até ao final da época será entre os dois nórdicos. Tudo dependerá do que Schmidt quer para Aursnes quando tiver laterais esquerdo e direito de raiz aptos para a competição, coisa que rareou na primeira metade da temporada.