Pedro Proença: um abraço genuinamente político
'Estádio do Bolhão' é o espaço de opinião semanal do jornalista Pascoal Sousa
Não me soou falso o abraço de Pedro Proença a Roberto Martínez na cerimónia de entrega do troféu da Liga das Nações no museu da FPF, prova brilhantemente conquistada por Portugal frente àquela que continua a ser, para todos os efeitos, a melhor seleção da atualidade e a que melhor futebol oferece aos adeptos, a Espanha. Ainda assim, é importante reter o que aconteceu antes de toda aquela alegria se soltar, imparável, no relvado do Allianz Arena, em Munique.
Martínez não teve da nova estrutura da FPF a proteção que se exigia a um treinador que, goste-se ou não, tem contrato até 2026. Proença enganou-se na zona de entrevistas rápidas e até falou em 2028 - terá a renovação com o técnico na cabeça? Não terá, decididamente. Foi um erro deixar cozinhar em lume brando um eventual despedimento do espanhol se não ganhasse a Liga das Nações? As reações de apoio incondicional dos jogadores ao selecionador nacional, em especial por parte de Cristiano Ronaldo, antes da final com a Espanha, deixaram claro que a interrupção do projeto não iria beneficiar o grupo nem o seu crescimento, por muita legitimidade que Proença tenha, como presidente eleito por esmagadora maioria, de ver outro treinador no comando de Portugal. Se é que vê mesmo, e se assim for, quem, porque sendo o selecionador um treinador, nem todos os treinadores dão bons selecionadores.
É um engano pensar-se que um mestre da tática ou os seus derivados geram um líder capaz de consensos na diversidade que é um conjunto de jogadores de topo que atuam nos melhores clubes do mundo. Aquele abraço de Proença, que não foi falso, teve uma certa genuinidade política, de quem se deu por (con)vencido. E isso também é um exercício de humildade. Não interessa ter um presidente da Federação omnipotente. Importa ter um líder que saiba entender o contexto, ler as sensibilidades e que não menospreze o efeito que esta conquista da Liga das Nações tem no contexto do apuramento de Portugal para o Mundial de 2026.
Nada impede Proença de ter a sua própria visão sobre como deve Portugal jogar. Nenhum adepto se importará que a qualidade do futebol praticado pela Seleção Nacional se aproxime da de Espanha. Contudo, o futebol não é só estética. Se fosse, nunca teríamos sido campeões europeus em 2016. É estratégia, é sabedoria, é também jogar com os melhores e com aqueles que estão em melhor forma. É ter Cristiano Ronaldo do nível atual (potenciado por Martínez) e tirá-lo do campo quando já não dá mais. É ser atrevido e formar uma asa esquerda com Nuno Mendes e Rafael Leão, obrigando o campeão europeu a mexer no onze e a mexer mal, tirando Lamine Yamal e Oyarzabal. É essa ousadia e a ausência de medos cénicos que enchem o patriota de orgulho.