Ruben Amorim, treinador do Manchester United - Foto: IMAGO

Ruben Amorim: «Algum treinador perdeu tantos jogos sem perder o emprego?»

Primeira entrevista do treinador tocou nas novas contratações, nas mudanças que já vê no trabalho do plantel e na previsão para o próximo ano

O balanço da época passada, a mudança de cultura e os dois reforços que custaram, os dois, mais de 160 milhões de euros. São estes os temas principais da primeira entrevista de Ruben Amorim na temporada 2025/26, disponibilizada pelo Manchester United, numa altura em que a equipa está concentrada em Chicago para a digressão de pré-época.

«Mais do que os resultados, as performances podem dar-nos confiança», disse o técnico, que também falou das expectativas que tem para o plantel que tem à disposição: «O grupo é muito bom. Já o disse no ano passado: podemos dar muito mais com estes jogadores. Todo o trabalho que fizemos antes de comprarmos o Matheus Cunha e o Mbeumo, todo o trabalho atrás das cortinas, foi muito importante. Eles são tudo o que queríamos. Boas pessoas e bons jogadores. Estamos num bom momento.»

«Tem sido uma boa pré-época. A forma como me sinto está relacionada com o desempenho da equipa. Posso estar mais feliz quando a equipa tem boas performances. Estão a dar tudo e isso deixa-me muito satisfeito», explicou o treinador, que explicou o rumo que tomou no primeiro dia de regresso aos trabalhos: «Estava confiante porque sabia o que fazer, sabia qual era o caminho. Isso dá alguma confiança. Já tínhamos o Matheus [Cunha] e tínhamos aquele sentimento de pressão. Sabemos que temos de ter resultados.»

Para Amorim, muito mudou desde que chegou a Inglaterra. «Sinto que é claro que a cultura está a mudar. A mudança tem de vir de todos e acho que todos estão a mudar. Claro que os resultados ditarão muito, mas todos têm uma ideia muito clara do que fazer, do dia de trabalho. Tudo está no sítio certo para crescermos. Somos melhores na organização do dia a dia, na nutrição, na preparação do treino. Temos pessoas que nos ajudam a sermos melhores», prosseguiu o técnico, que referiu várias mudanças que já são visíveis na organização do Manchester United, tanto fora como dentro do plantel: «Não me preocupo com coisas pequenas e no ano passado pensava muito nisso. Isso ajuda-me a preocupar-me com o jogo e com a equipa. Acho que os jogadores estão a trabalhar muito bem. Perceberam que têm de dar 100%, senão será difícil para eles. Ainda é muito cedo, mas sinto que, se alguém chegar ao nosso grupo, não vou ter de fazer tudo. Agora tenho um grupo de liderança dentro da equipa que me ajudará com isso. Há detalhes que nos ajudam a crescer. Anteriormente, os jogadores comiam e iam embora. Agora, esperam uns pelos outros. Está a melhorar. No treino temos de os mandar embora do campo. É um bom sinal.»

Já se viu a marca de Ruben Amorim no Man. United na época passada? «Viram as posições dos jogadores, alguns pormenores, perceberam o que queríamos fazer. Não se viu tudo, e isso é frustrante para todos, sobretudo para mim. Agora já é mais claro porque as características são diferentes», disse o técnico português, que deixou uma ressalva: «Temos de lembrar que, nos últimos meses, apesar de termos a obrigação de ganhar na Premier League, o nosso foco estava na UEFA Europa League. Por vezes foi muito difícil, tivemos lesões. Foi duro para todos.» Ainda assim, isso «não é desculpa»: «Não fizemos o nosso trabalho na época passada. Temos de o fazer este ano.»

O caráter dos reforços foi «ponto-chave»

Muito se tem falado de possíveis cisões dentro do balneário dos red devils e, com a importância dada ao grupo por Ruben Amorim, houve um aspeto que muito peso teve nas contratações de Matheus Cunha e Bryan Mbeumo. «O caráter foi um ponto-chave. Demorámos muito tempo a conhecer os jogadores antes de os trazermos para o grupo. Não é só como jogam. Será uma regra a partir de agora e pesará muito nas contratações», explicou Ruben Amorim, que relembrou os tempos de glória do Man. United como um exemplo a ter em conta. «Claro que o jogo muda, mas temos de olhar para trás e ver o que é que fazia com que o clube tivesse tanto sucesso. Há coisas que podemos ir buscar: o espírito dos jogadores. Quando jogamos bem em Old Trafford, sinto o entusiasmo de toda a gente. Os adeptos merecem jogadores como o Matheus ou Bruno [Fernandes] ou outros que conseguem levantar o estádio», completou.

Os adeptos mereceram especial elogio de Ruben Amorim. «É um sítio especial. Ouvir pessoas a dizerem que estou a fazer um bom trabalho depois da última temporada é muito importante. Sei que no futebol os resultados ditam muitas coisas. Mas sinto mesmo o apoio de toda a gente e quero conseguir os resultados. Basta pensarmos num treinador que tenha perdido tantos jogos numa equipa grande e não tenha perdido o emprego. Não há. Se isso não é apoio, não sei o que é. Farei o meu trabalho. Aprendi muito na época passada e acho que vamos ser melhores.»

Amorim terminou com uma previsão para o futuro: «Virão bons dias. Por tudo o que disse: a organização do clube, trazer jogadores com uma certa forma de estar. Isso não é do treinador, é do clube. Este clube, mesmo sem competições europeias, tem lucros de várias maneiras. Temos todas as ferramentas para voltarmos ao topo. Eu só me vou preocupar em ganhar jogos. Estamos alinhados no que devemos fazer. Agora temos de ganhar jogos», concluiu.

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