Pedro Proença, presidente da Federação Portuguesa de Futebol (IMAGO)
Pedro Proença, presidente da Federação Portuguesa de Futebol (IMAGO)

Representante da FPF na Liga pode estar em desconformidade com estatutos

Rui Caeiro foi cooptado após as eleições na federação e nomeado vice-presidente, mas apenas de forma transitória. Diretores executivos da Liga já trabalham na Cidade do Futebol

O representante da Federação Portuguesa de Futebol (FPF) na direção da Liga Portugal, Rui Caeiro, não concorreu na lista de Pedro Proença, tendo sido cooptado após a vitória deste sobre Nuno Lobo nas eleições de 14 de fevereiro. A situação causa estranheza em vários círculos do futebol nacional, até porque o facto de não ter integrado a lista faz com que não tenha sido escrutinado pela Comissão Eleitoral no sentido de perceber se reúne condições para o exercício de cargo diretivo na FPF.

A FPF considera que a nomeação de Rui Caeiro para a posição federativa na Liga (por inerência, cada uma das instituições tem assento na direção da outra) foi decidida «ao abrigo das disposições estatutárias e legais aplicáveis» (ver respostas na íntegra mais abaixo). Esta leitura, porém, não é consensual. Fontes contactadas por A BOLA defendem que deve ser um dirigente «eleito e escrutinado» a ocupar o lugar. Lembram que os elementos cooptados para a direção da FPF «não têm sequer direito a voto nas decisões» por ela tomadas e entendem que o Instituto Português do Desporto e Juventude deve pronunciar-se sobre o caso.

A 18 de março, após a primeira reunião de direção, Rui Caeiro foi anunciado como vice-presidente. Dias depois deixou de constar com esse cargo no site oficial da FPF, que justifica o caráter provisório dessa posição com a necessidade de «assegurar a gestão da FPF em conjunto com o presidente nesse curto período em que não estavam distribuídos pelouros».

A cooptação de dirigentes está prevista nos estatutos da FPF, com a ressalva de que os cooptados assumem uma posição de observadores, intervindo quando solicitados a tal e não podendo votar sobre as matérias discutidas pelo órgão.

Nos termos da lei, cabe ao IPDJ garantir a conformidade destas matérias, ao abrigo do Regime Jurídico das Federações Desportivas. Questionado por A BOLA, o conselho diretivo do organismo confirma que «O IPDJ é responsável e intervém na definição, execução, avaliação e fiscalização da prática desportiva em Portugal», assinalando porém que «sobre o assunto em causa, não chegou ao IPDJ nenhuma menção ao tema».

Diretores executivos da Liga já trabalham na FPF

Outra realidade que vai causando estranheza na Cidade do Futebol é o facto de Vasco Pinho e José Carlos Oliveira, diretores executivos da Liga em funções até às eleições e tomada de posse do novo presidente, já terem postos de trabalho na sede federativa e email da FPF. As fontes contactadas por A BOLA acrescentam que ambos já dão ordens diretas a funcionários da instituição, tendo Vasco Pinho os pelouros financeiro e de recursos humanos e José Carlos Oliveira o jurídico, o do licenciamento e o do compliance.

Recorde-se, entretanto, que na sequência da Operação Mais-Valias levada a cabo pelas autoridades judiciais foram suspensos quatro diretores, três deles destas áreas: Rita Galvão (RH), Paulo Ferreira (Financeiro), Rute Soares (Compliance) e Nuno Moura (Marketing) aguardam nota de culpa relativamente aos processos disciplinares que lhes foram instaurados. Foram obrigados a devolver os materiais de trabalho e os carros de serviço e impedidos de frequentar a Cidade do Futebol.

A FPF explica, a propósito dos dois diretores da Liga, que «neste período de transição, é natural que tenham, sempre que necessário, um espaço de trabalho na Cidade do Futebol e comecem a contactar os dossiês que os aguardam e os elementos que farão, depois das eleições na Liga Portugal, parte das suas equipas». Vasco Pinho e José Carlos Oliveira ocupam o gabinete que desde 2016 era utilizado pelo vice-presidente Humberto Coelho.

A Liga Portugal vai a votos no dia 11 de abril. Os clubes vão escolher o sucessor de Pedro Proença e há dois candidatos anunciados: Reinaldo Teixeira, presidente da AF Algarve, e José Gomes Mendes, presidente da mesa da Assembleia Geral da Liga. Ambos têm até à próxima sexta-feira para entregar os respetivos cadernos eleitorais, algo que até esta quarta-feira ainda não foi feito.

Helena Pires, que por inerência já trabalha na Cidade do Futebol como vice-presidente da FPF, é a lider interina do organismo que gere o futebol profissional.

Os esclarecimentos da FPF

Na sequência das questões colocadas por A BOLA, o departamento de comunicação da FPF enviou, com pedido de publicação na íntegra, as seguintes respostas:

«1. Rui Caeiro foi cooptado para a Direção pelo presidente Pedro Proença e indicado como representante da FPF na Direção da Liga Portugal, ao abrigo das disposições estatutárias e legais aplicáveis. Foi também, provisoriamente e no período entre a tomada de posse e a primeira reunião de Direção, designado vice-presidente com o intuito de assegurar a gestão da FPF em conjunto com o presidente nesse curto período em que não estavam distribuídos pelouros, tendo já cessado essas funções.

2. ⁠ O presidente da FPF já informou os membros da Direção da FPF, na sequência do que anunciara já previamente em Assembleia Geral da Liga Portugal e até de forma pública, que o Dr. Vasco Pinho e o Dr. José Carlos Oliveira passarão a integrar a Direção da FPF no dia seguinte às eleições para a presidência da Liga Portugal, organismo onde ficaram apenas a assegurar a transição até ao ato eleitoral.

Além disso, a presidente interina da Liga Portugal, Helena Pires, faz-se apoiar nos membros da comissão executiva da Liga Portugal no desempenho das suas competências e funções, incluindo, naturalmente, as de vice-presidente da FPF. Neste período, é pois natural que tenham, sempre que necessário, um espaço de trabalho na Cidade do Futebol e comecem a contactar os dossiers que os aguardam e os elementos que farão, depois das eleições na Liga Portugal, parte das suas equipas.

A fase de transição e mudança de ciclo vivido ao longo do último mês quer na FPF quer na Liga Portugal, tem exigido a ambas as entidades um particular esforço de colaboração conjunta que vai ao encontro dos desígnios de cooperação que idealmente devem nortear a relação entre as entidades que regem o futebol português, e que merece ser enaltecido.»