Os adeptos portugueses 'arbitrofóbicos' serão uma maioria? Se calhar sim
Uma dissertação de mestrado ou tese de doutoramento (o tempo de reflexão e estudo conta mais do que queremos acreditar) daria melhor categorização, mas arriscamos dividir os adeptos de clube em três tipos: os moderados, os sofredores e os fanáticos. Esqueçamos, para este efeito, os que «não ligam muito», os que não se aborrecem com derrotas, os que não sentem vitórias. Esses não são adeptos de futebol, são curiosos que, no limite, conseguem vibrar com a Seleção Nacional numa fase final de Mundial ou Europeu.
Os adeptos moderados (de clube, repito, embora acredite pouco em adeptos sem clube) veem jogos com interesse, entusiasmam-se, discutem os lances, mas quando soa o apito final a bola deles segue para a frente, sem dores de maior.
Os sofredores (serão os mais comuns?)... sofrem. Sofrem durante o jogo todo, a não ser quando estão a ganhar por quatro a meio da segunda parte, e no final respiram de alívio, se o resultado é positivo, ou continuam a sofrer mais umas horas, ou dias, se é negativo. Muitas vezes sofrem em silêncio e sob anonimato. Mas conseguem conversar sobre o tema e até, imagine-se, dar méritos aos adversários se assim se justificar.
Depois há os fanáticos, que para felicidade do ser humano comum e da própria sociedade deveriam ser minoritários. Há enormes dúvidas sobre isso, mas também há o pormenor de gritarem mais alto, fazerem mais barulho e causarem maiores problemas, o que pode fazer o conjunto parecer maior do que na realidade é.
Dentro dos fanáticos, há um curioso caso de estudo, que são os arbitrofóbicos, palavra inventada agora mesmo.
A arbitrofobia caracteriza-se por nunca se conseguir olhar para um jogo sem olhar para as decisões dos árbitros.
Quando se perde ou se empata a culpa é inevitavelmente do árbitro, assim como sucede sempre que um dos rivais, ou ambos, conseguem vencer.
Quando se ganha, ganha-se apesar dos erros dos árbitros. «Eles, malvados, bem tentaram, mas nós marcámos mais golos.»
No mundo da arbitrofobia, o árbitro é sempre adepto de um clube adversário. E erra sempre de propósito. Quando por acaso até é público que é adepto do nosso clube, então age com excesso de zelo para não dizerem que nos beneficia.
Às vezes os arbitrofóbicos precipitam-se e, no final, o resultado nem sequer corresponde à conspiração que só os tolos não arbitrofóbicos ignoravam existir.