Luis Enrique na final da Champions frente ao Inter
Luis Enrique na final da Champions frente ao Inter - Foto: IMAGO

PSG: pela espera, pelo futebol de ataque, pelos portugueses e por Xana

Em que brilhante campeão europeu se transformou esta equipa parisiense

Num clube em que, desde a entrada do dinheiro árabe, as estrelas sempre brilharam mais do que os sistemas, o Paris Saint-Germain encontrou finalmente o equilíbrio entre o talento individual e o coletivo. E, hoje, não há sorriso mais bonito do que o dos adeptos parisienses. Bem, talvez haja, talvez o de Xana, onde quer que esteja!

Depois de deixar sair primeiro Messi e depois Neymar, faltava-lhe ainda abdicar de um dos mais monstruosos desequilibradores da atualidade, Kylian Mbappé, antes de entrar na sua fase de crisálida e de lá sair a mais bela borboleta do futebol atual.

Os parisienses, que já foram um clube odiado por terem seguido pelo caminho mais fácil, de certa forma vendendo a alma ao dinheiro diabólico que lhe foi chegando em contentores do Qatar, tornaram-se nos campeões do povo a partir do momento em que, sem estrelas, eliminaram o Liverpool e, mais tarde, o Arsenal, chegando à final de Munique diante de um Inter, que não sendo um Inter à antiga, à Helenio Herrera, ainda assim representa um pouco mais, pelo contraste, o futebol de contenção e defensivo. E isso acentuou mais o desejo que, desta vez, fosse o PSG a levar o caneco, ainda por cima o primeiro.

Esta temporada marca uma viragem importante na história do clube e muito desse mérito deve ser atribuído não só à inteligência tática como a toda a personalidade de Luís Enrique (que personagem e que treinador!; quem não viu ainda o documentário No Tenéis Ni P*** Idea, que aproveite para o ver agora) e à visão estrutural do português Luís Campos. Juntos, escreveram um novo capítulo para o PSG, menos centrado em nomes e mais focado em ideias, e que aos poucos foi ganhando contornos de glorioso.

Luís Enrique chegou a Paris com um currículo sólido e uma filosofia de jogo clara: posse de bola dominante, mobilidade ofensiva e uma identificação coletiva que não cede a egos. O que vimos, desde o início da temporada, foi uma equipa que deixou de depender exclusivamente de rasgos individuais e começou a construir vitórias com base em um futebol apoiado, estruturado e propositivo. E que o alia a um momento sem bola extremamente organizado e muito difícil de ultrapassar.

O espanhol não só impôs a sua identidade, como também soube ir construindo o puzzle do seu plantel, que tem um único ponta de lança e passa muito tempo no banco (Gonçalo Ramos) para que Ousmane Dembélé possa ser um dos falsos 9 mais improváveis de sempre, de tanto que gostava de carregar no 1x1 a partir dos flancos.

Por sua vez, Luís Campos, o silencioso arquiteto do projeto, tem sido decisivo na reconfiguração do grupo de trabalho. A sua abordagem cirúrgica no mercado revelou-se fundamental: menos estrelas mediáticas, mais jogadores moldáveis à ideia de jogo. O português mostrou uma capacidade rara de identificar talentos subvalorizados e encaixá-los num contexto que favorece o seu crescimento. A aposta na juventude, aliada à manutenção de uma espinha dorsal experiente, deu frutos.

A equipa jogou melhor, sofreu menos e, acima de tudo, mostrou sinais de estabilidade, algo que faltava há anos num clube habituado ao ruído e à turbulência. Tornou-se um PSG mais maduro apesar de pontuado por juventude, menos dependente de figuras messiânicas e mais comprometido com uma ideia de jogo.

Vitinha, João Neves e Nuno Mendes foram fundamentais no sucesso ao longo de toda a época, e também Ramos tem um papel importante, mostrando a Enrique que podia contar com ele sempre que precisasse. Os portugueses, amigos, não só foram essenciais, como deram muito brilho a este PSG.

O primeiro ditou sempre o ritmo, acelerou-o quando era preciso, baixou-o quando era exigido. O passe que abriu a final para o primeiro golo é espantoso. Incansável, o segundo joga com uma simplicidade e maturidade exemplares, que fazem com que pareça que não comete erros. E o terceiro, naquele vaivém constante, acrescenta à equipa tanto quanto um dos grandes laterais da atualidade pode acrescentar. Os três foram fantásticos. E o quarto, pelo que entrega sempre, mereceu desfrutar dez minutos do momento mais alto da sua carreira.

Foi quando o PSG, sob esta nova liderança, parecia finalmente libertar-se da obsessão pela Liga dos Campeões como única medida de sucesso que acabou mesmo por conquistá-la. E de que forma! Com uma goleada ao Inter! Por 5-0! Um assombro, que deixa sombra de dúvida sobre o tipo de campeão que são.

Palmas para o que Luís Enrique e Luís Campos construíram na Cidade-Luz. Simplesmente mágico!

E que mais dizer do treinador, o homem que não gosta de jornalistas, porque «não têm mesmo qualquer noção» (mas que não nos impede de gostarmos dele)?

Deixemo-nos simplesmente imaginar a sua filha Xana a dançar à sua frente, agora em Munique, como o fez há uns anos quando pai se sagrou campeão europeu pelo Barcelona, em Berlim.

Ele, tenho a certeza, que depois dos saltos e, no meio da festa, consegue imaginá-lo.