Solitária profissão de treinador
Se Roger Schmidt usar Di María, Rafa e Neres nas costas de Musa, irá hipotecar a defesa?
Qualquer boa equipa de futebol tem como ponto de partida a complementaridade dos seus elementos, que garante de forma harmoniosa o equilíbrio entre o momento de defender e o momento de atacar e as suas transições. Se um deles prevalecer, o sucesso fica mais longe. Exemplo do que não deve ser feito tem sido, ao longo de vários anos, o PSG, que colecionou cromos valiosos sem se preocupar com a equipa, um pouco na linha do Real Madrid, na primeira fase de Florentino Pérez, dos Zidanes e dos Pavones. Não basta ter Messi, Neymar e Mbappé, ou Zidane, Ronaldo, Beckham e Figo, a jogar com a mesma camisola para que a vitória esteja garantida, longe disso. No futebol moderno, se não houver compromisso defensivo por parte de todos, é virtualmente impossível atingir o top. Por isso é que os parisienses decidiram, na presente temporada, abdicar do argentino e do brasileiro - ainda dois dos melhores futebolistas da atualidade - criando condições para apresentarem uma equipa mais competitiva, onde todos trabalham, a defender e a atacar. Garantir o equilíbrio e a eficácia nos momentos antagónicos do jogo, é a principal missão do treinador, e a mais difícil. Veja-se o caso do Benfica, que esta temporada tem no plantel vários jogadores de grande qualidade para funções semelhantes. Será que Roger Schmidt pode colocar, por exemplo, em simultâneo, Musa, na frente, e nas costas dele Di María, Rafa e Neres, sem hipotecar a eficácia defensiva da equipa? E se o fizer, numa lógica de 4x2x3x1, quem serão os dois eleitos para o duplo pivot? Florentino e Kokçu? Se assim for, uma vez que Jurásek parece estar em boas condições (e se o mesmo suceder com Bah…), que fazer a João Mário, João Neves e Aursnes, equilibradores por excelência na equipa do Benfica? É por tudo isto, especialmente depois da excelente exibição de David Neres em Portimão, e da previsão de recuperação de Di María, que se aguardam com expetativa as escolhas de Roger Schmidt para o Clássico da próxima sexta-feira. Do ponto de vista do adepto, a opção popular é sempre a que for mais virada para o ataque e para o empolgamento. Porém, ao treinador devem assistir outras preocupações, porque no fim do jogo só a ele são pedidas responsabilidades pelas escolhas, todos os outros podem ter opiniões mas nenhum tem a responsabilidade da tomada de decisão. Ser treinador de futebol é, de facto, uma das profissões mais solitárias do mundo…