Reencontro no Gil Vicente-Sporting: o «frio e metódico» e o «amigo do amigo»
Há 20 anos, José Pedro Pinto e Rui Borges trabalharam juntos na equipa B do SC Braga. Foram apenas dois meses, mas o destino futebolístico ditou um reencontro esta quinta-feira, no Cidade de Barcelos, num jogo entre Gil Vicente e Sporting que vale um lugar nas meias-finais da Taça de Portugal.
É um duelo entre o treinador gilista, «frio no relacionamento, metódico e dedicado», e o técnico dos leões, «amigo do amigo, humilde e sério». Quem o diz é António Caldas, que trabalhou com ambos em Braga.
«Têm personalidades diferentes. O Zé é mais frio no relacionamento, mas vive as coisas intensamente. Já o Rui é o verdadeiro amigo do amigo e tenta sempre levar as coisas de forma positiva», começa por dizer em conversa com A BOLA.
O treinador, que construiu grande parte da carreira nos minhotos, não poupa os elogios a ambos.
«O Zé foi sempre um excelente colaborador. É muito dedicado e metódico, estava sempre atento a tudo e a todos. Adorava trabalhar com ele. Ele gostava muito de pensar o jogo, a metodologia de treino e conversávamos muito. Gosto muito da forma como se dedica», destacou.
«Fui colega de equipa do pai do Rui no Paços de Ferreira. Tanto o Borges como o Rui, o filho, são muito humildes, sérios, terra-a-terra e amigos do amigo. Não estou surpreendido com o que o Rui tem feito. Fico muito feliz pela evolução muito grande que ele teve. Isso deve-se ao conhecimento que tem do jogo», acrescentou.
António Caldas recuou duas décadas e recordou o Rui, jogador, sem esconder o carinho que sente por ele. «Ele tem uma enorme paixão pela qualidade de jogo. Como jogador era assim, gostava de mostrar a sua capacidade técnica. O Rui era evoluído tecnicamente e um bocado cagão (risos). Fazia de conta que metia o pé, por norma os jogadores com esse perfil não metem o pé como se deve. Mas ele era muito atento ao que se dizia, preocupava-se em aprender e melhorar. Hoje reconheço-lhe essas linhas no seu processo de crescimento», referiu.
Se Rui Borges já chegou ao topo do futebol nacional, José Pedro Pinto ainda procura o seu espaço na Liga. António Caldas reconhece qualidades ao sucessor (para já) de Bruno Pinheiro em Barcelos para ajudar o Gil Vicente.
«Fiquei muito contente pelo Zé. Se foi chamado para fazer estes jogos é porque lhe reconhecem qualidade. E ele tem qualidade. Pode ser extremamente útil para o Gil Vicente se lhe derem uma oportunidade. Não é um tiro no escuro, é uma aposta em alguém com qualidade, ambicioso e que está recheado de conteúdo», sustentou.
Com tantos elogios, o treinador prefere não escolher um vencedor para o jogo dos quartos de final da Taça. «Sinceramente gostava que ganhassem os dois, mas não é possível. Torço muito pelo êxito de ambos. É um jogo de tripla», concluiu.
Quem também coincidiu com ambos no SC Braga, foi Jorge Pires. O antigo goleador do Portimonense considera que José Pedro Pinto e Rui Borges têm várias semelhanças.
«Sim, são excelentes pessoas e ambiciosas. Já na altura dava para perceber. O mister José Pedro era muito exigente e acessível, queria sempre o melhor», atirou, em declarações ao nosso jornal.
O atual treinador do Sporting e o líder da equipa do Gil Vicente tinham uma relação normal, refere Pires.
«Tinham uma relação saudável entre jogador e treinador. O Rui Borges sempre foi pacato e ponderado, trabalhava no máximo. Na altura não imaginava que ele podia ser treinador, era muito novo [ndr: tinha 22 anos]», disse.
Reencontram-se duas décadas depois.