Francesco Farioli
Francesco Farioli - Foto: IMAGO

Qual foi o jogo de 1958 (que afinal foi em 1959) a que Farioli se referiu?

Treinador do FC Porto fez alusão ao caso Calabote para falar da polémica na Taça de Portugal

Francesco Farioli não se alongou muito sobre as polémicas de arbitragem que marcaram os oitavos de final da Taça de Portugal, mas ironizou ao comentar os 14 minutos que a equipa de arbitragem no Santa Clara-Sporting necessitou para assinalar penálti a favor dos leões, num lance em que, segundo o especialista de A BOLA Pedro Henriques, não houve motivo para assinalar a infração.

«Acho que a última vez em que o jogo ficou tanto tempo parado foi em 1958. Penso que a história se repete», disse Farioli, no que foi entendido como uma alusão ao caso Inocêncio Calabote, árbitro que marcou para sempre o campeonato na época 1958/59.

A polémica no Benfica-CUF que irradiou Calabote

Esse final de época foi de loucos, com FC Porto e Benfica a chegarem à última jornada, disputada a 22 de março de 1959, empatados em pontos, mas com vantagem para os dragões na diferença de golos. Em caso de vitória das duas equipas, o Benfica teria de ganhar por mais de seis golos de diferença para ser campeão.

As águias que receberam a CUF num encontro arbitrado por Inocêncio Calabote e, aos 83 minutos de jogo, o Benfica era campeão virtual, já que ganhava por 7-1, com três golos de penálti, e o FC Porto apenas vencia o Torreense por 1-0. Só que Noé e António Teixeira marcaram dois golos de rajada para os dragões e o encontro em Torres Vedras terminou com vitória azul e branca por 3-0, e consequente título para os nortenhos.

A polémica surge pelo facto de o encontro no Estádio da Luz ter terminado muito depois do jogo do FC Porto, devido a um atraso no início da partida que depois Inocêncio Calabote foi acusado de esconder. Assim o explicou na altura Coelho da Fonseca, presidente da Comissão de Arbitragem, citado numa crónica de António Simões no jornal A BOLA de 8 de setembro de 2023.

«Estive a assistir ao Belenenses-Sporting e fiquei a ouvir o que se passava no Benfica-CUF pelo Artur Agostinho, na Emissora Nacional. Ele ia dizendo que passavam dois... quatro... seis minutos. O jogo principiou cerca de 10 minutos depois da hora marcada e teve prolongamento de seis. Tanto o atraso como o prolongamento não constituiriam, em si mesmo, matéria de culpa. O erro do sr. Calabote consistiu, pois, em tentar convencer-nos contra as evidências dos factos de que principiara o encontro às 15 horas precisas e de que o prolongara por dois minutos apenas. É aqui, nesta atitude escudada e incompreensível, que deixa de merecer a confiança do público e da comissão.»

E por esse motivo, o árbitro acabou por ser irradiado da profissão.

O arbitro Inocêncio Calabote (à dir.) no Benfica-FC Porto (2-3) em janeiro de 1958, na Luz
O arbitro Inocêncio Calabote (à dir.) no Benfica-FC Porto (2-3) em janeiro de 1958, na Luz

«O Sr. Calabote não foi árbitro… nem nada!»

Pelo relato de Artur Agostinho também se soube que os benfiquistas reclamaram de um quarto penálti quando o jogo já estava 7-1. Lance que, para Calabote, não teve polémica, como explicou então a Cruz dos Santos para A BOLA.

«Não vejo razão para tanto espanto por ter assinalado três grandes penalidades. Não é a primeira, nem a segunda, nem a terceira vez que o mando fazer contar. Assinalei-as porque existiram, na verdade. Estava próximo e não tenho a menor dúvida sobre as irregularidades cometidas pelos jogadores da CUF. O mesmo não posso dizer da carga cometida pelo Durand: José Águas foi derrubado com efeito, mas só porque não saltou e o adversário foi obrigado a cair sobre ele na disputa da bola, com a cabeça.»

Já Cândido Tavares, treinador da CUF nessa tarde e antigo campeão pelo Benfica enquanto jogador, criticou ferozmente a atuação do juiz: «Só estranhei que o árbitro não tivesse arranjado uma quarta grande penalidade naquela carga do Durand sobre o Águas. O senhor Calabote não foi árbitro… nem nada!»