Adeptos no Estádio D. Afonso Henriques. FOTO A BOLA/VÍTOR GARCEZ
Adeptos no Estádio D. Afonso Henriques. FOTO A BOLA/VÍTOR GARCEZ

Pedir desculpa

Sentido de Pertença é uma crónica quinzenal

Na época 2015/16, o sorteio colocou no caminho do Vitória o clube austríaco SCR Altach, era nosso treinador Armando Evangelista. Após termos perdido 2-1 na 1ª mão, em Altach, na antevisão do jogo em Guimarães o treinador do Vitória declarou ter a certeza que seríamos apurados para o play-off da Liga Europa. Em casa, perdemos 1-4. Armando Evangelista saiu.

Em Celj, na conferência de antevisão à eliminatória, Moreno declarou triunfalmente que “Nós somos o Vitória”. Frase tonitruante que visa apelar ao peso dos 100 jogos que o Vitória tem nas competições europeias em 100 anos de História. No entanto, aquilo que se apresentou nos dois jogos foi o contrário do que estas frases visam significar. E o Vitória acabou eliminado às mãos de uma equipa notoriamente inferior, que ocupa a posição 251º do ranking da UEFA.

Treinador e vários jogadores do Vitória assumiram como grande objetivo da época atingir a fase de grupos da Liga Conferência. Foi afinal para isto que andámos uma época inteira a lutar pelos lugares europeus. Não se trata apenas de não o ter atingido, trata-se de termos caído logo na primeira das três eliminatórias que tínhamos que passar para o poder conseguir. O falhanço é brutal. E tem que ser assumido. Para podermos seguir em frente de cabeça levantada.

O bom-senso dos vitorianos sempre compreenderia o não cumprimento destes objetivos acaso nos saísse em sorte uma equipa mais forte no play-off, da mesma forma que não pode aceitar esse não cumprimento ante um adversário como o NK Celj. Perante o qual o Vitória se apresentou com uma linha de 5 defesas até aos 20mn da 2ª parte. A jogar na expectativa de que o adversário se adiantasse no terreno. Tal como na 1ª mão em que logo após marcarmos o 1-2 recuamos até ao ponto de voltarmos a sofrer o empate. Um filme repetido, já visto muitas vezes a época passada, basta apanharmo-nos a ganhar por um para ativar o catenaccio; e acabamos a perder com isso. A equipa técnica confessa-o. O adjunto João Aroso ao dizer que “o pecado decisivo foi sofrer o terceiro golo na Eslovénia”, ou seja, em casa fizemos tudo bem, só não correu porque só trazíamos um golo de vantagem… e Moreno com a inacreditável frase de que “faltou descansar mais com bola”.

Em que medida é esta postura em campo minimamente coerente com as ambições manifestadas e com as declarações prestadas por quem nos representa? Representa antes um misto de falta de noção com falta de humildade; ambas intoleráveis.

Esta é altura de apresentar alguma humildade. De nos deixarmos de frases feitas manifestadoras de triunfalismo serôdio. E de sabermos pedir desculpa.

Pedir desculpa ao país, pela imagem e contributo negativo que demos para a pontuação de Portugal. Pedir desculpa aos quase 20.000 vitorianos (18.639) que em pleno agosto e com meia cidade em férias demonstraram o seu apoio, o seu querer e o seu fervor. Pedir desculpa até aos dirigentes que cumprem com os atletas e que, consensualmente, apresentaram para esta época uma equipa com contratações que nos pareceram bastantes para mantermos o nível que se nos exige. Pedir desculpa aos nossos sócios, trabalhadores, pessoas que com muitas dificuldades e constrangimentos no seu dia a dia desembolsam centenas de euros para pagar as quotas e lugares anuais, seus e das suas famílias.

Já chega disto! Já chega de vencer no campeonato das bancadas e perder no que se disputa no relvado. Já chega da conversa do “Somos Únicos” de confrontação da nossa dimensão humana com a dos nossos adversários – onde de facto somos notáveis – se ela não servir para ser minimamente acompanhada por quem nos representa. E pedir isto, não é pedir muito. É pedir cultura de clube. É pedir uma coerência mínima entre a forma como os adeptos vivem este clube e a forma como a equipa o representa. É passar do endeusamento para a exigência. Sabemos que o que temos não é bastante para disputar campeonatos; temos uma exigência consciente. Mas temos que esperar mais. Não em resultados. Mas em determinação. Em querer. Em coerência discursiva. E sobretudo, em humildade.