José Mourinho, treinador do Benfica - Foto: Miguel Nunes
José Mourinho, treinador do Benfica - Foto: Miguel Nunes

Vitória justa, receio e a recusa em comentar... meteorologia: tudo o que disse Mourinho

Declarações do treinador do Benfica após a vitória por 1-0 frente ao Famalicão

— Uma análise ao jogo. Jogo equilibrado com duas equipas que querem ganhar?

— Tenho muitas dúvidas sobre as duas equipas quererem ganhar. Uma equipa que só faz um remate à baliza em 96 minutos não me parece que tenha tido como objetivo ganhar. Jogo equilibrado, fechado, não conseguimos jogar com o ritmo e com a intensidade com que temos jogado ultimamente, seja na fase defensiva, seja na fase ofensiva. Estávamos muito habituados a crescer como equipa, a jogar com o Barreiro junto do atacante, com um início de pressão muito forte. Acho que sofremos um bocadinho nesse nível com um adversário que tem qualidade, que tem bons jogadores. Demos-lhes um jogo relativamente fácil na primeira fase de construção. Mas depois fomos muito fortes no bloco. O adversário faz um remate à baliza em 96 minutos. Não é uma vitória bonita, mas é uma vitória normal, justa, num jogo parecido com alguns que tivemos aqui em casa em que acabámos por perder pontos. A equipas soube estar, soube ser compacta, controlar o jogo e ganhar.

— Quando é que o Benfica será tão entusiasmante a atacar como é férreo a defender?

— Ganhámos aqui ao campeão italiano por 2-0. Obviamente que não nos foi dado o valor pelo facto de ganharmos, e pela maneira como nós ganhámos, ao campeão de Itália. Fizemos um bom jogo em Moreira de Cónegos, onde não é fácil ganhar — acho que foi só o FC Porto a ganhar lá, nos últimos instantes do jogo —, obviamente que não foi dado o realce àquilo que fizemos, obviamente que foram erros que o Moreirense cometeu… Tivemos outros jogos em crescendo e jogámos com um adversário difícil, que não perdeu nenhum jogo fora até hoje, que só hoje é que não marcou golos fora de casa. E nós ganhámos. Não temos no plantel aqueles jogadores que são capazes de, por si só, levantar estádios. Aqui não há nem Mbappés, nem Vinícius, nem Yamals. Somos equipa, trabalhamos como equipa, crescemos como equipa e quando não é possível fazer um jogo brilhante, como hoje, é possível ganhar.

— O presidente do Famalicão afirmou que o ‘Ciclone dos Açores’ chegou ao Estádio da Luz. Isso merece resposta?

De metereologia não percebo nada… limito-me a ir ver ao telemóvel.

Quer comentar as palavras do Famalicão, que se queixou da arbitragem, ou as palavras de Francesco Farioli, que afirmou que se está a viver uma situação «insustentável»?

— Não quero comentar aquilo que disse o treinador do FC Porto nem o que disse presidente do Famalicão. Acho que as coisas são demasiado óbvias.

Pode comparar o lance de Otamendi com o de Hjulmand nos Açores? Acredita que Hjulmand é cada vez mais intocável?

— Eu pensava que ia pedir um comentário à notícia que escreveu [o alegado desagrado de José Mourinho face ao não adiamento do jogo com o FC Porto nos quartos de final da Taça de Portugal]. A notícia é falsa.

— E sobre a arbitragem?

— Está de castigo, não respondo, fica para a próxima…

— O Benfica fez um comunicado durante o Santa Clara-Sporting sobre a arbitragem. Concorda com o que o Benfica escreveu? Há um clube beneficiado pela arbitragem em Portugal?

— E o que é que eu tenho a ver com o Santa Clara-Sporting? Não faço comentários. Acho que o que aconteceu no Santa Clara-Sporting foi demasiado óbvio. Acho que ninguém tem dúvidas do que aconteceu. Há quem fale muito, há quem fale pouco. Decidi não dizer nada, não me interessa ser capa de jornal ou alimentar comentadores de TV. Simplesmente não me apetece. Foi dita tanta coisa. Há uma unanimidade que normalmente não existe. Vou falar para quê?

— Há motivos para haver queixas do Famalicão? Qual foi a sua visão do lance?

— A minha opinião? É penálti. Fácil.

— Aursnes jogou atrás do avançado. O que pode ele adicionar naquela posição?

— Oferece o combate que estamos a ter no ponto de vista defensivo. O Barreiro salta mais alto, é mais agressivo. O Aursnes é mais posicional, até porque a sua posição de origem — só não joga a guarda-redes —a sua posição de origem é mais posicional, um 6, um 8. Tem menos intensidade nessas distâncias que o Barreiro percorre para chegar à pressão e para arrastar a equipa com ele. Mas depois, quando o bloco se compacta, dá-nos isso. Somos uma equipa que é difícil de partir para os adversários. Somos uma equipa muito compacta, muito coesa defensivamente. É difícil para os adversários quebrarem-nos. E viu que o Famalicão é uma equipa que tem excelentes jogadores, aqueles rapazes do meio para a frente têm muita qualidade técnica, mas também velocidade, intensidade, mas não nos quebraram. Fizeram um remate à baliza, não criaram perigo absolutamente nenhum. O facto de ter preferido que jogasse o Aursnes ali e não o Sudakov foi exatamente porque vi que seria um jogo complicado.

— Prestianni foi homem do jogo. Reconhece nele características para dar coisas diferentes e mudar o jogo?

— É um jogador talentoso, tem genica, tem 1 contra 1. Joga melhor na esquerda do que na direita, porque vai à procura de zonas interiores, onde se sente muito mais confortável, mas fez um bom trabalho. Acho que é um jogador que tem dificuldades em ser intenso e concentrado durante 90 minutos. Às vezes as pessoas esquecem-se, até nós nos esquecemos, que ele é da mesma idade daqueles miúdos que vêm na equipa B. Mas é um jogador que cresce e vai continuar a ter oportunidades para crescer com minutos em campo.

— Tomás Araújo mereceu a titularidade e logo na primeira parte conseguiu controlar a profundidade de Zabiri em algumas ocasiões. Este tipo de exibições põe Araújo à frente de António Silva na hierarquia dos centrais?

— Quando tive de substituir o Tomás pelo António não tive nenhum receio. Eu, com o Tomás, o António e o Otamendi, estou absolutamente tranquilo. São dois jogadores de características diferentes. O Zabiri procura muito a profundidade e o Tomás, se calhar, é mais rápido ainda. É um central muito rápido, que tem características diferentes do António, que é muito forte nos duelos frontais. Na parte final do jogo, se calhar, foi bom ter lá o António, porque eles não entravam, começaram a ter bolas longas lá na frente. Em centrais estamos muito bem e se virmos a equipa B e até os sub-23… o Rui Silva, que não jogou na equipa B, jogou nos sub-23, é outro central com grande potencial. Estamos tranquilos.

— Temeu, a partir dos 70 minutos, que o Famalicão conseguisse chegar ao golo? A equipa teve alguns problemas a sair a jogar?

— Ou então o treinador pediu para não sair a jogar. Sou honesto consigo. Quando se está a ganhar por 1-0, por 2-1, se algum treinador diz que não tem receio, ou é ultraconfiante, ou é mentiroso. Tenho receio porque às vezes o golo aparece sem que nada o fizesse prever, mas quando o jogo está aberto, obviamente sente-se isso. Aquilo que disse à equipa quando meti o Rêgo lá dentro, e depois também com o Manu, foi: não vamos, num jogo que temos completamente controlado, fazer construção baixa, com uma equipa que agora, finalmente, nos está a apertar um bocadinho mais. Não vamos agora perder bola em fase de construção baixa, não vamos dar bola ao Trubin e metê-lo numa situação de dificuldade. Vamos esticar o jogo. Quando entram o Ivanovic e o Rêgo a intenção é exatamente essa. É ter gente que é rápida, que vai na profundidade, e ter o jogo controlado. Agora, obviamente que existe sempre o receio.

— Que impacto têm vitórias como esta, que disse que foi sem tanto brilho mas merecida, na evolução da equipa?

— O impacto que tem é os jogadores perceberem que quando cumprem rigorosamente, quando jogam concentrados, quando têm humildade, quando têm empatia funcional entre eles, mesmo quando não se joga de maneira brilhante, mesmo quando está com um resultado que deixa sempre o receio, a equipa sente-se confortável. Se me perguntar se preferia ter ganho dois ou três a zero e ter feito um jogo brilhante, eu diria que sim. Mas quando não é possível fazê-lo.... Também acho que se deve dar mérito a quem nos impediu de fazer um jogo muito bom. Eles têm mérito, têm uma equipa, bons jogadores. É importante ganhar e nós ganhámos. No fundo, acabámos por estar a sofrer pelo resultado, mas não pelo jogo em si. Fizeram um remate à baliza, numa bola que perdemos a meio-campo. O jogo tem aquele nervosismo do resultado, mas estava absolutamente controlado.

— Porque é que apostou em Tomás Araújo mesmo não estando em perfeitas condições? O que é que aconteceu com Leandro Barreiro para não ter ido a jogo?

— Ele jogou por uma razão muito simples. O Tomás e o doutor fizeram uma coisa que eu amo: não me disseram nada. Ele quis ir a jogo mesmo não estando bem. Pensaram que era possível jogar o jogo todo, não disseram nada para não influenciar a minha decisão e eu amo isso. Tanto da parte do jogador, como da parte do doutor. Gosto muito de trabalhar com doutores destes numa equipa de futebol, com esta filosofia. Tem empatia com o jogador e depois o treinador sabe no final do jogo. Neste caso não foi até final, mas foi por isso que não comecei com o António. Quanto ao Barreiro, na minha conferência de imprensa de ontem… Aí sim, vamos falar de meteorologia, houve um tsunami porque não fiz conferência de imprensa, mas fiz com Benfica Tv… A conferência foi antes do treino, foi às 10 horas. No treino, ele sentiu e nem sequer foi convocado.