O peso do nome e da camisola do Benfica
Diz-se que a camisola do Benfica pesa. É uma daquelas frases ligada à História do clube da Luz, de que só os grandes prevalecem ao vestirem de encarnado. E por grande não se entenda apenas no talento. É preciso força mental, não sucumbir à pressão, pois jogar no Benfica não é o mesmo que jogar noutros: pela obrigação de vencer, pelo estilo, pelo mediatismo que o clube provoca.
O Benfica não é caso único, ou, melhor dizendo, aquela frase podia aplicar-se a outro clube com as mesmas características dos encarnados. Mas Enzo Barrenechea, reforço para o meio-campo, carrega ainda o ‘peso’ do nome.
Não será por aí que se define o argentino contratado ao Aston Villa, ou mesmo pela nacionalidade que tem no passaporte, mas Barrenechea, para além do peso da camisola, ainda vai ter de gerir a expectativa de um terceiro Enzo na Luz.
O nome e o país de nascimento podem ser vistos como uma coincidência, porque o que se espera na realidade é que o rapaz vindo do Aston Villa tenha o sucesso que os homónimos tiveram. Ainda que Pérez tenha tido mais tempo que Fernández, Enzo I e Enzo II deixaram marca indisfarçável no clube.
O primeiro porque foi, provavelmente, o médio mais completo do século XXI na Luz e que preencheu todos os requisitos que o Terceiro Anel impõe: qualidade técnica e tomada de decisão bem acima da média, atitude e lealdade.
Já Fernandez foi um fenómeno relâmpago, um jogador que mal chegou se impôs pela sua qualidade mundial e que, quando partiu, abanou tanto as coisas que até hoje se pensa que uma dinastia de sucesso foi interrompida naquele janeiro de 2023.
Dois anos e meio depois, o Benfica procura reformular um meio-campo que viu partir Kokçu, ainda não sabe o que sucede com Florentino Luís, gostava de ter Renato Sanches outra vez, mas a cem por cento, e que, estava já à vista na época passada, necessitava de futebolistas diferentes na sua composição. Com Barrenechea, o Benfica procura melhorar um setor que não está fechado.
Há outra parte, porém, que merece atenção: o modo do negócio. Os objetivos podem ou não ser alcançados, mas comprar um jogador se ele (e a equipa?) atingir certas metas, pode ser um bom plano, visto do lado avesso: se Enzo não fizer jus ao nome e não atingir certos números, o Benfica não precisará de comprar. No fundo, o risco foi minimizado e o investimento menor, evitando-se um possível erro, se Barrenechea não aguentar o peso da camisola. A não ser, claro, que os tais objetivos sejam tão fáceis como encontrar um argentino chamado Enzo e que é jogador de futebol…