Afonso Taira: «Imagem do futebol tem de melhorar»
— Tem feito algumas dissertações na rede social Linkedin...
— Não sou especial. Há muitos jogadores que têm boas coisas para aportar ao futebol mas não existe plataforma para o fazer. Escrevo sempre numa ótica construtiva. Acho que o futebol está muito otimizado do ponto de vista do rendimento, não tão otimizado como produto comercial. Fica aquém face ao mediatismo que tem. A culpa é conjunta de um contexto que não está preparado para comercializar algo tão bom.
— «Maio é tudo menos o alívio que se procura quando se suspira durante a época», palavras suas.
— Não tenho nenhum objetivo específico, mas encontrei ali uma plataforma que me permite, também pela distância, poder trazer coisas que nós jogadores sentimos, que passamos. O feedback tem sido muito positivo, há muitos jogadores que me mandam mensagem. Em relação ao meu futuro, reafirmo, ainda está tudo em aberto.
— «Gosto da bola e de tratá-la bem», esta frase foi escrita por si. A bola/futebol tem-o tratado bem?
— Acho que sim. Já tive vários momentos em que tive decisões difíceis, mas a verdade é que tenho tudo de bom. A minha família está comigo e uma carreira num desporto que me apaixona até hoje. Já pensei tive mais sorte do que aquele ou menos do que o outro, fui mais ou menos injustiçado, mas depois olho para trás e sinto que tenho sido privilegiado.
— O Afonso escreve bem e tem leitura nas redes. Vou ler um texto seu e pedir-lhe que o comente. «Jogar a primeira liga, um amor jovem e agitado, intenso, com altos e baixos. Aconteceu quase tudo: agentes que me coagiram; treinadores que me adoraram e puseram na bancada; clubes que me valorizaram por palavras, mas não financeiramente; até vivi a sensação de ficar à porta de um grande de Portugal».
— Contextualizando, tenho-me expressado nas redes sociais. É um ponto que pode ser relevante falar porque foi uma decisão consciente. Estou aqui num momento de um posicionamento um pouco privilegiado para o poder fazer, porque não estou em Portugal, porque estou longe da dinâmica do futebol português o suficiente para não me ser restringido, de certa forma, aquilo que posso aportar. E penso que a plataforma não está criada para poder haver mais momentos como esse que acabou de ler. Porque momentos desses todos os meus colegas têm. Todos podem falar sobre de coisas muito parecidas, porque todos temos experiências parecidas. Mas só publico se achar que é construtivo, se for para destruir, se for só para reclamar, se for só para desabafar, de forma negativa opto por não o fazer.
— E quanto ao feedback que tem recebi. Deixa-o satisfeito?
— Tem sido muito positivo e tem chamado a atenção em alguns momentos. Há jogadores que me mandam mensagens, que passam pelo mesmo, assim como recebo mensagens de pessoas envolvidas no futebol e interessadas no futebol. Parece-me que há, na verdade, espaço para mais plataformas assim, mais momentos destes, de partilha construtiva, saudável, neutra, porque também existe a parte do clube que defende, cada clube defende a sua posição, portanto, mais neutra, menos associada ao clube A ou B. Acho que existe aí espaço, sinceramente, e era bom que houvesse mais jogadores com mais espaço para poder trazer coisas boas.
— Tem as coisas bem estruturadas. Já pensou no fim da carreira?
— Sim, mas não de forma concreta. Gostava de ficar ligado ao futebol, mas não tenho um caminho específico. Sabemos todos que isto vai chegando devagarinho. Há bocado falámos de duas décadas, por isso... o fim vai chegando. Gosto de futebol na sua totalidade e não tenho a certeza onde é que me posso encaixar. Sei que gostava de ficar ligado ao futebol, mas não tenho um caminho específico. Não estou a preparar um caminho específico, não estou a tentar tirar os cursos de treinador. Estou sim a querer cada vez mais estar posicionado para poder estar no futebol. Ser uma lufada de ar fresco? Gostava que fosse assim. Se é para fazer, que seja bem feito e que seja com algo que seja diferente e refrescante.