O efeito Marinakis
Evangelos Marinakis, dono do Olympiakos e do Nottingham Forest, e investidor maioritário do Rio Ave, quer avançar para o Brasil
Foto: IMAGO

O efeito Marinakis

OPINIÃO21.11.202321:20

Pagar €20 milhões por 80 por cento de um clube como o Rio Ave parece muito, mas com uma reforma estrutural até poderá ser pouco num futuro otimista

Não é o primeiro clube português a passar para mãos de investidores privados, mas a entrada de Evangelos Marinakis na futura SAD do Rio Ave pode vir a ser um passo relevante, porém insuficiente, para a elevação dos emblemas de pequena e média dimensão em Portugal. Pagar mais de 20 milhões de euros por 80 por cento do capital social de um clube do meio da tabela (mesmo que €13 milhões sejam para abater o passivo) é um valor que surpreende. Basta recordar que o luxemburguês Gérard Lopez (que já detém o Bordéus) pagou €15 milhões por 90 por cento da SAD do Boavista ou a VSports de Nassef Sawiris e Wesley Edens investiu €5,5 milhões para ficar com 46 por cento da SAD do V. Guimarães. Ou ainda que o QSI, fundo soberano do Catar que detém o PSG, pagou perto de €20 milhões (valor não oficial) por 21,67% do capital social do SC Braga, um clube de classe média alta que já disputa a Liga dos Campeões.

Num futebol cada vez mais competitivo e industrializado, a única forma de a esmagadora maioria dos clubes portugueses sobreviverem é a abertura a capital externo. O modelo atual de gestão está esgotado, o estatuto de liga periférica não garante receitas televisivas satisfatórias e vendas milionárias é coisa só ao alcance de poucos (e mesmo assim depende dos anos de boa colheita...)

Qualquer homem de negócios, se estiver devidamente informado sobre a realidade portuguesa, saberá que estamos numa fase de transição. A centralização dos direitos televisivos é uma realidade aí à porta e os mais otimistas acreditam que a liga portuguesa vale mais como um todo do que na soma de partes desintegradas. Veremos. Mas nem isso chegará. Será preciso ir mais além. O bolo, seja ele qual for, terá de ser repartido por menos para que cada um ganhe mais e possa fazer maiores investimentos para garantir melhores espetáculos. Para que não precise, entre outras coisas, de pedir tanto dinheiro nos bilhetes que afastam as pessoas dos estádios. Na recente entrevista ao Expresso, o presidente da Liga Portugal, Pedro Proença nem sequer o mencionou (não terá sido por acaso), mas é evidente que uma venda centralizada de direitos televisivos sem uma reformulação dos quadros competitivos pode vir a semelhar-se ao famoso dinheiro de helicóptero: agrada a todos no imediato, mas não cura os males estruturais. 

Só no dia em que Portugal tiver um campeonato com menos equipas, uma arbitragem independente e capaz de proporcionar ao público uma perceção de maior credibilidade, uma justiça célere (ou privada, como quiserem chamá-la) e desaparecer de vez o cheiro a bolor que ainda por aí abunda, então estarão reunidas condições para chegarem mais tubarões-investidores e ajudarem naquilo que devia ser um desígnio real: tentar chegar fazer da nossa liga uma candidata a figurar no top 5 do ranking da UEFA em cinco anos.