É tempo de agarrar novos projetos
Tive, nos últimos nove anos, o privilégio de vestir a camisola desta casa, algo que me deixa muito feliz e honrado.
A BOLA não é apenas um diário. É a maior referência no jornalismo desportivo nacional.
A sua longa história fala por si: um sonho a três — de Ribeiro dos Reis, Cândido de Oliveira e Vicente de Melo — tornado realidade em 1945 e que se mantém firme até hoje, não obstante tempos turbulentos vividos em anos recentes.
Quando, poucos meses após o terminus da minha carreira, o José Manuel Delgado e o Vítor Serpa perguntaram-me se gostaria de comentar arbitragem para o jornal, aceitei sem hesitar. A minha única imposição foi a de o poder fazer com independência, em espaço condigno e de forma pedagógica.
Cessei então a minha colaboração n' O Jogo (o meu reiterado agradecimento ao José Manuel Ribeiro por me ter convidado a redigir artigo de opinião aos domingos) e abracei de imediato esta aventura, ciente dos constrangimentos que encerrava.
A formalização da relação aconteceu quando o Eng. Arga e Lima era proprietário do Grupo e deveu-se ao empenho de Paulo Cardoso, alguém que nos bons e maus momentos foi de uma transparência, frontalidade e lealdade absolutamente irrepreensíveis. À sua insistência e amizade devo a permanência nesta casa em períodos desafiantes.
A colaboração que me propuseram foi a de assinar um artigo semanal — este último que escrevo na qualidade de comentador — e efetuar análise técnica a todos os jogos (todos sem exceção) da Seleção Nacional e dos três grandes. Assim foi desde meados de 2016 até ao final do passado mês de abril.
Ao longo deste período, tenho orgulho em afirmar que falhei apenas a análise de uma partida, com os cumprimentos de uma valente cólica renal.
Contas feitas, foram cerca de mil e cem jogos escrutinados sem férias, sem pausas, sem descanso de jeito ao fim de semana ou nas noites europeias.
Já em relação ao Poder da Palavra, nome dado a este espaço, não houve quaisquer exceções: o texto saiu durante as cinquenta e duas semanas de cada um dos anos que aqui estive. Estamos a falar de quatrocentas e setenta crónicas.
A dedicação que entreguei a A BOLA não foi excecional nem merece elogio. Foi a mesma que o jornal sempre me ofereceu e o que se espera de alguém que assume um compromisso com outrem.
É justo reconhecer que fui sempre respeitado e tratado com elevação, educação e seriedade. Essa é a imagem que guardarei desta experiência e que me faz sair com sensação agridoce.
Esta não foi uma decisão fácil, mas foi ponderada. E não obstante ter acontecido antes do cenário ideal (final da época), foi no tempo que tinha que ser face ao convite que me foi dirigido e à importância de preparar a vida nesse sentido. Há momentos em que temos que fazer escolhas difíceis e este foi um deles.
Não posso deixar de prestar justa homenagem a cada uma das pessoas que, ao longo destes anos, tornaram o meu trabalho mais fácil. Estamos a falar de profissionais de mão cheia, com grande capacidade de trabalho. Além dos já citados, fica o meu sincero agradecimento ao Ricardo Quaresma, Gonçalo Guimarães, Rui Baioneta, Hugo Forte, Fernando Urbano, Rogério Azevedo, Nuno Perestrelo, Nélson Feiteirona, Nuno Paralvas, Nuno Raposo, Miguel Cardoso Pereira, Paulo Pinto, Pascoal Sousa, Tomás Almeida Moreira, Jorge Pessoa e Silva, João Bonzinho, Nuno Reis, João Agre, António Simões, Adérito Esteves, Eduardo Marques, Pedro Soares, Luís Filipe Simões, Miguel Mendes, Hugo do Carmo, Paulo Montes, Carlos Vara, Paulo Alves, Pedro Cadima, Pedro Barros, Paulo Cunha, Paulo Jorge Santos, Carlos Marques, Alexandre Pereira, Hugo Vasconcelos, Luís Mateus, Nuno Travassos, Irene Palma, Filipa Reis, Marta Fernandes Simões, Edite Dias e Patrícia Pereira (não me perdoarei se deixei alguém de fora).
Um abraço em particular ao Luís Pedro Ferreira, com quem lidei de perto nos últimos meses e que foi de uma lealdade e profissionalismo sem limites.
Esta é uma casa especial e nas casas especiais as portas nunca estão fechadas.
Venha o futuro.