João José assumiu o cargo de Selecionador Nacional há mais de três anos, em 2022, depois de uma vasta carreira como atleta da modalidade (Catarina Morais/Kapta+)
João José assumiu o cargo de Selecionador Nacional há mais de três anos, em 2022, depois de uma vasta carreira como atleta da modalidade (Catarina Morais/Kapta+)

Portugal parte com ambição para o Mundial: «Queremos passar à fase seguinte»

João José, Selecionador Nacional, traça a meta lusa para a prova que vai ter lugar nas Filipinas e destaca a A BOLA a ambição da equipa num grupo com dois tubarões: Cuba e EUA. E atenção à estreante Colômbia...

Está aí ao virar da esquina o Mundial de voleibol masculino, com participação lusa. João José, Selecionador Nacional, perspetivou a A BOLA o torneio que decorrerá entre 12 e 28 de setembro nas Filipinas, naquela que será a terceira presença de Portugal em Mundiais (além de 1956 e 2002). A comitiva partiu ontem de manhã para a Roménia, onde já se encontra, e vai realizar um estágio de preparação até segunda-feira, dia em que tem voo marcado para as Filipinas.

— Como tem corrido a preparação para o Mundial?

— A preparação está a correr dentro daquilo que tínhamos planeado. Estamos a aumentar o volume e a carga de trabalho. Já fizemos alguns jogos de treino e vamos iniciar um novo ciclo de preparação na Roménia.

— Tendo menos tempo para treinar do que os clubes, que pontos têm trabalhado nos últimos dias?

­— Conhecemos o trabalho que os clubes fazem, o volume que dão e as preocupações que têm. Trabalhamos em função daquilo que precisamos, temos necessidades diferentes porque as equipas que encontramos colocam problemas diferentes. Vamos à procura de introduzir no trabalho coisas que os clubes não apresentam tanto.

Selecionador fala do crescimento do voleibol (Foto: Catarina Morais/Kapta+)

— Qual é o objetivo que o grupo traçou para a prova?

­— Queremos passar à fase seguinte. Percebemos que não somos favoritos, mas ambicionamos ser competitivos. Os favoritos, em termos teóricos, são claramente a Cuba e os Estados Unidos, até porque são sempre dois candidatos a medalhas, não só nesta modalidade, e só passam dois. Temos a Colômbia, que, apesar de não falarmos muito nela, também é uma equipa com valor e que está no Mundial por mérito. foram bronze no campeonato sul-americano. Isso faz com que também seja uma obstáculo difícil de ultrapassar. A equipa está extremamente motivada e queremos muito passar à fase seguinte, mas são as dificuldades que vamos encontrar.

— Há vários jogadores que atuam no campeonato português na convocatória, também alguns que jogam em ligas estrangeiras. Quais que foram os critérios determinantes para a seleção final?

­— Nós procuramos aqueles que vão ao encontro da nossa forma de jogar e da mentalidade que queremos. O perfil de atleta que procuramos tem de ter essa mentalidade, essa abordagem ao jogo que pretendemos. E depois tem de ter uma capacidade física também. A nossa modalidade é de capacidade física, de altura, de explosividade. Os atletas têm de ter essas características físicas para poderem entrar e jogarem ao longo do tempo. Ou seja, não pode ser só passageiro, é algo que têm de conseguir repetir ao longo do tempo.

— Como tem sentido o estado de espírito do grupo nestes dias?

— Eles estão motivados, um pouco carregados. Treinar é um bocadinho levar porrada todos os dias, não é? Ninguém gosta de levar porrada. Mas, dentro dos dias menos bons, em que estão mais cansados e um pouco menos motivados, por diversas razões, eles olham também para aquilo que é o Mundial, passar à fase seguinte, e têm conseguido manter-se sempre com bons níveis para treinar e trabalhar.

— Que importância é que um bom desempenho da seleção pode ter para o crescimento do voleibol em Portugal?

— É determinante. Uma boa participação traz sempre fatores positivos, traz sempre mais atenção mediática à modalidade, o falar nos atletas, cria uma imagem à volta da Seleção e é sempre positivo para a modalidade. Não só esses bons resultados enquanto Seleção, mas também enquanto clubes. Os próprios clubes têm bons resultados, não só no campeonato nacional, mas também nas competições internacionais. Acabam por trazer uma boa imagem para a modalidade e fala-se mais dela.

João José em entrevista exclusiva a A BOLA (Catarina Morais/Kapta+)

— É também importante para cativar mais jovens para as gerações futuras?

— Acho que isso já é uma outra discussão. Ou seja, eu acho que sim, o falar na modalidade, claro que traz mais jovens, mas não estou de acordo que esse seja o principal fator, ou um fator determinante.

— Que fatores considera importantes para chamar mais jovens?

— Eu acho que a modalidade tem de ser atrativa, os clubes têm de ser atrativos, a Seleção tem de ser atrativa. E isso não vai lá só com os resultados, vai com uma série de outras coisas. Os jovens de hoje em dia têm distrações completamente diferentes daquilo que existia há 20 ou 30 anos. Eu acho que nós temos de adaptar-nos e os clubes e as Seleções não podem ser atrativas só pelos resultados que apresentam. Também têm de os apresentar, mas também existe uma série de outros fatores.

O que mudou em 23 anos?
Há 23 anos, João José fez parte da Seleção que alcançou o 8.º lugar no Mundial da Argentina. Desde 2002, o voleibol nacional mudou, frisa: «Não é uma questão fácil de responder. E passa muito pelas gerações serem completamente diferentes. Não que esta seja melhor ou pior que a anterior. As gerações mais velhas resolviam certos problemas de uma determinada forma porque tinham tido vivências diferentes. As gerações mais jovens têm outros problemas e resolvem-nos de formas diferentes, o que faz com que a abordagem e o perfil do atleta se tenha tornado diferente. O voleibol continua a ser bem disputado, a ter atletas de excelência, mas em termos de perfil, evoluiu. Tornou-se diferente.»

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