Pepe (& mais)

OPINIÃO25.11.201803:00

Àprimeira página percebe-lhe a emoção que, dali em diante, há de seguir o seu encanto, mesmo quando a história se fizer da tragédia - é a emoção que começa no contar dos últimos dias de Bárbara, velhota e demente, a soltar, dorida a pergunta, ao passar por quem passasse:
- Sabe que o Pepe morreu?

O livro é (isso se verá, num ápice) muito mais do que a vida (e a morte) de Pepe (e, pelo seu caminho, também se descobrirá por que o Belenenses se tornou no que é hoje). Escreveu-o Fernando Fernandes, que nos anos 80 foi um dos melhores atletas nacionais e escreveu-o com o coração que lhe cresceu de uma paixão:
- … ao descobrir, através de José Pereira e Vicente Lucas, que se podia ser de outro clube que não aqueles habituais nas perguntas dos mais velhos.

Por isso, nesse seu O Prodigioso José Manuel Soares - o Pepe, está o Pepe que se conhece bem - e mais encantador o que se conhece mal: o filho do Julião que mercadejava numa carroça de porta a porta e da Maria José que vendia fruta no mercado de Belém ou pelos areais do Tejo (e o que descobriu o seu destino a apanhar bolas que «furiosos» deitavam para fora do pedaço de terreno onde jogavam).
Estão lá segredos do último jogo, contra o Chelas (o primeiro em que lhe deram o privilégio de ser capitão de equipa - porque, dias antes, de jogo do Belenenses se soltara escaramuça).

Está o mistério da morte na lancheira que levara para o trabalho (e a razão por que naco de pão que lhe deu também matou a gata…) - e está, arrepiante, o murmúrio:
- Cortem-me as pernas, mas salvem-me a vida!

Estão rumores e suspeições - e o outro mistério: o da Dama de Luto no velório (e a revelação sobre quem era, a esfíngica Celeste). E tudo o que está neste Pepe do Fernando Fernandes é um encanto. E não, não o digo por o Fernando ter sido meu companheiro de corridas há muitos, muitos anos - se o ler perceberá, se não o ler acredite que se arrependerá...)