Cristiano Ronaldo e João Félix, dupla de ataque do Al Nassr e da Seleção Nacional (EPA/José Sena Goulão)

Um empurrãozinho das arábias

Ao início da tarde, Cristiano Ronaldo empurrou um fã; horas depois, deu um 'empurrãozinho' rumo à goleada de Portugal. Ou como a Seleção pode sonhar... à conta da liga saudita

Tudo começou ao início da tarde com um empurrão que se tornaria mundialmente viral e que ameaçava ensombrar o resto do dia, mas acabou bem, com outro empurrão, este vindo das arábias e que volta a deixar Portugal a sonhar com um inédito título mundial dentro de menos de um ano.

Em ambos esteve Cristiano Ronaldo (e não só), inacreditavelmente enérgico e letal aos 40 anos, autor de mais dois golos pela Seleção, agora diante da Arménia, agora somando, CR7, um total de 942!

Comecemos pelo primeiro episódio: meio mundo viu polémica no empurrão que Ronaldo deu a um rapaz que dele se acercou em zona proibida, o hotel onde a Seleção estagiava, a horas do arranque da qualificação para o Mundial. E, não, não é por ser figura pública que CR7 é obrigado a tolerar tudo, desde logo as invasões do seu espaço pessoal. Aqui, se alguém falhou, não foi decerto Ronaldo e muito menos o rapaz que tentou a sua sorte. Falhou a segurança em torno da Seleção.

Há mais de 20 anos que CR7 nao pode ter uma vida normal. é perseguido loucamente por fãs onde quer que pise, é assediado, não tem um segundo de descanso. Nesta situação, era só um jovem com um telemóvel, mas nada, nos instantes anteriores, garantia que seria apenas isso. A intenção não era má, mas poderia ser.

A verdade é que o miúdo entrou no lobby do hotel e acercou-se de Ronaldo o suficiente para, se fosse mal intencionado, poder causar dano, ao capitão ou a qualquer outro elemento da equipa ou do staff. Fosse por intenção ou por acidente. Basta recordar o episódio numa das muitas invasões de campo no Euro-2024 na Alemanha, aquele que levou a que, na perseguição, um steward tenha derrubado Gonçalo Ramos - e até hoje ninguém me convence de que a ausência de minutos em campo do atacante no resto do torneio não tenha estado relacionado com alguma lesão sofrida naquele momento.

Certo é que o incidente do hotel correu mundo, até mais (digo eu) do que as belíssimas imagens dos golos portugueses, dois deles pelo capitão de 40 anos. E isto leva-nos ao segundo empurrão, o das arábias: a mão cheia de remates certeiros com que Portugal arrumou a Arménia teve como protagonistas três internacionais atualmente na liga saudita, CR7, João Félix e Cancelo.

Tempos houve em que menorizei a opção de alguns craques pela Arábia, mas ao ver este trio tão fresco (e competente) é possível vislumbrar a ideia de que, em tempos de temporadas desgastantes na Europa, ter jogadores de qualidade em campeonatos que, sendo competitivos q.b., não provocam nem de perto tanto cansaço pode ser uma boa notícia para a Seleção à vista do Mundial. Para um jogador de 40 anos, o mais competitivo de todos, é decerto uma ajuda, como se viu na última Liga das Nações em que Ronaldo parecia um jovem, tal a energia deixada em campo... E que continua a deixar.