Sub-17: agora já só falta tudo
Portugal é campeão do Mundo de sub-17 em futebol. Um feito extraordinário e digno dos maiores elogios, fruto de uma evolução constante da formação durante os últimos quase 40 anos, sabendo todos — não vale escamotear — que o ponto de viragem se deu com o trabalho de Carlos Queiroz, Jesualdo Ferreira, Nelo Vingada e outros representantes do futebol universitário, transferidos diretamente do antigo ISEF, atual Faculdade de Motricidade Humana, para a Federação Portuguesa de Futebol nos anos 80 do século passado, na altura com a bênção de um diretor-geral de desportos visionário, Mirandela da Costa.
Agora que viveram aquele que provavelmente terá sido o melhor momento da vida de cada um — da desportiva seguramente —, falta tudo aos novos campeões do Mundo tudo para serem futebolistas de primeira. Não foi engano: é mesmo tudo. Vá, admitamos, quase tudo, porque talento seguramente tê-lo-ão todos e isso é um excelente ponto de partida.
Mas falta tudo o resto: perceber como evoluem como jogadores e como pessoas; perceber como lidam com o período mais complicado de qualquer carreira futebolística, justamente o da passagem de júnior para sénior. Trata-se, obviamente, da idade em que a taxa de abandono se revela mais alta, por razões variadas e atendíveis: entrada na idade adulta, transição do ensino secundário para o superior, vidas que começam a autonomizar-se, até, nalguns casos, perigos que advêm de bolsos mais bem recheados que o normal em jovens adultos.
Também é bom que tenhamos algum freio quando afirmamos coisas eloquentes como «o futuro do futebol português está garantido». Não, não está. Caso contrário a Nigéria (cinco títulos deste escalão), o Gana ou o México (dois cada um) teriam mais conquistas internacionais nos respetivos currículos. Já agora, a Arábia Saudita e a Suíça também já levantaram este troféu.
É muito bom formar a ganhar e sim, aos 17/18 anos já interessa muito este detalhe do ganhar, coisa que não vale necessariamente para idades inferiores. Mas ganhar nos juniores não é o mesmo que triunfar nos seniores. Os primeiros a ter de ganhar consciência disto são os próprios jogadores, cabendo aos adultos na sala explicar-lhes que o caminho vai no início.
É verdade que Fábregas, Toni Kroos ou Phil Foden, três grandes futebolistas, foram considerados melhores jogadores do Mundial de sub-17. Mas Sinama-Pongolle, por exemplo, também...