Samu abriu assim o marcador em Tondela (Foto: Rogério Ferreira/Kapta+
Samu abriu assim o marcador em Tondela (Foto: Rogério Ferreira/Kapta+

Preparem o saca-rolhas, mas deixem o champanhe no frigorífico (crónica)

Vantagem do FC Porto saltou para cinco (Sporting) e oito pontos (Benfica), pelo que o horizonte é mesmo azul e branco. Este é o segundo FC Porto mais eficaz da história (melhor só o de 1939/1940) e, por isso, os dragões já começam a sentir água na boca. Porém, lembrem-se do que aconteceu em 2000/2001

Ninguém abre garrafas de champanhe em dezembro. É verdade. Mas pode-se sempre colocar a garrafa no frigorífico, preparar o saca-rolhas e limpar os copos. É o caso do FC Porto de Francesco Farioli. Ganhou relativamente fácil em Tondela, aumentou para cinco os pontos de vantagem sobre o Sporting e para oito a diferença para o Benfica.

Os últimos resultados do FC Porto podem não encantar os mais exigentes adeptos do FC Porto (0-0, 2-1, 2-1, 1-0, 1-0, 2-0), mas a verdade é que as contas dos últimos seis jogos são fáceis de fazer: 16 pontos em 18 possíveis. A prática azul e branca diz sempre o mesmo: o FC Porto joga muito bem e ganha; joga bem e ganha; joga assim-assim e ganha; joga mal e ganha. É o mais importante.

A vantagem é muito interessante, claro, mas há 25 anos os dragões lideravam a Liga à 13.ª jornada com cinco pontos de avanço sobre o Boavista de Jaime Pacheco, então terceiro classificado (o SC Braga era segundo, a quatro), mas não foram campeões. O champanhe deve, portanto, continuar no frigorífico, apesar de o palato já começar a sentir a água a aparecer.

Pior ataque contra a melhor defesa

Dificilmente haveria jogo mais fácil para o FC Porto — ou menos complicado, como gostam de dizer os puristas do futebol — do que este em Tondela. A equipa liderada por Cristiano Bacci tinha (e continua a ter) o pior ataque da Liga, com apenas sete golos marcados, e em casa apenas dois, ambos frente ao Estoril.

O FC Porto tinha (e continua a ter) a melhor defesa da prova, com apenas três golos sofridos. O mais natural, assim, seria que o resultado final fosse qualquer coisa a zero. Com triunfo portista, claro, e Diogo Costa a ter uma noite tranquila. Apesar dos jogos nada conseguidos pelo FC Porto frente Estoril e V. Guimarães.

Galeria de imagens 12 Fotos

Farioli regressou, como se esperava, ao onze pré-V. Guimarães. Só Alan Varela continuou como titular relativamente ao jogo da Taça da Liga. O Tondela apresentava um 4x2x3x1 clássico, com Hugo Félix a aparecer muitas vezes como uma espécie de falso 9, entre Maranhão e Ouattara. Foram poucas as oportunidades de golo e ainda menos as jogadas de verdadeiro perigo.

Bernardo em grande...

Bernardo, o guarda-redes tondelense, teve três intervenções muito boas (5’, 13’ e 30’), enquanto Diogo Costa, tal como se esperava, esteve poucas vezes em perigo. Aliás, nenhuma. Só aos 11’, num desvio de cabeça de Pefok, denunciado e com pouca força, se notou que o capitão portista estava mesmo em campo.

Só no último quarto de hora de jogo, por entre muita circulação de bola e escassa intensidade, o jogo aqueceu. Após Samu ganhar uma bola à saída da área tondelense, ela passou por Froholdt e foi para o coração da área, onde apareceu, de repente, no pé direito de Rodrigo Mora, que marcou. Aparentemente com Tiago Manso a colocá-lo em jogo. Era, porém, apenas aparência, pois, após ajuda do VAR, percebeu-se que o jovem e talentoso dragão estava 25 centímetros fora de jogo. E tudo voltou, assim, à estaca zero. Ou duplo zero: 0-0.

Mais tarde, já em período de compensação, foi a vez do Tondela marcar, por intermédio de Bryan Medina. Aqui, no entanto, não foi preciso intervenção do VAR. Viu-se logo que Medina cometera falta sobre Froholdt. E o 0-0 manteve-se até ao intervalo, sendo apenas a segunda vez que o FC Porto, em jogos em Portugal (Liga e taças), chegava ao intervalo sem qualquer golo marcado. A outra fora, obviamente, no 0-0 com o Benfica, no Dragão.

...Bernardo em pequeno

Conseguiria o Tondela igualar o que só o Benfica, em Portugal, até então fizera, finalizando o jogo sem golos sofridos? Cedo se viu que não. Aos 48', num canto do lado direito do ataque portista, Rodrigo Mora colocou a bola na cabeça de Kiwior, que desviou para a baliza. Bernardo, no chão, evitou o golo, mas apareceu o rapidíssimo Samu a encostar e a fazer o primeiro golo. Ainda os portistas festejavam o golo, quando dois minutos depois surgiu o segundo. Christian Marques atrasou a bola para o seu guarda-redes, este atrapalhou-se, perdeu-a para William Gomes e este, isolado frente à baliza, fez o 2-0.

O jogo estava, aparentemente, resolvido. E, ver-se-ia até final do jogo, quase terminaram no 2-0 de William Gomes os motivos de verdadeiro interesse. O FC Porto continuou a ter mais bola, mais ataques, menos ações defensivas, mas nada de perigoso surgiu de ambas as equipas, a não ser um chapéu longínquo de Hugo Félix que saiu ao lado, um remate de Samu rente ao poste direito e outro de Borja Sainz com a mesma direção.

Confirmaram-se, assim, as principais tendências: a melhor defesa da Liga não sofreu golos do pior ataque da Liga; o líder aumentou a vantagem para leões e águias na sequência do 1-1 na Luz; Tondela sem ganhar em casa depois de dois empates (0-0 com Estrela da Amadora e 2-2 com Estoril) e três derrotas (0-3 com Sporting e 0-1 com V. Guimarães e Famalicão); FC Porto sem perder pontos fora de casa desde a derrota no terreno do Estrela da Amadora na época passada (1-2 na jornada 31 de 26 de abril deste ano).

Liderança confirmada, vantagem aumentada, mas, pelo sim, pelo não, como sugere Farioli, o melhor mesmo é o champanhe continuar no frigorífico por mais quatro ou cinco meses. Este é o segundo FC Porto mais eficaz da história (melhor só o de 1939/1940, com 13 vitórias nos primeiros 13 jogos) e, por isso, os dragões já começam a sentir água na boca.