Sérgio Conceição recorda Milan: «O ambiente não era bom e a direção não me apoiou»
Atualmente no Al Ittihad, Sérgio Conceição recordou a passagem pelo Milan. O treinador português assumiu o clube italiano em dezembro do ano passado, sucedendo a Paulo Fonseca. Ao segundo jogo com Sérgio Conceição, o Milan venceu a Supertaça italiana, precisamente em solo saudita, onde treina agora o luso.
«Lembro-me de dias de trabalho intenso, focados em análise de vídeo, motivação e discursos para entrar direto na cabeça dos jogadores. Vencemos a Juventus do meu filho Francisco e depois a Inter, de reviravolta. E eu chorei», lembrou, em entrevista à Gazzetta dello Sport.
Sérgio Conceição festejou com um charuto e admitiu que se tratou de uma promessa.
«Os jogadores tinham visto vídeos e pediram-me para fumar se ganhássemos. Já o tinha feito 11 vezes com o FC Porto, ou seja, depois de ganharmos troféus. O treinador que mais ganhou. Então fi-lo de novo», confessou, fazendo um balanço da passagem pelo Milan, onde aponta o dedo à direção.
«Positivo. De 2016 até hoje, apenas dois treinadores conquistaram títulos com o Milan. Pioli, com o Scudeto, e eu. Se somarmos pontos do nosso período, tivemos ritmo de Liga Europa. Os resultados estiveram lá. Estou a pensar nas duas vitórias no dérbi e contra a Roma. É dececionante, mas houve coisas que não gostei. O quê? Instabilidade no clube, o clima em torno da equipa não era bom. Por isso, apego-me ao que fizemos. Além disso, a direção não me apoiou. Vou dar um exemplo, depois de ganharmos a Supertaça, jogámos contra o Cagliari. Naquela época, já havia rumores de que o clube estava à procura de outros treinadores. Eu estava focado em trabalhar e vencer, com a pressão dos resultados. Não tive tempo para trabalhar a todos os níveis», explicou, revelando que estava disposto a continuar no Milan, mas com «algumas alterações».
Sérgio Conceição falou ainda sobre os jogadores que encontrou no Milan e foi questionado se se sentiu traído por eles.
«Nunca. Estiveram sempre comigo. O Theo Hernández disse também disse isso numa entrevista que deu. Exijo rigor, padrões exigentes e relaxamento quando for hora disso. Se alguém aparece um quilo acima do peso, chega atrasado ou algo do tipo, não tolero. Para mim, no fim de contas, todos os jogadores são iguais», atirou, revelando que chegou a receber contactos da Lazio quando ainda estava no FC Porto.
«Mesmo antes de assinar com o Al Ittihad, recebi propostas. O campeonato aqui é competitivo, as ambições são altas. É preciso uma adaptação à dinâmica cultural, mas isso é um desafio. Adoro desafios assim», apontou, confessando que tem a certeza de que voltará a Itália.
Sérgio Conceição assumiu que tem na religião uma parte fundamental da sua vida.
«Sou católico praticante. Aqui não posso, mas em Milão ia à missa todos os dias. Há alguns meses, o Papa convidou-me para o Jubileu para partilhar a minha trajetória e dificuldades», disse, revelando ainda o discurso mais importante que já fez.
«Em 2012, no Olhanense, estudava as paixões e hobbies dos meus jogadores, algo que faço sempre. Antes de um jogo, no Dia dos Pais, mostrou um vídeo dos pais a a falar sobre eles. Havia gente a chorar, aí entraram em campo e... 2-0 para o adversário. Quando voltei ao balneário, mudei a minha versão e voltei a ser sargento. Empatámos 2-2», atirou.
Artigos Relacionados: