Três passes de milhões rendem na Taça desprezada (crónica)
É estranha a relação do SC Braga com a Taça da Liga.
Por um lado, as três conquistas da prova mostram que o clube valoriza a competição. Não é de agora, mas basta ver que esteve em quatro das últimas seis final-four. E vai à sexta nas últimas oito.
Por outro, o ambiente na Pedreira em jogos desta competição continua frio. Quase fantasmagórico. Nesta quarta-feira, na goleada (5-0) sobre o Santa Clara, por vezes pareceu que tínhamos regressado aos tempos de pandemia. Perante o silêncio das bancadas, conseguiam ouvir-se perfeitamente os gritos dos jogadores dentro de campo. E dos treinadores. E de qualquer pessoa que gritasse isolada o que quer que fosse.
O eco das quatro vitórias nos últimos cinco jogos não se fez sentir no apoio à equipa de Carlos Vicens, porque o boicote da claque arsenalista à Taça da Liga prolongou-se mais um ano. Até à final-four, pelo menos. Na meia-final, lá estarão alguns dos fiéis que não falharam o jogo dos quartos. E, certamente, irão também para a festa os gazeteiros do apuramento.
Alheia à falta de apoio, a equipa arsenalista é que não facilitou. Os jogadores cumpriram o que o treinador tinha pedido na véspera e respeitaram os pergaminhos do clube na prova. E como tal, resolveu tudo em 25 minutos. Que isto de ter três jogos no espaço de seis dias, e ter encontro marcado com o líder do campeonato no Dragão, no já no domingo, requer alguma gestão.
E se é para gerir, que seja com uma vantagem confortável. Assim decidiram os arsenalistas, graças a um outro ato de gestão que começa a render: Pau Victor.
O avançado espanhol contratado no início da época ao Barcelona pelo valor mais alto de sempre na história do clube terá feito uma das exibições mais convincentes com a camisola arsenalista. Se é para ganhar troféus que se investem 12 milhões de euros no passe de um jogador, brilhar para garantir uma meia-final é uma excelente forma de amortizar o gasto. O rapaz do passe milionário começou a indicar o caminho para Leiria com dois passes.
O primeiro para o fundo da baliza do Santa Clara logo ao minuto 7, oportuno e com classe, após assistência de Ricardo Horta. O segundo surgiu aos 24’, depois de entrar na área pela direita e cruzar atrasado para o golo de Lelo.
E só depois veio a gestão. Confortável com bola e perante um Santa Clara irreconhecível, o SC Braga deixou o tempo passar até ao intervalo, quando Vicens fez descansar Lagierbielke para para não arriscar o segundo cartão amarelo.
Depois, mesmo perante a melhoria dos açorianos, o SC Braga deu provas de que vive mesmo o melhor momento da época. E Pau Victor continuou a dar provas de qualidade. Lançou Gabri Martínez na direita para o compatriota assistir Fran Navarro para um golo totalmente castelhano.
E só no 4-0, marcado por Diego Rodrigues não teve interferência, porque no quinto golo, é dele e é deliciosa a assistência de calcanhar para Moscardo fechar o resultado.
Perante tal demonstração de valorização, fica a pergunta: quem vai continuar a desprezar esta Taça?