'Un día a la vez'
Mercado de valores é o espaço de opinião semanal de Diogo Luís, antigo futebolista
No futebol fazemos a avaliação do desempenho das equipas com base naquilo que vemos dentro dos relvados. Contudo, existe um trabalho invisível e fundamental que faz com que os protagonistas possam ter toda as condições para vencer. O trabalho feito na sombra é cada vez mais importante. Aqueles que têm um projeto desportivo, que conseguem fazer um planeamento da época atempado e organizado ou que têm a capacidade de criar um balneário coeso e unido, estão mais perto de vencer.
Ao longo da época, por diversas vezes, Bruno Lage utilizou a expressão de que na vertente desportiva a tónica era un día a la vez. A lógica do treinador encarnado é que o próximo jogo era sempre o mais importante.
A questão é que olhamos para o Benfica e parece que esta frase se aplica na perfeição à forma como o clube tem vindo a ser gerido. Existem vários exemplos que mostram isto mesmo. Podemos começar pelos custos que têm aumentado de uma forma descontrolada e que obrigaram o Benfica, nos últimos anos, a duplicar a sua exposição à dívida.
Este facto fica perfeitamente demonstrado pela forma como o Benfica tem, nos últimos anos, a necessidade e a pressão de efetuar vendas incríveis atrás de vendas incríveis para tentar equilibrar as contas. Se nos focarmos no projeto desportivo, a evidência de que tudo funciona com um día a la vez é ainda mais visível.
No Benfica não há projeto desportivo. As contratações sucessivas, por valores expressivos, e desenquadradas da realidade portuguesa demonstram isto mesmo. Desde jogadores que não têm as caraterísticas que os treinadores pretendem (Arthur Cabral ou Jurásek, por exemplo), a contratações realizadas no último dia de mercado sem critério e com a pressão de fechar jogadores para compor um plantel com qualidade, mas sem o enquadramento devido.
Outro ponto importante tem a ver com a forma como o Benfica deve enquadrar o seu modelo desportivo. Uma das missões do Benfica será o de reduzir os custos e enquadrá-los dentro da sua realidade, o que por outras palavras significa que o clube tem de conseguir viver dentro das suas possibilidades, porque só assim será sustentável e terá condições para ter sucesso no futuro.
O objetivo do Benfica, como dos outros clubes portugueses, deverá ser o de reduzir a necessidade de vender jogadores atrás de jogadores para estar equilibrado financeiramente e manter a base desportiva que lhe permita ser cada vez mais consistente em termos desportivos. Assim, todos temos a noção que o projeto desportivo dos clubes portugueses tem por base a formação, e uma boa capacidade de scouting que permite a contratação de jovens jogadores para os poderem potenciar em termos desportivos e para poderem gerar igualmente rendimento financeiro, que é essencial para equilibrar as contas.
É aqui que, mais uma vez, o Benfica demonstra que vive um dia à la vez. Se analisarmos as contratações do Benfica e o seu onze titular percebemos que a média de idades de muitos deles é superior a 24/25 anos.
Isto demonstra-nos que a administração do Benfica não se preocupou com o futuro, mas apenas com o presente. As repercussões desta forma de gerir vão-se fazendo sentir e criam cada vez mais pressão financeira, por dois motivos: o primeiro é o que referi anteriormente, os custos continuam a subir de uma forma descontrolada; o segundo motivo é que com as decisões tomadas no passado, o clube não tem muitos jogadores que possam, atualmente, gerar as mais valias que necessita para equilibrar as suas contas.
Proença ao sabor dos resultados
A Seleção Nacional conseguiu vencer com total mérito a Liga das Nações. Mais uma vez ficou comprovado aquilo que tenho referido: temos jogadores para jogar de igual para igual frente a qualquer adversário.
Além da qualidade desportiva dos nossos atletas, estes demonstram ainda uma grande personalidade e fome de vencer com a sua Seleção. A acrescentar a tudo isto, muitos deles têm vencido com os seus clubes as melhores provas europeias o que lhes dá uma confiança e segurança superiores. Tendo em conta este contexto todos percebemos que no comando técnico deveremos ter alguém que não invente muito e os coloque a jogar de uma forma que possa potenciar as suas caraterísticas. Toco no ponto do treinador porque me parece uma peça fundamental.
Antes da Liga das Nações saíram muitas notícias que davam conta de que Roberto Martínez estaria em risco de ser despedido. Estas notícias, alegadamente, vieram de dentro da Federação Portuguesa de Futebol (FPF). Há vários caminhos que levam ao sucesso. O que me parece é que o caminho deverá ser guiado por convicções e por decisões devidamente fundamentadas.
Ora, na primeira oportunidade para demonstrar a sua liderança, Pedro Proença decidiu agarrar-se aos resultados. Pelas notícias e movimentações que existiram antes da Liga das Nações, alguém tem dúvidas que Martínez poderia ser despedido?
Estas movimentações só existiram porque Proença pretendia dar outro rumo técnico à nossa Seleção. Como sabemos, nem tudo está bem quando se ganha e nem tudo está mal quando se perde. A questão está em seguir em frente com as suas ideias ou agarrar-se ao mais fácil que são os resultados ou a opinião do capitão da Seleção.
Na tomada de posse o presidente da FPF referiu que vamos fazer o que ainda não foi feito. Ao seguir o caminho mais fácil após a vitória da Liga das Nações, Pedro Proença deverá ter a noção de que em caso de sucesso no Mundial-2026 o mérito irá recair em quem escolheu Martínez, ou seja em Fernando Gomes.
Em caso de insucesso a responsabilidade será de Pedro Proença porque não teve a coragem de tomar uma decisão de acordo com as suas convicções, preferindo agarrar-se aos resultados, seguir o caminho mais fácil e ficar em cima do muro.
A valorizar: Nuno Mendes
Na última semana escrevi que, para mim, Nuno Mendes é o melhor lateral esquerdo do mundo. As suas prestações na Liga das Nações são o exemplo claro do que referi. Foi muito pelas exibições de Nuno Mendes que conseguimos vencer esta competição.