OPINIÃO DE RUI ÁGUAS Jamor
Visão de golo é o espaço de opinião de Rui Águas, antigo avançado internacional português
Final de um dos campeonatos mais inteiros de que me lembro. Honra aos rivais em despique até ao fim. Muita coisa se passa numa época, mas esta chegada ao sprint foi especialmente emotiva. As duas últimas etapas foram antecipadas e vividas intensamente e ao milímetro. No dérbi da Luz, o Benfica não tinha conseguido potenciar a vantagem grande de poder decidir em casa, sendo surpreendido ainda os adeptos se sentavam. Em noventa minutos vivem-se e sofrem-se muitos momentos e quis a sorte, mas também o mérito adversário, que o jogo começasse torto e que não mais se compusesse.
Por pouco se ganha e por pouco se pode perder ou, neste caso, empatar. Em Braga, no último dia, aconteceu um bom jogo. O SC Braga quis e conseguiu ser também protagonista, mesmo sem objetivos pontuais, procurando saldar a dívida classificativa com os seus adeptos. O peso da dependência nunca fez bem a ninguém e a um bom início de jogo do Benfica não correspondeu a eficácia da finalização, um cenário várias vezes repetido. A crença extra muitas vezes faz diferença, mas tardavam a chegar os desejados sinais vitorianos de Alvalade, que dariam outro ânimo e convicção, fatores tantas vezes fundamentais. Os tais ecos positivos não chegariam e, ao contrário, um penálti daqueles modernos, com os quais nunca vou concordar, reforçou à distância a posição do rival.
Clubes à parte, uma equipa sofrer um castigo máximo por uma falta que nada tem de máxima, nem de intencional, é uma realidade atual que ainda espero, um dia, ver alterada.
Os dois últimos jogos tiveram em comum o estado de ebulição mental que afeta a equipa que mais precisa, que procura o golo, mas sofre. Na necessidade absoluta de marcar, o Benfica acabou por ficar em desvantagem, aumentando o stress e o peso de uma equipa que já corre em perseguição. É de reconhecer, no entanto, o esforço e a capacidade de reagir, evitando derrotas, mesmo sem chegar ao objetivo pretendido. Fica o mote para a final da Taça de Portugal, que já bate à porta. A vida não pára e olhar para trás nesta altura não ajuda, só amargura. O orgulho de olhar em frente é o melhor caminho.
Grandes contrastes
Enquanto a final não chega, assinalo alguns contrastes entre jogadores nucleares das duas melhores equipas da Liga. No ataque, Pavlidis e Gyokeres foram, pela sua influência finalizadora, as duas principais figuras dos respetivos ataques. Gyokeres, mais autónomo e individualista, pelo seu poder físico e velocidade, quase exclusivamente destro, faz do espaço e profundidade o seu meio preferencial. Pavlidis, especialista no apoio frontal, tecnicamente mais requintado, procura e dá um apoio mais coletivo. Não tão explosivo quanto o rival, também destro, mas com maior capacidade do pé contrário. O jogo aéreo não é, em ambos os casos, a melhor característica. No entanto, no futebol atual, a verdade é que o jogo de cabeça perdeu pontos. Os alas de pé contrário vieram para ficar. Hoje, poder atacar a bola de frente, respondendo ao efeito aberto (a fugir da baliza e do guarda-redes) já é uma raridade.
Recuando no terreno, é no meio que está também a virtude das equipas e a mola do seu rendimento. Por um lado, Aursnes, versátil como ninguém e com uma mobilidade e disponibilidade que dificilmente se encontram. Jogador de equipa fiável, único, para ficar no Benfica até ao fim da vida.
Hjulmand, por sua vez, de raiz mais posicional, defende e orienta as saídas da sua equipa. Mesmo na zona de maior tráfego, raramente perde um duelo ou falha um passe. Pela sua idade e perfil, não é provável que se mantenha por cá. Pior para a nossa Liga, mas melhor para os rivais. Ambos são bons rematadores, mas os seus números foram prejudicados pela importância que representam para o equilíbrio das respetivas equipas, que os afasta da baliza contrária.
As redes na Taça
A rotação dos guarda-redes na Taça de Portugal é quase uma regra e já faz muito tempo o seu reinado. A origem desta realidade está na motivação e gestão emocional difícil de alguém que é sempre suplente, algo que, pela proximidade, acaba por também afetar o guarda-redes eleito.
Deve em fase mais adiantada desta competição ser recuperado o titular do campeonato, teoricamente melhor? Mesmo sendo concorrentes de valor semelhante, o ritmo daquele que mais joga justifica quebrar a regra, incorrendo em eventual injustiça?
E na Liga, deve o titular dar lugar ao suplente, imediatamente a seguir ao erro, ou contar com a necessária tolerância e confiança do mister? A opção teoricamente certa nem sempre é a mesma. São muitas e complexas as questões que o treinador principal e o seu assistente têm de considerar.