Bruma festeja um golo com a camisola do SC Braga (IMAGO)
Bruma festeja um golo com a camisola do SC Braga (IMAGO)

SC Braga: a incrível história do pai de Bruma, bravo guerrilheiro na luta pela independência da Guiné

Alguns capítulos da vida de Tué Na Bagna, progenitor do craque dos guerreiros do Minho, são contados no livro 'Manecas Santos, uma biografia da luta', publicado recentemente em Bissau

A obra, de 159 páginas, foi publicada no início do passado mês de dezembro, para contar, através de entrevistas, a história de Manecas dos Santos, comandante e antigo combatente pela liberdade da Guiné de Amílcar Cabral, cuja morte há 52 anos foi assinalada esta segunda-feira.

O livro que retrata a vida de Manecas Santos e que também relata os feitos do pai de Bruma, atual futebolista do SC Braga

Por entre os muitos relatos, há um que se destaca de forma particular, por envolver o pai de Bruma, atual futebolista do SC Braga e internacional português, que Manecas dos Santos considera ter «bravura a roçar a loucura» pelo que fez nas matas da Guiné, durante a guerra colonial.

A Lusa compilou alguns dos excertos do livro que se referem a Tué Na Bagna, líder de comando que, segundo Manecas dos Santos, liderava mais de meia centena de elementos, que o seguiam pela «fama de terrível guerrilheiro».

«Tué era, de facto, dono de uma coragem que raiava a loucura«, afirma o ex-guerrilheiro, de 83 anos no livro.

Os jovens Balantas, um dos principais grupos étnicos da Guiné-Bissau, ofereciam-se para se juntar ao comando de Tué Na Bagna «atraídos pela sua fama» e para «partilhar a glória» e num dos muitos episódios da guerra há um que se destaca, envolvendo o general António de Spínola, em 1968, era este o givernador militar da Guiné, e também Nino Vieira, comandante das operações da guerrilha independentista no sul da Guiné.

Spínola tinha mandado instalar a tropa colonial portuguesa na zona de Balana, que era estratégica para os dois exércitos em guerra no sul da Guiné, e Tué simplesmente avisou Nino Vieira que enquanto os soldados portugueses lá estivessem todos os dias ia haver emboscadas e ataques ao quartel local por parte dos seus homens.

Manecas dos Santos garante que assim foi e dá conta de que passados alguns dias, e como consequência das flagelações dos comandados por Tué, Spínola simplesmente abandona Balana e o seu quartel.

«Ironicamente, um dos filhos do Tué [Bruma] jogaria na seleção portuguesa de futebol», vincou Manecas dos Santos, numa alusão ao atual avançado do SC Braga, garantindo que a decisão de Tué de fazer emboscadas diárias nem teve em conta Nino Vieira, seu superior direto.

Com a Guiné já independente, Tué Na Bagna, já falecido, faria parte de uma lista de mais de 50 ex-guerrilheiros da etnia Balanta acusados de envolvimento no chamado caso 17 de outubro, alegada tentativa de golpe de Estado para derrubar o já presidente Nino Vieira.

O caso ocorreu em 1985 e teria como desfecho, um ano depois, o fuzilamento de seis dos implicados no alegado golpe, mesmo com apelos de clemência do então Presidente da República, Mário Soares, e até do Papa João Paulo II.

O pai de Bruma e outros condenados passaram mais de dez anos numa ilha isolada do arquipélago dos Bijagós, até serem restituídos à liberdade no início dos anos de 1990 com a abertura política do país ao multipartidarismo.