Homenagem a Aurélio Pereira em Alvalade (foto: Miguel Nunes)

Sporting deixa um último adeus ao 'Sr. Formação' no Estádio José Alvalade

Leões prestaram homenagem na Praça do Centenário a Aurélio Pereira, que morreu esta terça-feira aos 77 anos; alguns jogadores da equipa principal marcaram presença, assim como Rui Borges e outras grandes figuras do clube e futebol nacional

O Estádio José Alvalade recebeu esta quinta-feira uma grande homenagem do Sporting a Aurélio Pereira, o antigo responsável pelo departamento de formação, apelidado precisamente de ‘Sr. Formação’, que morreu na última terça-feira, aos 77 anos. 

Antes da passagem do cortejo fúnebre pelo estádio, a missa teve lugar na Igreja de São João Baptista, no Lumiar, local em que também se realizou o velório, no dia anterior, quarta-feira. Várias figuras leoninas, e não só, estiveram presentes, entre elas João Simões, que ascendeu esta temporada à equipa principal e que foi a voz da academia leonina.

O jovem de 18 anos leu uma mensagem na missa em nome de todos os jogadores e terminou com o grito que Aurélio Pereira inventou e que ainda é utilizado na academia: «O que é o Sporting? Esforço, Dedicação, Devoção e Glória. O que nós queremos? Vitória, vitória, vitória!»

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Para além do médio, também marcaram presença nomes como Sousa Cintra, Godinho Lopes, Dias Ferreira, Fernando Gomes, Miguel Ribeiro Telles, António Oliveira, Luís Vidigal, sendo que alguns deles já tinham apresentado as suas condolências na quarta-feira. Destaque ainda para a equipa técnica de Ruben Amorim, que não pôde comparecer devido aos seus compromissos no Manchester United, mas que deixou uma coroa de flores em sua homenagem. O pai de João Palhinha, atualmente no Bayern, também esteve presente. 

Enquanto a missa se realizava, algumas pessoas já estavam no estádio prontas para a homenagem e uma delas era Nani, que falou um pouco e recordou uma história marcante. «Tenho uma história muito engraçada no Sporting. Tive de esperar dois anos para poder ser inscrito e o Sr. Aurélio sempre esteve presente, sempre me acalmou, tanto que me premiaram uma viagem aos Estados Unidos. Como todos os jovens, muitas vezes saíamos da rotina da Academia, facilitámos um bocado e ele teve de intervir. Lembro-me que nós pensávamos que íamos levar um raspanete e ele, com muita calma e serenidade, deixou-nos palavras muito importantes e disse que tinha a confiança de que íamos chegar ao patamar mais alto», lembrou Nani.

«Passados quatro anos, cheguei ao Manchester United. Tive esses conselhos de uma pessoa muito sábia e experiente e livrei-me de muitos problemas e de me envolver com pessoas que podiam estragar a minha carreira. Nunca mais esqueci e sempre valorizei todos os conselhos. Vai deixar muitas saudades, é isso com que quero ficar. Uma pessoa muito alegre e muito importante nas nossas carreiras», completou.

José Couceiro, Carlos Xavier e José Eduardo Bettencourt foram dos primeiros a chegar, seguidos do ex-extremo de 38 anos e também de Daniel Bragança, que já tinha marcado presença no velório, mas que só esta quinta-feira prestou declarações. 

«Continuava a acompanhar-me, até quando estive emprestado. Ainda há três semanas ligou, a saber como eu estava. Nunca falhava. Eu fui uma percentagem mínima dos jogadores que apanhou. Na academia, quando nos elogiava, falo por mim... eu crescia dois palmos. Era respeitado por gerações e gerações. É uma pessoa que vai ficar sempre marcada pelo Sporting, pelo país inteiro, pelos seus valores, profissionais e enquanto pessoa. Era o expoente máximo», explicou. «Quando era miúdo, estava a descer as escadas e vi o Sr. Aurélio. Ele disse-me que eu tinha tudo para conseguir singrar no Sporting. E aquilo para mim foi... nunca mais me esqueço. Foi gasolina. Acompanhou o meu percurso até hoje», acrescentou o futebolista, que ainda está lesionado, até ao final da temporada, e de muletas.

Passado um pouco, finalmente chegaram outros colegas seus: Morten Hjulmand e Gonçalo Inácio acompanharam Daniel Bragança no estatuto dos capitães de equipa, e depois os restantes fizeram questão de comparecer, por serem produtos da formação leonina: Geovany Quenda, Ricardo Esgaio, Diogo Pinto e Diego Callai. Ao seu lado também estava Rui Borges e alguns elementos da sua equipa técnica, como Luís Neto.

Nessa altura chegaram ainda Pedro Proença e outros elementos da FPF, como Domingos Paciência, e também o presidente do clube, Frederico Varandas, e outros membros de órgãos sociais leoninos. Destaque ainda para as centenas de jovens jogadores da formação presentes e também de alguns atletas de outras modalidades, como é o caso de Salvador Salvador, jogador de andebol dos leões, que foi outro a falar brevemente à imprensa portuguesa.

Paulo Gomes, diretor-geral da Academia do Sporting, e Tomaz Morais, co diretor-geral da Academia do Sporting, também prestaram declarações, já no final da cerimónica.

«O maior ensinamento que eles nos deixa é a sua forma alegre e bem-disposta de falar com toda a gente. Conseguia convencer todos os jogadores que podiam chegar ao topo. Não há outro Aurélio em Portugal, ele era único. Vamos continuar o legado de bom trato e cordialidade com os jogadores Não é preciso gritar para conseguir impor as nossas ideia, há que fazê-lo sendo transparente e honesto», disse Paulo Gomes.

«Para muitos pode ser difícil e científico, para o Senhor Aurélio era demasiado natural. Descobriu o melhor do mundo. Tinha a capacidade de não olhar só para o jogador, mas para tudo o que o envolvia. O senhor Aurélio era uma pessoa extraordinária em todos os domínio. O legado ele deixa acaba por ser de grande responsabilidade e representa os valores, a identidade e a cultura do Sporting, aquilo que é o futebol português na sua essência mais pura e genuína. Vamos incorporar os valores do Senhor Aurélio. O seu profissionalismo, a sua competência e o seu conhecimento. Jamais será esquecido», acrescentou Tomaz Morais.

Já com todos os presentes, o cortejo fúnebre passou pelo estádio, acompanhado das pessoas que estiveram na missa, incluindo, naturalmente, dos familiares de Aurélio Pereira, dando início à homenagem. Seguiram-se alguns minutos de total silêncio e, de seguida, um de muitos aplausos. Varandas e Proença deixaram uma coroa de flores na Praça do Centenário, antes do cortejo fúnebre continuar caminho rumo ao Cemitério dos Olivais, no qual decorreu a cremação. No caminho, passaram pela rotunda do Leão, onde algumas dezenas de adeptos mostraram a sua gratidão ao legado que o Sr. Formação deixou no clube e em Portugal.